sábado, 24 de abril de 2010

Em um ano, crescem denúncias contra policiais de São Paulo

Em um ano, crescem denúncias contra policiais de São Paulo

Entre 2008 e 2009, número de queixas subiu 12,5%.

Ouvidoria diz que denúncias foram de homicídio e tortura, entre outras.

Do G1 SP
Em 2009, a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo recebeu mais de 4,5 mil queixas dos cidadãos contra policiais, 12,5% acima do registrado em 2008. No ano retrasado, o total de reclamações ficou pouco acima de 4 mil.
Os dados constam de um relatório divulgado pela Ouvidoria. Nele, são relatadas as denúncias de ameaça, tortura, abuso de autoridade e homicídio contra os policiais. "Ele age como se fosse dono da sociedade e é ao contrário. Se a sociedade paga o policial, esse policial precisa respeitar o cidadão", afirma o ouvidor da polícia, Luiz Gonzaga Dantas.
As denúncias de homicídios subiram de 296 para 320 em 2009. Já os casos de tortura sofreram aumento de 13 para 15. Nos dois anos, a maioria das acusações foi registrada contra policiais militares.
Em reuniões com representantes dos direitos humanos, o papel e a ação da polícia são temas de debate, e dados sobre a violência policial como esses servem de base para discutir a segurança pública. "Toda a sociedade tem o papel de colaborar nesse enfrentamento a qualquer forma de violência, seja a violência dos criminosos ou seja a violência dos agentes da lei, que são aqueles que devem proteger a sociedade", diz Ariel de Castro, representante do Conselho Estadual dos Direitos Humanos.

Fernando Matos

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CNJ cria grupo para cuidar de conflitos fundiários

CNJ cria grupo para cuidar de conflitos fundiários

23 de abril de 2010 | 11h 23

 

AE - Agência Estado

Foi oficialmente constituído no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) um grupo de trabalho para a avaliação e prevenção de conflitos fundiários. Formado por quatro juízes o grupo irá se dedicar inicialmente à análise dos conflitos nos Estados de Pernambuco e Pará. A portaria que constituiu o grupo foi assinada na terça-feira pelo presidente da entidade, ministro Gilmar Mendes. Foi um de seus últimos atos no cargo - que passa a ser ocupado a partir de hoje pelo ministro Cezar Peluso.

De acordo com Gilmar Mendes, uma das preocupações do grupo é assegurar o direito de propriedade, previsto na Constituição. Os juízes também irão analisar a condução dos processos de reforma agrária. Pernambuco figura com destaque entre os Estados com maior número de invasões de propriedades rurais no País. O Pará, por sua vez, é o que registra a maior incidência de casos de violência decorrentes de disputas pela posse da terra.

O grupo é constituído pelos juízes auxiliares Marcelo Martins Berthe e Ricardo Cunha Chimenti, que já fazem parte do Fórum de Assuntos Fundiários do CNJ. Os outros dois integrantes são José Henrique Coelho Dias da Silva, de Pernambuco, e Kátia Parente Sena, do Pará. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Fernando Matos

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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Monitoramento de preso pode ser alternativa a prisão

Custo da liberdade

Monitoramento de preso pode ser alternativa a prisão

Fugas de presos já foram contadas de diversas formas no cinema. Os relatos futuristas são os que mais excitam o público. No filme A Fortaleza, os detentos eram obrigados a engolir um pequeno dispositivo eletrônico que controlava até seus pensamentos. Mas, o que era mera ficção virou realidade. Em países desenvolvidos, o monitoramento eletrônico é praxe. Em outros, o sistema ainda é experimental. A proposta é que a tecnologia permite penas mais humanas, baratas e seguras.

Mas o tema ainda gera muitas polêmicas. Especialistas ouvidos pela ConJur afirmam que a criação de penas alternativas mostra uma mudança de cultura, mas o monitoramento ainda não prevê o esvaziamento das cadeias e penitenciárias. É apenas um mecanismo de controle dos que foram beneficiados com o regime semiaberto de detenção, ou daqueles que são agraciados com indultos em datas comemorativas, como Natal, Páscoa e Dia da Mães. 

Nos Estados Unidos, por exemplo, o usuário de drogas, se pego, cumpre pena na prisão. Isso explica mais da metade dos 2,5 milhões de presidiários no país. Devido ao alto custo e à baixa efetividade na redução do consumo e do tráfico de drogas, as autoridades estudam medidas para substituir a pena restritiva de liberdade.

O recurso eletrônico já está em uso mas prisões norteamericanas. Quando foram presos em Miami, os bispos Estevam e Sonia Hernandes, fundadores da Igreja Renascer em Cristo, cumpriram parte da pena em sua casa, na Flórida. Eles foram monitorados com chips durante o período em que foram proibidos de deixar o país.

Ao explicar o procedimento em encontro no Ministério da Justiça, um especialista norteamericano afirmou que o sistema é interligado com órgãos de inteligência, de forma a oferecer total controle do cidadão. 

Por mais facilidade que ofereça ao Estado, o recurso está longe de ser unanimidade. "O Big Brother Penitenciário", como é chamado pelo defensor público e corregedor-geral da Defensoria Pública de São Paulo Carlos Weis, tem aspectos práticos que não foram observados pelos propositores dos projetos de lei no Brasil. Segundo ele, apesar de ser anunciado como uma pulseira que parece um relógio, o aparelho não deixa de ser uma marca que diz de onde o cidadão vem. "Se levarmos em conta essa sede de Justiça, o preso pode ser até linchado na rua", afirma.

Para Weis, a tecnologia seduziu administradores, que não pesaram as consequências. Ele lembra que muitos egressos do sistema penitenciário não têm sequer roupas para cobrir o dispositivo.

"Mesmo que a pessoa ocultasse o equipamento em suas roupas, em várias situações ficaria inevitavelmente exposta publicamente, como na hipótese de ingressar numa agência bancária e parar na porta detectora de metais, ou ao passar por exame de saúde para admissão no emprego. O constrangimento e a humilhação serão inevitáveis", avisa.

Projeto equivocado
Especialistas brasileiros afirmam que, se aplicado por aqui, o mecanismo não poderia ser usado em larga escala, já que seria necessário que os monitorados fossem observados por técnicos. Por outro lado, o estímulo pode ser convincente. No Brasil, um preso pode custar até R$ 1,6 mil mensais para o Estado. Com o uso do dispositivo, sairia por apenas R$ 400. O custo não inclui o gasto com pessoal necessário no monitoramento.

Tramita no Senado um projeto de lei que pretende obrigar todos os presos do semiaberto e beneficiados com saída temporária a usar pulseiras e tornozeleiras eletrônicas. O Substitutivo da Câmara dos Deputados 175/2007, de autoria do senador Magno Malta, compila projetos com o mesmo tema.

De acordo com a defensora pública coordenadora do Núcleo de Situação Carcerária, Carmem Silvia de Moraes Barros, o PL "não inova, é equivocado e feito para dar errado". Carmem explica que o monitoramento deve ser pensado como uma alternativa à pena restritiva de liberdade, e não apenas para maior controle dos presos. "Não muda a superlotação dos presídios", critica.

"Na Suécia, onde os presos são monitorados há bastante tempo, nunca houve monitoramento total", lembra a defensora. Ela reconhece que os presos prefeririam usar o dispositivo a estar dentro da cadeia, mas diz que outros aspectos precisam de atenção. "Se acontecer um crime em local próximo de onde estiver o detido, certamente ele será considerado culpado, mas essa não pode ser a principal prova", assevera.

Ela conta que já houve ocasiões em que os alarmes dispararam erroneamente, e que não foi fácil esconder o dispositivo. "É preciso que haja uma evolução da tecnologia empregada, para que não ofenda a dignidade humana."

Melhorar o sistema
Para a procuradora Claudia Maria de Freitas Chagas, conselheira do Conselho Nacional do Ministério Público, embora o monitoramento vise auxiliar o sistema como um todo, não corrigirá todos os problemas. "No caso do semiaberto, pode ser útil", diz.

Segundo ela, o ideal seria a criação de mais vagas de trabalho para presos, aumento da quantidade de agentes, e o desenvolvimento de projetos de reinserção social. "Não é o monitoramento que soluciona os problemas", diz. Ela afirma que o sistema não pode abrir mão do controle. "O Brasil tem o maior índice de reincidência do mundo."

Segundo o diretor do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Airton Michels, o maior número de fugas acontece na saída temporária, e é justamente nesse momento que autoridades querem ter controle desses presos. "Vigiar é mais uma providência", observa.

O custo também pode ser proibitivo, segundo a procuradora. "Pelo que vi, o projeto não é barato como dizem. O monitoramento é um projeto de poucos fornecedores e grandes interesses", pondera.

Michels conta que, nos próximos dias, técnicos e juristas irão a Portugal para conhecer o sistema de monitoramento eletrônico utilizado lá. "O Depen está estudando qual a melhor forma de implantar no Brasil", diz. Ele afirma que a procura por formas alternativas de controlar condenados é uma tendência mundial. "A sociedade não quer mais a prisão para todos os casos." O diretor explica que, na América latina, Colômbia e Argentina já utilizam o sistema.

Para ele, a utilidade dos dispositivos vai além do controle de presos em regime beneficiado, sendo uma possível solução alternativa às prisões. "A pulseira poderia ser uma alternativa à prisão para crimes de menor gravidade e potencial ofensivo", sugere.

 

Fernando Matos
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População carcerária dobra em nove anos

População carcerária dobra em nove anos

Crescimento é puxado pelo número de presos ainda não julgados, 44% do total

Ao assumir o Conselho Nacional de Justiça em 2008, Gilmar Mendes disse que sua principal meta seria reduzir o nº de temporários

AFONSO BENITES

ROGÉRIO PAGNAN

DA REPORTAGEM LOCAL

A população carcerária do país dobrou nos últimos nove anos. O aumento foi impulsionado pelo crescimento do número de presos provisórios, que aguardam julgamento.

Eles já representam 44% dos 473 mil detentos do país.

Os dados são do Departamento Penitenciário Nacional e do Conselho Nacional de Justiça e expõem as cenas tão frequentemente divulgadas: prisões e delegacias superlotadas.

Para comparação, no mesmo período analisado, a população brasileira cresceu 11,8%.

Ao assumir a presidência do CNJ, em março de 2008, o ministro Gilmar Mendes elencou como principal meta reduzir a quantidade de presos provisórios. Instituiu, então, os mutirões carcerários, que já analisaram 118 mil processos judiciais em 21 Estados da federação.

O número de presos provisórios, no entanto, só cresceu: alta de 6% entre 2008 e 2009.

O desempregado Lázaro, 40, é um dos que sofrem com a prisão provisória. Acusado de homicídio, ficou preso por sete anos em Jequié (BA) sem ser julgado. Solto por um juiz, viajou com a família até São Paulo, onde conseguiu um emprego.

Quando tentava tirar a segunda via de seus documentos, num Poupa-tempo, voltou a ser preso, em junho de 2009, pois não tinha autorização para deixar a Bahia. Sem ser julgado, voltou para a prisão, dessa vez está na cidade de Ipiaú (BA).

"Nesse indicador, não estamos melhorando, infelizmente", diz o coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do CNJ, o juiz Erivaldo Ribeiro dos Santos.

O ritmo de construção de novos presídios não acompanha o aumento do número de prisões. Até dezembro do ano passado, havia três vezes mais presos do que vagas em presídios.

Para advogados e defensores públicos, o aumento da população carcerária está ligada à banalização da prisão provisória.

"Tem gente cumprindo pena antecipadamente", diz o vice-presidente do Conselho Penitenciário de SP, Matheus Cury.

Atuando há três anos no Departamento de Inquéritos Policiais da Barra Funda, zona oeste de SP, a defensora pública Daniela Skromov de Albuquerque analisa diariamente cerca de 20 casos de prisões em flagrante. A prisão provisória, diz, deveria ser exceção, não regra.

Professor de direito criminal da PUC de Minas Gerais, Leonardo Isaac Yarochewsky diz que muitas das prisões ocorrem por erro dos juízes. "Muitas vezes, o magistrado determina uma prisão apenas pela ordem pública, mesmo sem provas contra o suspeito. Se depois fosse comprovada a inocência desse acusado, o juiz poderia ser responsabilizado."

Paulo Dimas, da Associação Paulista dos Magistrados, diz que o aumento da massa carcerária ocorre pela pressão popular para que seja reduzida a violência. "Não é soltando preso que vai resolver a questão."

CNJ monitorará preso provisório, diz coordenador

DA REPORTAGEM LOCAL

O juiz Erivaldo Ribeiro dos Santos, coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário do CNJ, diz estar otimista quanto ao futuro. Segundo ele, o CNJ passará a monitorar ações que envolvem presos provisórios. Pela proposta, quando alguém estiver há mais de três meses preso sem julgamento, um aviso será enviado ao conselho que pedirá explicações "por que o processo está paralisado".


Fernando Matos

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quinta-feira, 8 de abril de 2010

Índios fazem protestos contra Belo Monte

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Semana de manifestações começa amanhã com a denúncia de violação dos direitos humanos durante o licenciamento da usina hidrelétrica

06 de abril de 2010 | 0h 00


Fátima Lessa - O Estado de S.Paulo

ESPECIAL PARA O ESTADO / CUIABÁ



A partir de quarta-feira, diversas manifestações deverão ocorrer em Brasília contra a construção da Hidrelétrica Belo Monte. Os protestos marcados para ontem foram cancelados pelas lideranças indígenas do
Parque do Xingu com o objetivo de "fortalecer" as outras manifestações,
segundo o cacique Caiapó Megaron Txcurramãe.

Ontem, no Posto da Funai em Colíder, Megaron e seu tio Raoni preparavam uma grande mobilização, com data a ser confirmada, para a região do Rio Xingu depois das manifestações em Brasília e antes do
leilão da usina, marcado para o dia 20.


Uma das primeiras atividades desta semana será na quarta-feira, quando será lançado o relatório "Missão Xingu: impactos socioambientais e violação dos direitos humanos no licenciamento da Hidrelétrica de
Belo Monte", dos relatores da Plataforma Brasileira de Direitos
Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (Dhesca), a
professora Marijane Lisboa (PUC/SP) e o advogado Guilherme Zagallo.


Segundo o advogado, "até agora, foram constatadas 13 violações graves dos direitos humanos no processo da usina". O documento sintetiza as denúncias de ambientalistas e lideranças indígenas.


O advogado disse que, "apesar das mudanças no projeto inicial, o projeto atual da Usina de Belo Monte contém graves falhas e impactos irreversíveis sobre a população que vive às margens do Rio Xingu".


Segundo Zagallo, entre as violações mais graves está a do direito constitucional de consulta prévia, tendo em vista que os 24 grupos étnicos da Bacia do Xingu não foram ouvidos durante o licenciamento. As
oitivas indígenas são, segundo o advogado, obrigatórias por legislação
brasileira e pela Convenção 169 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT), ratificada pelo Brasil em 2002.


O relatório recomenda a suspensão imediata do leilão da usina e a anulação da Licença Prévia do projeto.

As violações serão denunciadas na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, na quarta-feira, às 14 horas, com a participação de cinco ministros. Na quinta-feira, a Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB) faz um debate sobre Belo Monte.


Até o dia 12, o Movimentos do Atingidos por Barragens (MAB) programou diversas manifestações que, segundo o cacique Megaron, deverão reunir em Brasília lideranças indígenas que vivem no Parque do
Xingu, ribeirinhos e atingidos por barragens.


No dia 1.º de abril, o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, que reúne mais de 150 organizações, entregou às Nações Unidas denúncias de que falhas no processo de licenciamento estariam sendo ignoradas pelo
governo brasileiro. O Movimento cita, no documento, as ameaças de
morte, intimidações e difamação que ativistas e religiosos estariam
sofrendo por serem contrários à construção da Usina.



Fernando Matos


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segunda-feira, 5 de abril de 2010

Julgamento de acusados por morte de líder indígena de MS acontece dia 12 em São Paulo

 
Segunda, 05 de abril de 2010
 
Transferência do local de julgamento, de MS para SP, foi pedida pelo MPF por não haver no estado condições de isenção suficientes para garantir um julgamento imparcial.

O julgamento dos acusados pelo assassinato do cacique guarani-kaiowá Marcos Veron, ocorrido em janeiro de 2003 em Juti, no interior de Mato Grosso do Sul, acontece no dia 12 de abril, em São Paulo. O Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF 3), seguindo integralmente manifestação do Ministério Público Federal (MPF), havia determinado que o Tribunal do Júri ocorra em São Paulo para garantir a imparcialidade dos jurados e evitar que a decisão sofra influência social e econômica dos supostos envolvidos no crime.
Pelo MPF, participam do julgamento o procurador da República Marco Antônio Delfino de Almeida, de Dourados, e o procurador regional da República Luciano Mariz Maia.
Apesar dos acusados pelo assassinato de Marcos Veron irem a julgamento, em Mato Grosso do Sul existem diversos outros casos de violência contra indígenas que não tiveram o mesmo destino.
Em novembro de 2010, dois professores indígenas da etnia guarani-kaiowá desapareceram após ocupação de uma fazenda em Paranhos, fronteira com o Paraguai. Apenas o corpo de um deles foi encontrado.
Em 18 de setembro de 2009, um grupo armado atacou um acampamento Guarani, às margens da BR-483, na região conhecida como Curral do Arame, a dez quilômetros de Dourados (MS). Um índio de 62 anos foi ferido por tiros, outros indígenas foram agredidos e barracos e objetos foram queimados. Não se conhecem ainda os autores do ataque.
Indígenas da etnia Terena, que ocupavam área tradicional onde incide a fazenda Querência São José, em Dois Irmãos do Buriti, gravaram em vídeo e áudio ação de despejo realizada pela Polícia Militar, sem ordem judicial de reintegração de posse. A ação ocorreu em 19 novembro de 2009.
Em dezembro de 2009, indígenas da etnia Terena, que retomaram parte da fazenda Petrópolis que faz parte da área declarada pelo Ministério da Justiça como Terra Indígena Cachoeirinha, em Miranda, denunciaram ter sofrido ameaças depois que o TRF 3 suspendeu ordem de reintegração de posse. O STF determinou a desocupação da área, mas os indígenas pedem prazo para colher as lavouras já cultivadas.
Para o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida, "todos os casos apontados mostram que infelizmente a violência contra povos indígenas não é um fato isolado nem uma questão ultrapassada. O que se espera do poder público e do Judiciário é uma ação imparcial para que ocorra a efetiva proteção dos povos indígenas"
Entenda o caso
Acampados na terra indígena Takuara, na fazenda Brasília do Sul, os kaiowá sofreram ataques, entre os dias doze e treze de janeiro de 2003, de quatro homens armados que teriam sido contratados para agredi-los e expulsá-los daquelas terras. Armados com pistolas, eles ameaçaram, espancaram e atiraram nas lideranças indígenas. Veron, à época com 72 anos, foi encaminhado ao hospital com traumatismo craniano, onde faleceu.
Respondem pelo assassinato Estevão Romero, Carlos Roberto dos Santos, Jorge Cristaldo Insabralde e Nivaldo Alves de Oliveira. Em outubro de 2008, o MPF ofereceu denúncia contra outras 24 pessoas por envolvimento no crime.
Transferência do jurí
Entre os motivos levantados pelo MPF para pedir a transferência do Tribunal do Júri de Dourados (MS) para a capital paulista estão o poder econômico e a influência social do proprietário da fazenda, Jacinto Honório da Silva Filho. Proprietário de terras em Mato Grosso do Sul e outros estados, Jacinto Honório teria negociado com dois índios a mudança de seus depoimentos. Vítimas da agressão, eles teriam sido contratados para trabalhar em uma de suas propriedades na Bolívia.
Também assinaram um depoimento em 2004 mudando a versão que deram ao crime no dia seguinte ao assassinato. Inocentaram os seguranças contratados pelo fazendeiro e passaram a responsabilizar um outro índio, já morto, pelo assassinato do cacique Veron. O fazendeiro teria tentado, inclusive, comprar o depoimento do filho do cacique assassinado, oferecendo-lhe bens materiais em troca da assinatura de um termo de depoimento já redigido.
Manifestação do juiz
Além disso, em seu pedido de desaforamento (mudança de local do júri), o MPF citou as manifestações de juiz estadual que teria se manifestado oralmente contra os indígenas e contra o procurador da República do caso. Nomes que figuram na lista de jurados da Justiça Federal em Dourados também poderiam figurar na lista de jurados do juízo estadual da Comarca de Dourados.
Para o MPF, nem mesmo a realização do Tribunal do Júri em Campo Grande seria suficiente para garantir a imparcialidade. Manifestações na Assembléia Legislativa sul-mato-grossense, condenando os acampamentos indígenas e relativizando a morte das lideranças, bem como opiniões desfavoráveis aos índios em diversos jornais do estado também foram juntadas ao processo, para mostrar que um júri federal realizado em qualquer subseção judiciária do estado teria viés contrário aos índios.
O MPF apresentou ainda nota técnica elaborada pelo analista pericial em antropologia da instituição, considerada pelos desembargadores do TRF 3 como sendo muito clara e bem fundamentada, no sentido de não haver no local condições de isenção suficientes para garantir um julgamento imparcial.
Segundo argumentou o MPF, existe um forte preconceito contra o povo indígena por parte de membros importantes da sociedade sul-mato-grossense. Entre as críticas aos indígenas, proferidas pela Assembléia Legislativa apenas dois meses após a morte de Veron, estava o fato de os índios terem enterrado o líder na própria área ocupada. O enterro foi realizado com amparo de uma decisão da Justiça Federal proferida em resposta a uma Ação Civil Pública do MPF e, por esse motivo, a instituição também foi criticada por "apoiar indistintamente as invasões de terras privadas".
O processo de desaforamento no TRF-3 (2ª instância) é o 2007.03.00.036726-0. A ação penal, que tramita na Subseção Criminal da Justiça Federal de São Paulo tem o nº 2003.60.02.000374-2.
 
Assessoria de Comunicação Social
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Fernando Matos

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