terça-feira, 31 de maio de 2011

Reação a conflito agrário é só burocracia


Reação a conflito agrário é só burocracia

Vice comanda reunião na qual única proposta concreta é convocação de governadores e anúncio de parceria ainda sem data para ocorrer

31 de maio de 2011 | 0h 00
Tânia Monteiro / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

Após quatro assassinatos de líderes ambientalistas na Amazônia, o governo reagiu ontem com uma nova edição da Operação Arco de Fogo, instituída em 2008 para combater o desmatamento ilegal, e uma coleção de medidas burocráticas. "Na ocasião, houve queda de desmatamento, com maior pacificação da região", justificou o ministro interino da Justiça, Luiz Paulo Barreto, ao anunciar a nova fase da Arco de Fogo. Com a viagem da presidente Dilma Rousseff ao Uruguai, o vice Michel Temer coordenou a reunião com objetivo de que fossem desencadeadas ações de governo para evitar novas mortes no campo.

Sem grandes ações de impacto, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence, anunciou apenas a convocação de governadores para a realização de ações conjuntas, que ainda não têm data para ocorrer.

Também não foi realizada a reunião do grupo interministerial, prevista para a tarde de ontem, que seria criado para acompanhar as investigações sobre assassinatos de líderes agrários, particularmente das últimas quatro mortes no campo ocorridas na semana passada, e definir a atuação de cada órgão no combate à criminalidade na Região Norte do País.

Da mesma forma, a criação de uma Área sob Limitação Administrativa Provisória (Alap), via decreto, que funcionaria como uma espécie de intervenção federal em áreas do Acre, Amazonas e Rondônia, não foi anunciada e só será discutida com a presidente Dilma Rousseff, que estava ontem no Uruguai.

"Debatemos o assunto. Diligenciamos estudos técnicos sobre isso que estarão sendo desenvolvidos ao longo do dia e outras providências virão à mesa para decisões no dia de amanhã", declarou o ministro Florence. Ele disse ainda que os subsídios estão sendo providenciados. "Instalamos uma sala de situação para monitorar diariamente, nos vários níveis de governo o andamento das investigações e das providências no âmbito de políticas agrícola e agrária, política de sustentabilidade ambiental", completou Florence.

Ofensiva. Florence justificou o fato de as ações estarem sendo retomadas somente agora, depois de passados cinco meses do início do governo, apelando para o período de "transição do governo". "Nós já tínhamos decidido dar continuidade à implementação da operação e hoje (ontem) pela manhã estamos tomando providência e à tarde faremos diligência de operações", afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de o governo oferecer proteção policial a outros ameaçados, como os líderes rurais que morreram na semana passada, o ministro interino Luiz Paulo Barreto disse que os casos mais críticos serão avaliados. "Vamos estudar caso a caso e certamente intensificar a proteção às pessoas que estão sendo mais ameaçadas", afirmou.

Lista. Hoje, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) deve apresentar à Secretaria Especial de Direitos Humanos uma lista de líderes agrários que estão sob ameaça de morte.

O ministro interino da Justiça anunciou também que vai ter apoio do governo federal para ações de manutenção da ordem e investigação dos assassinatos. E negou que a redução de recursos tenha impactado a fiscalização da região.

De prático, o ministro Florence anunciou que o Diário Oficial da União publicou a liberação de R$ 508 mil para gastos de diárias e deslocamento de pessoal do Ministério do Desenvolvimento Agrário para as áreas onde ocorreram os assassinatos nos últimos.

E avisou que serão criados dois escritórios de regularização fundiária para avançar na regularização de terras da união que estão sob situação de conflito.


segunda-feira, 30 de maio de 2011

Câmara pode criar comissão para acompanhar investigação sobre assassinatos


Câmara pode criar comissão para acompanhar investigação sobre assassinatos
Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR
30/05/2011 | 15h28 | Ambientalistas
 

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara deve acompanhar as investigações sobre o assassinato de ambientalistas no Pará. O colegiado vai votar na quarta-feira (1º) um requerimento do deputado Arnaldo Jordy (PPS-PA) pedindo a criação de uma comissão especial para acompanhar o caso.

O vice-líder do PT na Casa, Fernando Ferro (PE), também defende que a Câmara acompanhe a apuração. Na semana passada, ele pediu a federalização do caso e disse que também pretendia apresentar requerimento pedindo a criação da comissão.

O assunto também foi tema de discussão entre o vice-presidente Michel Temer e outras autoridades do governo. Em reunião na manhã de hoje (30), eles decidiram criar um grupo interministerial para discutir ações de combate à violência no campo.

Na manhã do último dia 24, os líderes extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram executados em Nova Ipixuna, no Pará. Dias depois, o corpo do agricultor Eremilton Pereira dos Santos, de 25 anos, foi achado no mesmo assentamento.

Além dos três assassinatos em Nova Ipixuna, na sexta-feira (27), um líder camponês foi morto a tiros em Vista Alegre do Abunã, em Rondônia. Adelino Ramos, o Dinho, era líder do Movimento Camponês Corumbiara, e vinha sendo ameaçado de morte por denunciar a ação de madeireiros na divisa dos estados do Acre, Amazonas e de Rondônia.

Da Agência Brasil


Seminário termina com visita a aldeias em Dourados

Seminário termina com visita a aldeias em Dourados

30/05/2011 08h32

Representantes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH) e do Ministério Público Federal (MPF) visitaram nesta sexta-feira (27/5) aldeias próximas à cidade de Dourados (MS) para verificar as condições em que vivem os indígenas. "Para nós, o mais importante é tomar providências sobre as denúncias de dificuldade de acesso aos direitos humanos", afirmou Christiana Freitas, coordenadora geral do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), vinculado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. A visita ocorreu um dia após o término do Seminário sobre conflitos fundiários promovido pelo CNJ em Dourados.

Os índios reclamam da falta de acesso a serviços básicos, como educação e saúde. "Sentimos que a situação é muito grave", afirmou o juiz auxiliar da presidência do CNJ Marcelo Martins Berthe que, junto com Antonio Carlos Alves Braga Júnior, coordenou o seminário sobre conflitos fundiários entre fazendeiros e índios, realizado em Dourados nos dias 25 e 26. A questão, explicou ele, não se resume à disputa por terra. Envolve "necessidades básicas do ser humano".

Na aldeia Passo Piraju, vivem 45 famílias numa área cultivável de 20 hectares. Lá, há uma escola extremamente precária para atender as crianças: a velha casa construída com restos de madeira e coberta com telhas de amianto – material proibido em vários países – não dispõe nem mesmo de banheiro para os alunos. De acordo com os indígenas, falta até giz e cadeiras para as crianças. Os espaços destinados a portas e janelas estão abertos até hoje.

A assistência à saúde é outro problema: quando aparece por lá alguma equipe de saúde, os habitantes são atendidos debaixo de um bambuzal. Os líderes reclamam que, por falta de local adequado, as mulheres grávidas são examinadas em público, sem qualquer privacidade.

A alimentação vem da cesta básica fornecida pelo Estado, já que a produção é insuficiente para o sustento de todos os habitantes da aldeia, e não há mais caça e os peixes são escassos no rio Piraju.

"Cesta básica é uma emergência. Não pode ser para sempre. Haveremos de encontrar uma solução, todos juntos", disse Berthe, lembrando que o trabalho do CNJ não terminou com o fim do seminário.

A expectativa é que a comissão, a ser criada pelo CNJ, com a participação da Secretaria de Direitos Humanos, Fundação Nacional do Índio, Advocacia Geral da União e Ministério Público Federal, de indígenas, fazendeiros e estudiosos, possa apontar uma solução para acabar com o conflito pela terra e também para dar condições dignas de vida aos indígenas. "Esperamos que a comissão possa sensibilizar a sociedade para, acima de tudo, garantir os direitos humanos aos indígenas", comentou Christiana. A pior solução é a judicial, avisou Rafael Otávio Bueno Santos, procurador da República. O processo judicial, lembrou ele, sempre desagrada a alguma parte, aos índios ou fazendeiros.

Exclusão – Na aldeia Panambizinho vivem em torno de 500 indígenas numa área de 1,2 mil hectares. A área foi demarcada e entregue aos índios Kaiwá em 2004. Mas até hoje há 22 famílias morando na aldeia sem direito à terra, excluídas pelos próprios índios, que acham que aquelas famílias não lutaram tanto pela terra quanto eles.

Há exclusão também em Passo Piraju, onde a terra foi repartida entre as famílias. Segundo eles, a terra é insuficiente para todos e algumas famílias moram lá, mas não podem produzir.

Orgulho – "Tenho muito orgulho de ser índio, sou brasileiro, sou índio e vou lutar até o fim", Valmir Júnior Savala, agente de saúde e um dos líderes em Piraju. Ele reclama das injustiças, da falta de oportunidade, da discriminação racial e das constantes ameaças.

"Hoje nós vive amarrado pelo pescoço: se sair pra lá, tem dono, se quebrar a cana para nossas criança chupar, tem dono", acrescenta o cacique Carlito Oliveira, referindo-se a fazenda de cana de açúcar que faz divisa com a aldeia. Segundo Valmir Savala, os índios estão confinados na área da aldeia que ainda não foi demarcada. Eles não podem sair para pescar ou caçar.

"Não temos oportunidade de buscar alimento para nossas crianças. Precisamos caçar, mas não podemos sair da aldeia", afirmou. Um outro conta que eles só podem pescar no trecho do rio dentro da aldeia. Se ultrapassar a divisa, os seguranças dos fazendeiros atiram. Além disso, há pouco peixe no rio Piraju, porque os agrotóxicos usados na produção agrícola são levados pelas chuvas para o leito do rio e matam os peixes.

"Hoje vivemos mendigando", disse Valmir Savala, que denuncia a ocorrência de dois assassinatos de habitantes de sua aldeia, e conclui: "Não queremos mais que derrame sangue para a nossa terra ser demarcada, queremos botar um fim nesse problema". (Da assessoria)

Polícia prende suspeito de matar líder sem-terra em Rondônia

Polícia prende suspeito de matar líder sem-terra em Rondônia

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JEAN-PHILIP STRUCK
DE SÃO PAULO

O principal suspeito de matar o líder sem-terra Adelino Ramos, 57, do MCC (Movimento Camponês Corumbiara), foi preso na manhã desta segunda-feira (30) em Extrema de Rondônia, próximo à capital Porto Velho.

Procurado desde sábado (28), o agricultor Ozeas Vicente, 38, vinha fazendo ameaças a Ramos, segundo a Polícia Civil. O envolvimento de outros suspeitos no assassinato ainda é investigado.

Ramos foi morto a tiros na sexta-feira (27), em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho (RO). Ele era um dos sobreviventes do massacre de Corumbiara, que ocorreu em 1995, durante a desocupação de uma fazenda em Rondônia. No conflito, foram mortos dez sem-terra e dois PMs.

Segundo a CPT (Comissão Pastoral da Terra), Ramos denunciava a ação de madeireiros na região da divisa entre Acre, Amazonas e Rondônia.

Ele e um grupo de trabalhadores rurais reivindicavam a criação de um assentamento agrário no local. Em 2009, Ramos disse à Ouvidoria Agrária Nacional que sofria ameaças de morte.

Na sexta-feira, a ministra Maria do Rosário Nunes (Secretaria de Direitos Humanos) e o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) divulgaram nota conjunta em que repudiaram o assassinato de Ramos.

Na manhã de hoje, o governo realizou uma reunião para discutir os conflitos agrários. Na semana passada, além do assassinato de Ramos, foram registradas as mortes de dois líderes extrativistas no Pará.


Governo cria grupo e libera verba para conter conflitos agrários

Governo cria grupo e libera verba para conter conflitos agrários


ANA FLOR
DE BRASÍLIA

O governo decidiu intensificar a presença da Força Nacional, Polícia Federal, Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) na região amazônica na tentativa de estancar os conflitos agrários que levaram à morte de lideranças extrativistas e agricultores na última semana.

Foi anunciado ainda a criação de um grupo interministerial e a liberação de cerca de R$ 1 milhão para os deslocamentos de pessoal das superintendências do Incra na região.

Após assassinatos, governo faz reunião para discutir conflitos agrários

As medidas foram definidas em reunião na manhã de hoje coordenada pelo presidente em exercício, Michel Temer, e com a presença dos ministros Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) e representantes dos ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Gabinete de Segurança Institucional e Direitos Humanos.

Carvalho deve também se reunir ainda nesta semana com os governadores da região para discutir o tema.

Segundo o governo, mais recursos serão destinados para a Operação Arco Verde, que leva ajuda socioeconômica às populações da região que sofreu desmatamento.

No início da semana passada, no Pará, foram mortos a tiros José Claudio Ribeiro da Silva, 54, e Maria do Espírito Santo da Silva, 53. Os dois viviam em uma comunidade rural de Nova Ipixuna, o Assentamento Agroextrativista Praialtapiranheira, onde faziam artesanato a partir de recursos naturais e cultivavam frutas, como açaí.

Na sexta-feira, o agricultor Adelino Ramos, líder do MCC (Movimento Camponês Corumbiara), considerado um dos movimentos sociais agrários mais radicais do país, foi morto a tiros em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho.

Polícia descarta elo entre assassinatos no campo; CPT rebate


Polícia descarta elo entre assassinatos no campo; CPT rebate

Domingo, 29 de maio de 2011, 11h58
O  corpo de Herivelto Pereira dos Santos foi encontrado no sábado, a oito  quilômetros do Assentameto Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna
O corpo de Herivelto Pereira dos Santos foi encontrado no sábado, a oito quilômetros do Assentameto Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna
29 de maio de 2011
Marcelo Lacerda/Terra Magazine

Felipe Milanez
De Nova Ipixuna (PA)


A Policia Civil do Pará afirma que o assassinato do assentado Herivelto Pereira dos Santos, encontrado morto neste sábado (28), não teria ligação com o homicídio do casal de extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria Bispo do Espírito Santo, ocorrido na terça-feira passada. Detalhe: duas horas depois de encontrado o corpo de Herivelto, o delegado encarregado do caso já manifestava tal opinião. Disse o delegado José Humberto de Melo Jr.:

- Não tem ligação, não existe lógica para associar esse crime ao outro caso. Até porque no local existe a questão do tráfico de drogas, o local é utilizado como uma rota de fuga. Tem que ser apurado o que aconteceu lá, e não ser associado ao assassinato.

(Exatamente. Há que ser apurado e isso se aplica a todas as versões, inclusive, por certo, à do delegado).

José Batista, por exemplo, advogado da CPT, rechaça a avaliação do delegado José Humberto:

-Discordo totalmente da posição dele. A Polícia Civil não investigou nenhuma outra hipótese de que o crime estivesse relacionado com alguma outra causa. Se a polícia divulga que está relacionada ao tráfico de drogas, é irresponsável. Não há nenhuma prova colhida que aponte isso. É uma decisão precipitada que pode desviar o foco da investigação.


Corpo foi localizado por familiares (Foto: Marcelo Lacerda)

O corpo da vítima foi encontrado por familiares. Herivelto, que tinha 25 anos, estava desaparecido desde quinta-feira (26) quando teria, segundo familiares, ido comprar peixe no Porto do Barroso, localizado à beira do lago da represa de Tucuruí.

Familiares de Herivelto relataram o assassinato a integrantes de uma operação conjunta do IBAMA e Polícia Rodoviária Federal que, com quatro viaturas e um helicóptero, atuavam na repressão de crimes ambientais. A equipe, avisada pela família, se deslocou até o local onde se encontrava o corpo.

Segundo informações do advogado da CPT e de outros assentados ouvidos na delegacia - que pedem sigílo por temor a represálias -, Herivelto seria uma das testemunhas no caso do assassinato dos extrativistas José e Maria.

Conforme esta versão que o aponta como testemunha, Herivelto consertava uma estrada danificada pelo período de chuvas, quando foi abordado pelos pistoleiros; que não encontravam a rota de fuga do local. Herivelto não chegou a ser ouvido pela policia.

Mais assentados afirmam ter visto - como também relatava Herivelto ¿ uma moto vermelha da marca Honda, modelo Bros, e nela, dois homens com capacetes; quanto a esse fato e descrição, portanto, Herivelto não é a única testemunha.


Peritos estiveram no local (Foto: Marcelo Lacerda)

A família encontrou o corpo às 10 horas da manhã do sábado em um ponto de difícil acesso e, duas horas depois de informados, chegaram integrantes da Polícia Rodoviária Federal e do IBAMA. Agentes da Polícia Federal, transportados pelo helicóptero do IBAMA, tiveram acesso à cena do crime no meio da tarde. A Polícia civil chegou ao local apenas às 20h.

O corpo de Herivelto foi encontrado cerca de 50 metros dentro da mata, ao largo de uma trilha que leva ao lago de Tucuruí e que só pode ser feita a pé. Essa trilha, localizada a aproximadamente 500 metros da casa de um assentado, João Pereira de Sousa, 69. Segundo a perícia, Herivelto foi morto com pelo menos dois tiros. Não havia sinais indicando que a vítima tenha sido arrastada pela mata. Sua moto foi localizada na trilha.

O assentado João Pereira de Sousa afirma ter ouvido tiros por volta das 15h, na última quinta-feira, quando trabalhava em uma roça nas proximidades. Sousa diz não ter se dado conta dos tiros terem sido disparados tão próximos de sua casa.

No sábado, os parentes de Herivelto armaram uma busca pelo desaparecido. "Nós chegamos aqui, na beira da grota, vimos a moto dele, e os urubus bateram asas. Entramos na mata, éramos em onze¿, afirma a irmã Acleide Pereira dos Santos.

"A Justiça tem que apurar o caso. Nós temos que pedir reforço. A informação que nós temos é que a beira desse rio é cheio de bandidos", disse João de Sousa Pereira. Este, embora de nome parecido com o do assentado João Pereira de Sousa, é tio de Herivelto e vive na vizinha localidade de Itupiranga.

Segundo o delegado Melo Jr., no caso da morte de Herivelto não há relatos de conflito agrário nem indícios de conflitos por terra. Por isso o crime não será investigado (pela delegacia especializada de Marabá) no mesmo processo que apura a morte do casal de extrativistas. Diz o delegado:

- Vai ser aberto um inquérito na delegacia local, de Nova Ipixuna.

O delegado Melo Jr. suspeita de um acerto em meio a disputas no tráfico de drogas. Depoimentos de assentados indicariam, é a informação da Polícia, que existiriam grandes plantações de maconha no assentamento. "Há um indicativo de tráfico", diz o delegado.

Eduardo Rodrigues da Silva, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Nova Ipixuna, confirma que Herivelto era assentado, trabalhava na roça, vivia com sua mãe Maria Dolores e que seu pai, Acedônio, foi vítima de latrocínio há alguns anos.

Moradores aterrorizados

O terceiro assassinato, na mesma semana da morte de José Cláudio e Maria, trouxe pânico ao local. Mais do que com medo, assentados estão aterrorizados. Famílias seguem trancadas nas casas, com crianças chorando. "Preciso avisar lá em casa que está tudo bem, eles estavam chorando quando saí", conta o Presidente do Sindicato, Eduardo Rodrigues, que acompanhou o trabalho da polícia depois de encontrado o corpo.

Rodrigues, presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Nova Ipixuna, resume o clima naquela região do Pará:

-Aqui não tem Estado... estamos abandonados . É preciso esclarecer esses crimes. Tenho medo, a gente está com medo... quem não fica com medo em uma situação dessas? Todo mundo está desesperado. O abandono aqui é cruel. Muito cruel.

Felipe Milanez é jornalista e advogado, mestre em ciência política pela Universidade de Toulouse, França. Foi editor da revista Brasil Indígena, da Funai, e da revista National Geographic Brasil, trabalhos nos quais se especializou em admirar e respeitar o Brasil profundo e multiétnico.

Fale com Felipe Milanez: felipemilanez@terra.com.br

Opiniões expressas aqui são de exclusiva responsabilidade do autor e não necessariamente estão de acordo com os parâmetros editoriais de Terra Magazine.
Terra Magazine
Leia esta notícia no original em:
Terra - Brasil
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5155741-EI16863,00.htm

Google mostra IDH em gráficos on-line

http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=3748&lay=pde

suspeito de matar líder sem-terra em Rondônia Ozeas Vicente teria efetuado os seis disparos que mataram Adelino Ramos; há outros envolvidos


Polícia identifica suspeito de matar líder sem-terra em Rondônia

Ozeas Vicente teria efetuado os seis disparos que mataram Adelino Ramos; há outros envolvidos

29 de maio de 2011 | 7h 51

SÃO PAULO - A Polícia Civil de Rondônia identificou suspeitos de participação no assassinato do líder sem-terra Adelino Ramos, o Dinho, de 57 anos. O chefe do Movimento Camponês Corumbiara foi morto na última sexta-feira, em Vista Alegre do Abunã, após ser atingido por seis tiros. Segundo a polícia, Ozeas Vicente seria o autor dos disparos, conforme provas coletadas até agora. Ainda é investigado o envolvimento de outros suspeitos.

Agentes da capital auxiliam nas buscas e investigações do crime ocorrido próximo à fronteira com a Bolívia. As autoridades de Rondônia também acionaram os Estados do Amazonas e Acre, que reforçaram o policiamento em suas divisas. A Polícia Civil afirma que já providencia o pedido de prisão temporária, caso não consiga efetuar a prisão em flagrante.

Segundo a assessoria da Secretaria de Produção do Amazonas, Dinho morava em um assentamento do Incra localizado no sul de Lábrea, o município mais desmatado do Amazonas. De acordo com informações da secretaria, o agricultor vinha recebendo ameaças de madeireiros da região.

O movimento liderado por Dinho foi formado depois do massacre de Corumbiara, em Rondônia, em fevereiro de 1996, com objetivo de dar continuidade às reivindicações dos camponeses sem-terra.

Repúdio. Em nota, a Presidência repudiou o crime. "Adelino era uma liderança reconhecida na Região Norte. Há três dias o Brasil se chocou com a execução de duas lideranças em circunstâncias semelhantes, no Pará. Hoje, mais uma morte provavelmente provocada pela perseguição aos movimentos sociais. Essas práticas não podem ser rotina em nosso país e precisam de um basta imediato", diz a nota, assinada pelos ministros Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, e Maria do Rosário, de Direitos Humanos.


Área de conflitos no Norte pode sofrer intervenção federal

Área de conflitos no Norte pode sofrer intervenção federal

Mortes no campo levam União a traçar ação para a fronteira Amazonas-Acre-Rondônia

29 de maio de 2011 | 23h 00
Marta Salomon e Vera Rosa, de O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em reunião de emergência marcada para esta segunda-feira, 30, no Palácio do Planalto, o governo discutirá a decretação de uma espécie de intervenção federal na tríplice divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia, área de conflito agrário. A reunião definirá a reação aos quatro assassinatos de agricultores registrados em menos de uma semana. O objetivo é evitar novas mortes no campo, em regiões de conflito agrário e pressão por desmatamento.

A principal proposta é a criação, via decreto presidencial, de uma Área sob Limitação Administrativa Provisória (Alap), abrangendo os municípios de Lábrea (AM), Boca do Acre (AC) e Porto Velho (RO). No caso do Pará, o diagnóstico é que assentados não conseguem resistir às pressões para produzir carvão e cortar madeiras em áreas de proteção ambiental. "Nosso foco são as pessoas marcadas para morrer", afirmou o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

Desde terça-feira, quatro agricultores foram mortos na região amazônica e pelo menos três deles haviam denunciado a ação predatória de madeireiros.

Além de Carvalho, a reunião de hoje contará com representantes dos ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário e Secretaria Nacional de Direitos Humanos. O encontro foi pedido pelo ministro interino do Meio Ambiente, Roberto Vizentin, após o velório do líder Adelino Ramos, o Dinho, assassinado na sexta-feira em Vista Alegre do Abunã, em Porto Velho (RO).

A presidente Dilma Rousseff não participará da reunião, mas ontem solicitou informações sobre o assunto. Por determinação de Dilma, a Polícia Federal abriu investigação para apurar os assassinatos.

Ação. No governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve dois precedentes de criação de Alap: na BR-163, no Pará, e na BR-319, que liga Porto Velho a Manaus. As duas áreas estavam sob intensa pressão das motosserras e foram alvo de ações para a regularização fundiária. "Essa tríplice fronteira é uma região que exige uma ação mais efetiva de segurança pública e ordenamento territorial. Vamos levar a proposta, que deve ser adotada de comum acordo com os governos estaduais", disse Vizentin.

O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, também participará do encontro. Ele levará ao Planalto uma apresentação sobre as áreas de maior concentração de conflitos agrários, assim como a lista de pessoas ameaçadas de morte. Rondônia e Pará são os Estados que reúnem o maior número de casos de conflitos por terras.

Segundo o ouvidor, o Pará tem 170 inquéritos de investigação de assassinatos no campo. Rondônia tem mais 70 inquéritos. Cerca de 90% dos casos não tem autoria definida.

Crimes. Os líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, mortos a tiros na terça-feira, chegaram a ser citados no último levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, como ameaçados de morte. O casal morava em um assentamento, em Nova Ipixuna, e teve a casa invadida várias vezes.

No sábado, 28, um grupo de assentados encontrou o corpo do agricultor Eremilton Pereira dos Santos próximo ao local onde foi morto o casal. Ele estava desaparecido desde quinta-feira e foi morto com um tiro na cabeça. Apesar das circunstâncias, a polícia do Pará descartou ontem qualquer vinculação entre os dois crimes.

"Até prova em contrário não há relação entre as mortes, mas tudo está sendo investigado", declarou o delegado Silvio Maués, que está em Nova Ipixuna acompanhando as buscas aos pistoleiros que mataram o casal. Familiares contaram aos policiais que Eremilton não tinha nenhuma ligação com movimentos sociais da região, embora conhecesse José Cláudio e Maria. / COLABOROU CARLOS MENDES

Polícia investiga morte de mais um agricultor no Pará


Polícia investiga morte de mais um agricultor no Pará

A Polícia Civil do Pará investiga a morte de mais um agricultor que morava na mesma comunidade rural em que o casal de líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foi assassinado na última terça-feira.

A reportagem é de Fábio Guibu e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 30-05-2011,

O corpo da vítima, Eremilton Pereira dos Santos, 25, morador do assentamento agroextrativista Praialta Piranheira, em Nova Ipixuna (sudeste do Pará), foi encontrado no sábado, com marcas de tiros, em um matagal às margens de um lago.

Segundo a polícia, não existe, até o momento, indcio que ligue os dois crimes. O agricultor, afirmou, não tinha ligação pessoal com as vítimas nem teria testemunhado a morte do casal. Para os investigadores, o crime pode estar ligado a rixa entre moradores da região.

Santos desapareceu na tarde da quinta-feira passada. Ele saiu de moto do assentamento para comprar peixe em um local conhecido como Porto do Barroso.

Seu corpo foi encontrado no sábado por familiares que ajudavam nas buscas. A vítima estava de bruços em um matagal, a cerca de sete quilômetros do assentamento e a 20 metros da estrada de acesso ao Porto do Barroso.

A moto foi encontrada a 80 metros do corpo. A perícia não viu indícios de briga ou de que o corpo tenha sido arrastado, segundo a polícia.

Exames preliminares feitos pelo Instituto Médico-Legal revelaram que o agricultor recebeu ao menos dois tiros de arma semelhante a cartucheira - que dispara várias bolinhas de chumbo de uma vez. Um deles atingiu o rosto, e o outro, o peito. Assim como no caso do casal, ninguém se apresentou como testemunha do crime.

Um cunhado de Santos, que liderou as buscas e foi a última pessoa conhecida a falar com ele, disse em depoimento à polícia que também não sabia o motivo do crime.

Entretanto, contou uma situação que lhe pareceu suspeita, e que está sendo investigada. Na terça-feira, mesmo dia em que o casal foi morto, ele e Santos viram dois homens em uma moto, passarem por eles em alta velocidade, em uma estrada.

Segundo o cunhado, os homens pararam cerca de cem metros à frente e conversaram com outro agricultor, que disse que um dos motoqueiros perguntou a ele onde ficava Porto do Barroso - o local onde Santos foi comprar peixe e sumiu.

A investigação da morte de Santos será feita à parte do inquérito da morte dos extrativistas. Até ontem, 15 pessoas haviam sido ouvidas.



Mortes no campo. Intervenção do governo federal


Mortes no campo. Intervenção do governo federal

Em reunião de emergência marcada para hoje no Palácio do Planalto, o governo discutirá a decretação de uma espécie de intervenção federal na tríplice divisa entre Amazonas, Acre e Rondônia, área de conflito agrário. A reunião definirá a reação aos quatro assassinatos de agricultores registrados em menos de uma semana. O objetivo é evitar novas mortes no campo, em regiões de conflito agrário e pressão por desmatamento.

A reportagem é de Marta Salomon e Vera Rosa e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 30-05-2011.

A principal proposta é a criação, via decreto presidencial, de uma Área sob Limitação Administrativa Provisória (Alap), abrangendo os municípios de Lábrea (AM), Boca do Acre (AC) e Porto Velho (RO). No caso do Pará, o diagnóstico é que assentados não conseguem resistir às pressões para produzir carvão e cortar madeiras em áreas de proteção ambiental. "Nosso foco são as pessoas marcadas para morrer", afirmou o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

Desde terça-feira, quatro agricultores foram mortos na região amazônica e pelo menos três deles haviam denunciado a ação predatória de madeireiros.

Além de Carvalho, a reunião de hoje contará com representantes dos ministérios da Justiça, Meio Ambiente, Desenvolvimento Agrário e Secretaria Nacional de Direitos Humanos. O encontro foi pedido pelo ministro interino do Meio Ambiente, Roberto Vizentin, após o velório do líder Adelino Ramos, o Dinho, assassinado na sexta-feira em Vista Alegre do Abunã, em Porto Velho (RO).

A presidente Dilma Rousseff não participará da reunião, mas ontem solicitou informações sobre o assunto. Por determinação de Dilma, a Polícia Federal abriu investigação para apurar os assassinatos.

Ação

No governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, houve dois precedentes de criação de Alap: na BR-163, no Pará, e na BR-319, que liga Porto Velho a Manaus. As duas áreas estavam sob intensa pressão das motosserras e foram alvo de ações para a regularização fundiária. "Essa tríplice fronteira é uma região que exige uma ação mais efetiva de segurança pública e ordenamento territorial. Vamos levar a proposta, que deve ser adotada de comum acordo com os governos estaduais", disse Vizentin.

O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, também participará do encontro. Ele levará ao Planalto uma apresentação sobre as áreas de maior concentração de conflitos agrários, assim como a lista de pessoas ameaçadas de morte. Rondônia e Pará são os Estados que reúnem o maior número de casos de conflitos por terras.

Segundo o ouvidor, o Pará tem 170 inquéritos de investigação de assassinatos no campo. Rondônia tem mais 70 inquéritos. Cerca de 90% dos casos não tem autoria definida.

Crimes

Os líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo, mortos a tiros na terça-feira, chegaram a ser citados no último levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), ligada à Igreja Católica, como ameaçados de morte. O casal morava em um assentamento, em Nova Ipixuna, e teve a casa invadida várias vezes.

No sábado, um grupo de assentados encontrou o corpo do agricultor Eremilton Pereira dos Santos próximo ao local onde foi morto o casal. Ele estava desaparecido desde quinta-feira e foi morto com um tiro na cabeça. Apesar das circunstâncias, a polícia do Pará descartou ontem qualquer vinculação entre os dois crimes.

"Até prova em contrário não há relação entre as mortes, mas tudo está sendo investigado", declarou o delegado Silvio Maués, que está em Nova Ipixuna acompanhando as buscas aos pistoleiros que mataram o casal. Familiares contaram aos policiais que Eremilton não tinha nenhuma ligação com movimentos sociais da região, embora conhecesse José Cláudio e Maria.

Planalto convoca reunião de emergência para conter assassinatos na Amazônia


Morte no Campo

Planalto convoca reunião de emergência para conter assassinatos na Amazônia

Publicada em 29/05/2011 às 23h38m

Demétrio Weber, com colaboração de Evandro Farias

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BRASÍLIA - O governo decidiu reagir dura e imediatamente à onda de assassinatos de agricultores e lideranças ambientalistas em assentamentos da reforma agrária, na Amazônia.

Após quatro mortes na semana passada - três no Pará e uma em Rondônia -, o Palácio do Planalto convocou reunião nesta segunda-feira, com a presença de quatro ministros, para definir como enfrentará o problema. Esse gabinete de crise contra a violência no campo vai atacar especialmente a impunidade.

O governo quer saber se há relação entre as mortes e o clima tenso em que se dá a discussão do Código Florestal - que acaba de ser aprovado na Câmara e seguirá para o Senado. Ontem, o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, foi cauteloso, mas não deixou de manifestar estranheza com o momento dos assassinatos:

- É muito estranho que, de repente, surja tudo isso de uma vez só. Precisamos saber se esse clima agudizou a questão, no sentido de eliminar quem atrapalha o desmatamento.

Carvalho disse que o primeiro passo é evitar a impunidade, garantindo que não só os assassinos sejam presos, mas também os eventuais mandantes dos crimes. Outra preocupação é proteger assentados e lideranças que estejam sob ameaça de morte por sua atuação contra o desmatamento e a extração ilegal de madeira.

- A primeira providência é contra a impunidade: tem que prender todo mundo que fez isso. Agir com muita força para deixar claro que não tem impunidade. E chegar aos mandantes - afirmou Carvalho.

Ele lembrou que a Comissão Pastoral da Terra divulgou lista com o nome de pessoas marcadas para morrer. Daí a preocupação em garantir a segurança no campo e evitar novos assassinatos. Dos quatro mortos na semana passada, três recebiam ameaças constantemente: o casal de ambientalistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, do projeto agroextrativista Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna (PA), e o agricultor Adelino Ramos, presidente do Movimento Camponeses Corumbiara, em Vista Alegre do Abunã (RO). José Claudio teve uma orelha arrancada e levada pelos assassinos.

A Polícia Federal, que investigava o homicídio do casal em Nova Ipixuna desde terça-feira, reforçará sua atuação na região. Além de Carvalho, participam da reunião hoje pelo menos os ministros José Eduardo Cardozo (Justiça), Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) e Maria do Rosário (Secretaria de Direitos Humanos).

domingo, 29 de maio de 2011

NOTA PÚBLICA - Secretaria-Geral e Secretaria de Direitos Humanos / PR

NOTA PÚBLICA - Secretaria-Geral e Secretaria de Direitos Humanos / PR

Data27/05/2011

Sobre o assassinato do líder camponês Adelino Ramos, na localidade de Vista Alegre do Abunã, em Rondônia, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Secretaria-Geral da Presidência da República vêm a público manifestar:

1 – Adelino era uma liderança reconhecida na região Norte do país, sendo presidente do Movimento Camponeses Corumbiara e da Associação dos Camponeses do Amazonas. Dinho, como era conhecido, morava em um assentamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) com outras famílias e seu grupo buscava regularizar sua produção. Segundo lideranças locais, ele vinha recebendo ameaças de morte de madeireiros da região. Na manhã de hoje, na companhia de sua família, ele foi executado a tiros no município localizado na divisa dos estados de Rondônia, Acre e Amazonas. Cabe ressaltar que ele era um remanescente do massacre de Corumbiara, ocorrido em 9 de agosto de 1995, que resultou na morte de 13 pessoas.

2 – O assassinato de Adelino Ramos merece o nosso total repúdio e indignação. Há três dias o Brasil se chocou com a execução de duas lideranças em circunstâncias semelhantes, no Pará. Hoje, mais uma morte provavelmente provocada pela perseguição aos movimentos sociais. Essas práticas não podem ser rotina em nosso país e precisam de um basta imediato.

3 – Segundo levantamento conjunto da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e da Ouvidoria Agrária Nacional, desde 2001, já foram registrados 71 assassinatos em Rondônia motivados por questões agrárias. Mais de 90% dos casos ficaram sem punição.

4 – Imediatamente ao recebimento da notícia, entramos em contato com a Polícia Civil, com o governador do estado de Rondônia e com a Polícia Federal, exigindo a mais rigorosa atitude para investigar o caso e punir os criminosos, tanto os executores como os possíveis mandantes. É necessária uma ação enérgica e exemplar. Só coibiremos essa violência absurda quando acabarmos com a impunidade.

5 – O governo brasileiro não tolera que crimes como esses aconteçam e fiquem impunes no nosso país. Nesta semana, a presidenta Dilma Rousseff já determinou que a Polícia Federal acompanhe as investigações no Pará, numa atitude enérgica e clara de que crimes como esses não podem se tornar uma prática rotineira em nosso país. Acompanharemos de perto os desdobramentos para garantir justiça. É isso que se espera de um Estado democrático de direito e é assim que o governo procederá.

 

Brasília/DF, 27 de maio de 2011

Maria do Rosário Nunes 
Ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

Gilberto Carvalho 
Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República

PCdoB: Dinho não será o último a morrer por defender a floresta

PCdoB: Dinho não será o último a morrer por defender a floresta

O presidente do PCdoB de Rondônia, Manoel Nery, lamentou a morte de Adelino Ramos, líder do Movimento Camponês Corumbiara, morto na última sexta-feira (27), em Vista Alegre do Abunã, distrito de Porto Velho. Dinho, como era chamado, era membro da direção do partido e foi assassinado com seis tiros enquanto vendia frutas e verduras numa feira.

"Dinho foi mais uma vítima da violência no campo", afirmou Nery. Ele disse que assim como a falta de reforma agrária, a violência em áreas rurais é um dos principais problemas de Rondônia. "Dinho não foi o primeiro e nem será o último a morrer por essa causa", declarou.

Segundo Manoel, o líder camponês nunca deixou de sofrer ameaças de morte desde o massacre dos Corumbiaras, de onde consegui escapar com vida. A direção do PCdoB/RO vai pressionar as autoridades para que o crime seja apurado e os criminosos punidos.

Contrabando

O secretário de Produção Rural do Amazonas, Eron Bezerra, esteve recentemente na casa de Dinho, no Projeto de Assentamento Florestal (PAF) Curuquetê. O PAF fica localizado no sul de Lábrea (a 703 quilômetros de Manaus), com divisa entre os Estados do Amazonas, Acre e Rondônia.

Segundo Eron, Dinho estimava que saíam da área pelo menos 30 mil metros cúbicos de madeira e 20 mil cabeças de gado ilegalmente, por mês.

O secretário participou do velório e afirmou que a Sepror vai dar todo o apoio necessário à família e aos agricultores que ainda permanecerem no projeto de onde Dinho era o líder. "Estamos construindo 20 casas lá e apoiando a alfabetização daquelas pessoas. Isso não pode parar", afirmou.

A presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura Familiar do Amazonas, Izete Rabelo, também comentou a morte de Dinho. "Precisamos continuar defendendo a floresta mas sem derramar nosso sangre", declarou.

Policiamento

A Presidência da República vai se reunir segunda-feira (30) com os órgãos responsáveis para encontrar medidas para tentar diminuir a violência no campo e acabar com a impunidade no caso dos assassinatos motivados por questões agrárias e ambientais. A informação é do ouvidor agrário nacional, desembargador Gercino José da Silva Filho, que esteve na tarde de sábado no velório do líder camponês, Adelino Ramos.

O ouvidor atribui o crime à ausência de policiamento na região. "O delegado de Lábrea era um policial militar", disse. Gercino afirmou que o líder camponês já havia alertado o órgão para as ameaças de morte que vinha sofrendo desde 2009. "Encaminhamos vários ofícios para a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas, Polícias Civil e Militar, delegacia de Polícia de Lábrea e para o Ministério Público, mas nada foi feito", declarou.

Gercino disse que pelo menos cinco homicídios no sul de Lábrea tiveram motivação agrária nos últimos quatro anos. Na reunião com a presidência, o ouvidor vai sugerir a criação da polícia florestal federal, com o objetivo de prevenir crimes semelhantes. "Se aprovada, essa polícia vai cuidar tanto do patrimônio florestal quando da vida dos trabalhadores da floresta", explicou.

Além do ouvidor agrário nacional, representantes do Incra e do ministério do Meio Ambiente estiveram no velório do líder do Movimento Camponês Corumbiara. A polícia federal também acompanhou o féretro.

O enterro do corpo de Dinho aconteceu na manhã deste domingo na cidade de Theobroma, aonde mora um de seus filhos.

De Porto Velho,
Mariane Cruz

sábado, 28 de maio de 2011

CNJ cria comissão para resolver questão fundiária


CNJ cria comissão para resolver questão fundiária

GABRIEL MAYMONE 28/05/2011 14h02 




O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu criar uma comissão para solucionar o conflito fundiário entre índios e produtores rurais na região de Dourados (MS). A comissão será composta por indígenas, produtores rurais, Ministério Público Federal, Advocacia-Geral da União, representantes de academias, Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

A comissão será instalada o mais rápido possível, informou Marcelo Martins Berthe, juiz auxiliar da Presidência do CNJ e coordenador do Fórum de Assuntos Fundiários. "Temos esperança de, no prazo mais curto possível, pelo menos diminuir um pouco o sofrimento do povo indígena e a insegurança dos produtores rurais", disse.

Os integrantes da comissão vão analisar todos os pontos levantados durante o seminário, entre eles a possibilidade de estabelecer uma nova política indigenista para o Brasil. Durante os debates, indígenas, produtores, especialistas e autoridades públicas reclamaram da falta de política pública para as populações indígenas. Para eles, o modelo adotado até hoje de demarcação de reservas não soluciona o problema dos índios, que precisam ter condições de produzir e de obter renda para viver com dignidade.

Com informações do site do CNJ


sexta-feira, 27 de maio de 2011

Carta de Brasília: controle externo da atividade policial garante direitos humanos


Carta de Brasília: controle externo da atividade policial garante direitos humanos

Publicada em 27/05/2011 15:38

Documento reúne as conclusões de 120 promotores e procuradores com atuação no controle externo, reunidos em encontro nacional.

O controle externo da atividade policial é instrumento essencial para a plena garantia dos direitos humanos. Essa é a conclusão dos cerca de 120 membros dos Ministérios Públicos dos Estados e do Distrito Federal, do Ministério Público Federal e do Ministério Público Militar reunidos no I Encontro Nacional de Aprimoramento da Atuação do Ministério Público no Controle Externo da Atividade Policial, realizado nos dias 26 e 27 de maio. O encontro foi promovido pelo CNMP.

 

Na Carta de Brasília, os promotores e procuradores repudiam qualquer forma de supressão ou redução das prerrogativas do MP relativas ao exercício do controle externo e alertam: a redução dessas prerrogativas implica enfraquecimento do Estado Democrático de Direito e prejuízo da defesa de direitos sociais e individuais indisponíveis.

 

A Carta de Brasília detalha de que forma o controle externo da atividade policial se concretiza. Segundo o documento, no exercício do controle externo, é necessário contato constante entre Ministério Público, cidadão e sociedade civil. É fundamental o acesso a todas as informações sobre a atividade policial, buscando identificar irregularidades, desvios e abusos no poder de polícia, visando, inclusive, maior eficiência das polícias.

 

Os promotores e procuradores responsáveis pelo controle externo devem estar abertos ao trabalho conjunto com ouvidorias e corregedorias de polícia e, além de buscar a repressão dos crimes e irregularidades cometidos por policiais e a condenação dos responsáveis, devem atuar de forma preventiva.

 

Para o conselheiro Mario Bonsaglia, presidente da Comissão de Sistema Carcerário e Controle Externo da Atividade Policial do CNMP, responsável pela organização do evento, a Carta de Brasília e o próprio Encontro Nacional representam um avanço importante na discussão de num tema crucial para a sociedade brasileira. "Não há dúvida de que o controle externo da atividade policial é instrumento de garantia dos direitos humanos e os membros do MP têm plena consciência disso. A Carta de Brasília comunica à sociedade brasileira as providências que os procuradores e promotores consideram essenciais para dar maior efetividade ao controle externo da atividade policial".

 

Além da carta, os participantes do encontro discutiram, em grupos de trabalho, rotinas, procedimentos e técnicas de investigação nas seguintes áreas: combate à corrupção policial; controle das polícias militares e das polícias das forças armadas; controle externo concentrado; combate aos grupos de extermínio, autos de resistência e execuções sumárias; e combate à tortura. Aprovadas em Plenária, as propostas dos grupos serão remetidas à Comissão de Sistema Carcerário e Controle Externo da Atividade Policial, para análise, discussão e adoção de providências por parte da Comissão, tais como a proposição de nota técnica e a elaboração de propostas de recomendação ou de resolução a serem apreciadas pelo Plenário do CNMP.

 

Leia a íntegra da Carta de Brasília.

 


Quase 70% dos policiais mortos em SP nos últimos dez anos foram assassinados fora do serviço, fazendo 'bico'

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Quase 70% dos policiais mortos em SP nos últimos dez anos foram assassinados fora do serviço, fazendo 'bico'


Para Ouvidoria da Polícia, agentes são mortos quando estão fazendo "bico".

Por Luciana Sarmento, do R7

Quase 70% dos policiais militares e civis mortos no Estado de São Paulo nos últimos dez anos foram assassinados quando estavam fora do serviço oficial. O número faz parte do último balanço divulgado pela Ouvidoria da Polícia, com base em dados da SSP (Secretaria da Segurança Pública).

As principais vítimas são policiais militares. Dos 811 agentes que foram vítimas de homicídio quando estavam fora de serviço entre os anos de 2001 e 2010, 80% eram PMs. Só no ano passado, enquanto 14 PMs morreram em serviço, 55 foram vítimas de assassinatos quando estavam de folga.

Para o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Wilson Morais, o alto índice de mortes de PMs fora do horário do serviço ocorre porque os policiais se dedicam a trabalhos paralelos, os chamados "bicos", nos seus dias de folga.

- O policial que está trabalhando tem mais segurança. O que está fazendo bico protege um local que tem dinheiro, pode ser uma lotérica, um supermercado. E é onde o bandido ataca. Quando ele está trabalhando na rua, ele está fardado, com equipe e viatura.

Exército do "bico"

Segundo Morais, existe um verdadeiro "exército brasileiro" de policiais que fazem "bico". Ele afirma que os agentes se arriscam a prestar segurança para estabelecimentos particulares para aumentar a renda mensal e dar uma "vida digna à família".

- Praticamente 80% dos policiais militares fazem bicos para complementar o salário, e nós temos 100 mil policiais militares em todo o Estado. Tem mais policial fazendo bico do que policial trabalhando no horário de serviço.

De acordo com a associação, um policial militar na capital paulista ganha, em média, R$ 1.800, além de um vale-refeição de R$ 4 por dia, apelidado de "vale-coxinha" pelos agentes. No interior, o salário médio é de R$ 1.600.

- O que falta é o valorização do policial. Em vez de fazer bico, ele podia estar estudando, se profissionalizando.

O ouvidor da Polícia de São Paulo Luiz Gonzaga Dantas concorda com Morais e afirma que o índice de mortes aponta que é preciso melhorar o salário tanto do policial militar quanto do civil.

- As duas polícias têm o dever constitucional de fazer a segurança pública da sociedade. Se você não tem uma polícia que ganha razoavelmente bem, o policial vai viver muito estressado. Ele está lidando com a vida e a morte todos os dias, e isso é uma questão muito séria.

Operação Delegada

Apesar de ver com bons olhos a criação da Operação Delegada – em que policiais são pagos pela Prefeitura e Governo de São Paulo para fazer o trabalho de segurança em dias de folga -, Morais diz que a medida ainda está longe do que pode ser considerado "ideal".

- Na falta do melhor salário, é melhor ter a operação delegada, que é um 'bico' seguro.

Também chamada de "bico oficial", a operação começou a ser implementada em dezembro de 2009 em algumas subprefeituras da capital e passou a ser ampliada para outras cidades do Estado como Barretos, Sorocaba e Ribeirão Preto.

Para o ouvidor Dantas, que defende uma equiparação salarial com os policiais de Brasília, a operação não resolve o problema de fato.

- O que a ouvidoria defende é que haja um salário digno sem você ter essas gratificações, bônus, que quando o policial se aposenta, caem. Muitos nem querem se aposentar. Então é um problema a ser estudado.

Procurada pela reportagem, a Associação dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo não se pronunciou sobre o assunto até a publicação desta matéria.



A prefeitura diz que, para este ano, o orçamento previsto para a Operação Delegada é de R$ 100 milhões. Em 2009, o investimento foi de R$ 376.767,93 e, em 2010, R$ 24.919.277,81. Os PMs ganham R$ 12,33 por hora (praças) e R$ 16,45 por hora (oficiais). Todos podem trabalhar até 96 horas por mês na operação.

Outro lado

Em nota, a SSP (Secretaria da Segurança Pública), em nome da Polícia Militar e da Polícia Civil, informou que "têm trabalhado firmemente pela redução da letalidade policial". Entre os fatores citados para a diminuição da mortalidade, a SSP cita o Método de Tiro Defensivo para a Preservação da Vida, o controle diário de disparos, o fortalecimento da ação das corregedorias das polícias Civil e Militar, a atuação da Ouvidoria das Polícias e avaliação psicológica dos policiais.

Já a Polícia Militar, mesmo sendo citada pela SSP, enviou nota própria em que afirma que "tem investido fortemente em equipamentos de proteção individual e treinamento de técnicas policiais modernas para dar maior proteção ao profissional. A implantação da atividade delegada é também uma importante medida para aumentar a proteção do PM, pois permite que trabalhe com toda a estrutura de segurança à sua disposição, como sistema de comunicação, armamento, equipamento e apoio, reduzindo assim o risco a que é exposto em atividade extra-Corporação".

Tortura, corrupção policial e grupos de extermínio exigem aperfeiçoamento do controle das polícias pelo MP


26/05/2011

Tortura, corrupção policial e grupos de extermínio exigem aperfeiçoamento do controle das polícias pelo MP




Encontro reúne mais de cem procuradores e promotores em Brasília para definir linhas de ação nacionais no controle externo da atividade policial.

Tortura, corrupção policial e grupos de extermínio exigem aperfeiçoamento do controle das polícias pelo MP

 

Mais pro-atividade, atuação coordenada e padrões de investigação são algumas das medidas sugeridas pelos participantes da abertura do I Encontro Nacional de Aprimoramento da Atuação do Ministério Público no Controle Externo da Atividade Policial. O encontro, promovido pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), reúne mais de 120 promotores e procuradores de todo o Brasil em Brasília, nesta quinta e sexta-feiras, 26 e 27 de maio.

 

Para o presidente do Conselho Nacional do Ministério Público, Roberto Gurgel, a subsistência de práticas como a tortura e os grupos de extermínio tornam fundamental que o Ministério Público se desemcumba a contento da função "árdua e sensível" de exercer o controle externo da atividade policial. "Sem perder o rigor nessa função, não devemos renunciar a manter um diálogo permanente com a polícia, a procurar pontos de consenso que possibilitem o cumprimento dessa função", argumentou.

 

O coordenador do encontro, conselheiro Mario Bonsaglia, presidente da Comissão de Sistema Carcerário e Controle Externo da Atividade Policial do CNMP, destacou que o controle das polícias pelo MP faz parte do sistema de freios e contrapesos que garantem o Estado de Direito. "O próprio Ministério Público está submetido, também, a controle externo pelo Conselho Nacional", observou.

 

Já o presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais, Fernando Grella Vieira, destacou a preocupação com os grupos de extermínio e salientou a importância do poder investigatório do Ministério Público para o exercício do controle da atividade policial, com o objetivo de proteger os direitos humanos.

 

Também participaram da mesa de abertura o senador Pedro Taques (PDT-MT) e as conselheiras do CNMP Maria Ester Tavares e Taís Ferraz.

 

Ajustamento de conduta

Em 2003, no Rio de Janeiro, de um total de 1195 casos de mortes por policiais, 65% foram execuções, conforme dados apresentados pelo antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública e um dos autores dos livros Elite da Tropa e Elite da Tropa 2. Ele definiu a atuação do MP no controle da polícia com a esperança de uma reversão nesse quadro trágico com o qual os cidadãos e as instituições se acostumaram a conviver.

 

Para isso, na sua visão, é preciso que o MP transcenda a dimensão individual dos desvios de conduta por parte de policiais e passe a focar nos mecanismos institucionais que permitem que eles se tornem um padrão. "No meu mundo dos sonhos, imagino um Termo de Ajustamento de Conduta visando a redução da brutalidade policial, o incremento da produtividade nas investigações e o respeito aos direitos humanos", propôs. Nesses acordos, as polícias apresentariam planos de trabalho para recrutamento, capacitação e organização. Seria preciso mudar uma "arquitetura institucional ineficiente, que dispende esforços extraordinários para produzir resultados pífios", como a média nacional de 8% no esclarecimento de homicídios.

 

A abertura trouxe ainda palestras sobre as técnicas de investigação em casos que envolvem a ação de grupos de extermínio, com a procuradora de Justiça Ivana Farina (MP/GO); sobre a atuação do MP no combate à tortura, com a subprocuradora-geral da República Raquel Elias Dodge (MPF); e sobre as técnicas de atuação em casos de execuções sumárias e autos de resistência, com o promotor de Justiça Carlos Roberto Marangoni Talarico (MP/SP).

 

Conclusões

Na tarde desta quinta-feira e na manhã de sexta-feira, 27, os participantes estão trabalhando em grupos para levantar propostas sobre os temas do encontro. O objetivo é propor rotinas, procedimentos e técnicas de investigação. As conclusões dos grupos de trabalho serão apresentadas e discutidas em plenária ainda na sexta-feira pela manhã.

 

SERVIÇO

 

I Encontro Nacional de Aprimoramento da Atuação do Ministério Público no Controle Externo da Atividade Policial

Quando: 26 e 27 de maio

Onde: Hotel Nobile Lakeside Convention (SHTN, Trecho 01, Lote 02, Projeto Orla 03, Brasília-DF)

Veja a programação em PDF

 

Secretaria de Comunicação

Conselho Nacional do Ministério Público

Fone: (61) 3366-9124/34

ascom@cnmp.gov.br

 

Siga o CNMP no Twitter: twitter.com/conselhodomp

Fonte:  http://www.cnmp.gov.br

 


Casal morto no Pará tinha denunciado madeireiros ao MP


Casal morto no Pará tinha denunciado madeireiros ao MP
 

Vinte dias antes de ser morto a tiros, o casal de líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo enviou um documento ao Ministério Público Federal de Marabá denunciando o envolvimento de três madeireiras da região de Nova Ipixuna, no Pará, em crimes ambientais. O denúncia, a que o Estado teve acesso, cita as empresas Tedesco Madeiras, Madeireira Bom Futuro e Madeireira Eunápolis e mostra que a reserva de mata densa já foi quase toda destruída para retirada de madeira.

A reportagem é de Carlos Mendes e publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo, 27-05-2011.

No mesmo dia em que a denúncia foi protocolada no Ministério Público, 4 de maio, o procurador Tiago Modesto Rabelo pediu informações ao Ibama sobre os danos provocados por estas madeireiras na área de preservação do assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, onde os líderes atuavam. Além do casal, nove assentados assinaram o documento.

Uma das denúncias é a produção de carvão na região usada para abastecer empresas do polo siderúrgico de Marabá. De acordo com os assentados, na área existem 500 fornos de carvão construídos nos lotes das famílias. Para derrubar a floresta, as empresas pagam R$ 30 pelo metro cúbico de madeira cujo valor no mercado internacional atinge R$ 1,2 mil. "Os assentados mais frágeis e entusiasmados com a possibilidade de ganhar dinheiro se submetem a essa exploração", diz o documento.

Investigação

O delegado Silvio Maués, diretor de Polícia Judiciária do Interior do Pará, disse ontem que o casal não registrou nenhum boletim de ocorrência sobre as ameaças que sofria. Segundo ele, a polícia está na região para prender os assassinos. Ele informou que todas as pistas estão sendo investigadas, mas considera que ainda é cedo para revelar detalhes sobre o trabalho policial. José Cláudio e Maria foram executados na terça-feira, em uma estrada vicinal da região.

A perícia criminal teve dificuldades para iniciar os trabalhos em Nova Ipixuna, por causa da grande quantidade de curiosos, mas garantiu peças importantes de um quebra-cabeças que pode apontar os responsáveis pelas mortes. Os ambientalistas foram atingidos principalmente na lateral esquerda dos corpos, o que indica a direção dos disparos.

Segundo o perito criminal José Augusto Andrade, o entorno do atentado também foi todo investigado pelos peritos. "Nos casos de emboscadas, assim como em todos os casos de perícia em locais de crime, a gente trabalha com um limite do entorno do sinistro", explicou. A moto do casal, com manchas de sangue, foi analisada. Os peritos trabalham ainda na verificação dos pertences encontrados com as vítimas. O órgão trabalha com um prazo legal de 10 dias para a conclusão dessas perícias.

Ontem pela manhã, cerca de 2 mil pessoas acompanharam o enterro do casal, em Marabá. Além de familiares e amigos, o sepultamento foi acompanhado por líderes sindicais e militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura.


“A única proteção que temos é um guarda que mal sabe atirar”


"A única proteção que temos é um guarda que mal sabe atirar"

"Caso estivesse sendo ameaçado, teria dificuldades para ter alguém do meu lado. A única proteção que temos é um vigia que mal sabe atirar".

A afirmação não é de um camponês intimidado por madeireiros num distante assentamento da Amazônia, mas do principal responsável por apurar mais um caso de assassinato na região mais sensível do estado onde mais ocorreram mortes de lideranças rurais em conflitos do campo no país: o procurador da República em Marabá (PA), Tiago Modesto Rabelo.

O sudeste do Pará, região onde os extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva foram mortos na terça-feira 24, é o epicentro de conflitos no campo no país, que culminaram na morte de 621 pessoas nos últimos 25 anos, incluindo lideranças comunitárias como Dorothy Stang. A cada dez assassinatos de lideranças rurais ocorridos no país, mais de três aconteceram no estado.

Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) apontam ainda que, neste mesmo período, 1.614 indivíduos foram assassinados em todo o Brasil em conflitos no campo.

"A policia infelizmente não conta com efetivo para poder prestar esse tipo de serviço a todas as pessoas ameaçadas na região. É um problema de nível nacional, que nessas regiões mais carentes ocorre com mais frequência", disse Rabelo em entrevista a CartaCapital.

E foi com a companhia de um vigia que "mal sabe atirar" em sua sala na sede do Ministério Público Federal em Marabá que ele atendeu a reportagem, por telefone, um dia após a morte dos ambientalistas

Intimidações

Tiago Modesto Rabelo diz não ter conhecimento das intimidações sofridas pelos líderes assassinados na véspera da entrevista. "No procedimento que existia aqui, em nenhum momento, eles colocaram nos autos que vinham sofrendo ameaças", afirma o procurador.

Os ambientalistas mortos num assentamento da região de Marabá defendiam o manejo sustentável da floresta e denunciavam casos de extração irregular de madeira, desmatamento e carvoarias ilegais. Durante uma palestra, em 2010, José Cláudio registrou que queriam fazer com ele "a mesma coisa que fizeram" no Acre com Chico Mendes e com a irmã Dorothy.

Há cerca de um mês, a propriedade dos extrativistas teria sido invadida por um grupo, que disparou para o alto e contra animais.

Segundo o procurador, no entanto, o incidente não chegou ao MPF. "Se noticiaram esses fatos foi no âmbito das polícias".

Segundo Rabelo, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva se recusaram a entrar no Provita, programa de proteção a testemunhas da Secretaria Especial de Direitos Humanos. As informação foram rebatida pelo advogado da CPT José Batista Afonso, que trabalhava com o casal havia 10 anos. "Não conheço nenhum documento assinado por eles com essa negativa", diz o advogado. "Sempre [as vítimas] diziam que precisavam de proteção", afirma Batista, segundo quem as queixas eram apresentadas em órgãos como Ibama, Incra, Ministério Público Federal e Polícia Civil.

Nas acusações, o casal fazia menções a empresas que estariam retirando madeira ilegalmente, mas o Ibama não conseguia autuar indivíduos específicos pelos crimes ambientais.

Batista ainda afirma que as diversas denúncias dos ambientalistas jamais foram analisadas seriamente pelas autoridades. "O Ibama virava as costas, a Polícia Federal nunca indiciou nenhum dos madeireiros pelos crimes", relata. "A responsabilidade das mortes recai sobre esses órgãos e o estado, que nunca fez uma investigação para prevenir os crimes".

Bate-cabeça

No início de 2010, Rabelo solicitou à Polícia Federal uma investigação sobre eventuais irregularidades na região onde vivia o casal, mas ouviu que "os assuntos não eram de interesse federal". Ele relata que teve de insistir para que o órgão iniciasse um inquérito.

Para o advogado da pastoral, "não há dúvidas de que a responsabilidade por essas ações é da PF, Ibama e Incra".

Andamento do caso

A investigação do caso segue algumas teses, mas o vínculo direto dos assassinatos com as denúncias dos ambientalistas ainda não foi confirmado pelas autoridades. "Requisitei as investigações da Polícia Federal local, porque em tese é possível que haja essa ligação, mas temos que investigar. Nessa fase não há como afirmar isso em concreto", reitera o procurador.

José Batista Afonso, no entanto, diz que não há vontade da polícia paraense em solucionar o crime. "Temos enfrentado muita dificuldade em avançar nas investigações no campo com a polícia. Há descaso, outros interesses envolvidos e, em alguns casos, relações políticas", conta. "Fomos avisados de que Polícia Federal auxiliará nas investigações, mas até o momento não soube de nenhum delegado procurando informações".


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Após morte de extrativistas, manifestantes bloqueiam vias no PA

Após morte de extrativistas, manifestantes bloqueiam vias no PA


 

FELIPE LUCHETE
ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)

Uma manifestação de movimentos sociais, familiares e amigos do casal morto em Nova Ipixuna (PA) na terça-feira (24) paralisou trecho da BR-155, em Marabá, e impediu a passagem de um trem da Vale.

A ponte do rio Tocantins, bloqueada desde as 5h desta quinta-feira, foi liberada somente às 10h.

A ferrovia, que passa no meio da ponte, foi interditada por um pneu queimado. Segundo a Polícia Militar, o trem da Vale que seguia no sentido Carajás-São Félix do Xingu teve de retornar.

Cerca de 2.000 pessoas atravessaram os mais de dois quilômetros da ponte, gritando "vivas" aos líderes extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva.

Acompanhavam o corpo do casal, em direção a um cemitério de Marabá, e carregavam bandeiras do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), CUT (Central Única dos Trabalhadores) e FETRAG (Federação dos Trabalhadores da Agricultura).

O CRIME

O casal foi assassinado na estrada entre o assentamento Agroextrativista Praialta Piranheira e o centro de Nova Ipixuna, por volta das 7h30 de terça. Foram baleados por dois homens, em uma emboscada, segundo a perícia. A Polícia Civil e a Polícia Federal investigam o caso.

Conhecidos do casal dizem que ambos denunciavam madeireiros que cometiam irregularidades. Um dos organizadores da manifestação, Rudá Galileu Silva, disse que o grupo cobrava investigação séria contra a "rede de assassinos" existente na região.


France Presse
José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva

Governo afirma que não sabia de ameaças a líderes mortos no Pará

Governo afirma que não sabia de ameaças a líderes mortos no Pará

Casal, que foi alvo de emboscada anteontem, aparecia em lista de ameaçados da Pastoral da Terra



 
FELIPE LUCHETE
ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)

JEAN-PHILIP STRUCK
DE SÃO PAULO

Representantes de órgãos públicos disseram ontem que desconheciam ameaças de morte aos líderes extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, mortos anteontem em Nova Ipixuna (481 km de Belém).

A Secretaria Estadual de Segurança Pública, a Ouvidoria Agrária -ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário-, o Ibama e o Incra afirmaram não ter registros anteriores de denúncias.
Representantes desses órgãos estiveram no velório do casal, realizado ontem em Marabá, no sudeste paraense. De terno e gravata, acompanhados de agentes da Polícia Federal, chamaram a atenção das dezenas de pessoas que estavam no local.

O velório foi realizado na casa de um irmão de José Claudio, em um espaço que, em dias comuns, é um bar.

Antes da visita, familiares, amigos e membros de movimentos sociais haviam responsabilizado os mesmos órgãos por omissão e afirmaram que eles foram informados das ameaças de morte.
Eles planejavam uma manifestação para hoje. O casal aparece no último levantamento de ameaçados de morte elaborado pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), ligada à Igreja Católica.
Um dos advogados da comissão, José Batista Afonso, disse que órgãos dos governos federal e estadual receberam esse documento.

A sobrinha do casal assassinado, Clara Santos, 24, declarou que eles sofriam ameaças por denunciar madeireiros da região.

O casal morava no assentamento extrativista Praialta Piranheira, na zona rural de Nova Ipixuna, e a casa deles chegou a ser invadida várias vezes quando não estavam.

Para a sobrinha, essas invasões foram sinais de pressão para que cessassem com o ativismo ambiental. "Nós sabemos que o gato vai atrás do rato. Só falta saber qual gato foi o responsável dessa vez", diz a sobrinha.

Em um dos eventos de que participou na Amazônia, José Claudio disse que vivia "com uma bala na cabeça" e que madeireiros queriam fazer com ele o mesmo que fizeram com Chico Mendes, assassinado no Acre, e com a irmã Dorothy Stang, no Pará.

A Polícia Civil diz que ainda não tem pistas dos assassinos. A hipótese é que o crime tenha sido encomendado. Dois homens atiraram no casal enquanto atravessava uma estrada, de motocicleta, em direção ao centro da cidade, conforme a perícia.

A Polícia Federal também abriu investigação para o caso a pedido da presidente Dilma Rousseff. Os inquéritos devem ser paralelos.

Ontem, o velório exibia imagens do casal e faixas com dizeres como "A floresta chora". O acesso para a rua ficou fechado para veículos.

O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, que está em Nova Ipixuna, afirmou que José Claudio não constava em nenhuma relação de ameaçados em conflitos agrários elaborada pela ouvidoria ou pela Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo.

"Ele e seu advogado nos procuraram em novembro do ano passado, mas quando íamos nos reunir, eles cancelaram. Depois nunca procuraram marcar outra data. O assunto morreu", disse.
O ouvidor também diz que, sem detalhar o tipo de ameaça recebido, Silva não poderia receber apoio ou intermediação do ministério.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Belo Monte: projeto ruim em vários aspectos (Míriam Leitão)


NA CBN

Belo Monte: projeto ruim em vários aspectos

Várias empresas estão deixando o consórcio responsável pela usina de Belo Monte, segundo matéria de hoje do Estadão. É o desmonte do consórcio, que não se sustenta mais do ponto de vista empresarial. Segundo a reportagem, Galvão Engenharia, Serveng e Cetenco fizeram pedido formal para sair do consórcio Norte Energia. Nos próximos dias, a Contern, do Grupo Bertin, fará o mesmo. A J. Malucelli Construtora está disposta a se desfazer da sua participação, se houver interessado, e a construtora Mendes Júnior também deverá deixar o consórcio.

À época do leilão, escrevi que tinha vencido o pior consórcio. Não porque o outro fosse bom, mas se organizou, era mais sustentável. Mas o governo interferiu diretamente e organizou outro consórcio para mostrar que havia competição, juntando gente que não entendia bem do assunto. Ficou claro que o consórcio tinha dificuldades graves, que apareceram mais cedo do que se imaginava.

Há dúvidas sobre a viabilidade econômico-financeira desse empreendimento. Ningúem sabe quanto vai custar de verdade. É uma obra de grande porte com incertezas do ponto de vista ambiental, financeiro, de engenharia e quanto à capacidade de produção. O regime hídrico vai oscilar ao longo da vida útil da empresa; a capacidade de produção é de 11 mil megawatts, mas em alguns momentos, será de 2 mil megawatts. Ficará um elefante branco no meio da floresta, longe dos centros de consumo.

O empreendimento é quase estatal, os benefícios fiscais são exagerados. Há uma soma de incógnitas. A coisa mais sensata por parte do governo é interromper esse processo, deixá-lo de lado e pensar em outras formas de produção menos controversas e mais sustentáveis do ponto de vista ambiental. Esse projeto está cheio de problemas.

Zlavoj Zizek: 'O capitalismo não é a única opção para a humanidade'


Zlavoj Zizek: 'O capitalismo não é a única opção para a humanidade'

Em um determinado momento da Primeira Guerra Mundial, em uma trincheira, um soldado alemão envia uma mensagem informando que a situação por lá "era catastrófica, mas não era grave". Em seguida, recebeu a resposta dos aliados austríacos afirmando que a situação deles era "grave, mas não catastrófica".


Essa anedota é representada pelo filósofo Slavoj Zizek para explicar a atual falta de equilíbrio nas discussões sobre as crises mundiais e nas possíveis alternativas para solucioná-las. "Uns acham que vivemos uma situação catastrófica, mas que não é grave. Outros que a situação é grave, mas não catastrófica", expôs o professor nascido na Eslovênia. 

Anne von der Heiden/divulgação

O professor e filósofo Slavoj Zizek

Neste fim de semana, Zizek participou da conferência "Revoluções, uma política do sensível", promovida pelo Instituto de Tecnologia Social, pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, pelo SESC-SP e pela Boitempo Editorial. Com bom humor e comentários ácidos e perspicazes, ele defendeu a importância de um debate alternativo à imposição do capitalismo como única lógica possível de organização. Também criticou a forma como as mídias e os governos pautam a discussão ambiental.

Durante o encontro, o professor explicou que a importância do trabalho filosófico está na prática de "destruição do pensamento dominante". Ele alertou que é preciso colocar um fim à predominância da ideologia capitalista, já que a maioria das pessoas age como se não houvesse outra alternativa.

Comunismo como opção

"Os problemas que enfrentamos são comuns a todos nós, por isso o comunismo é uma alternativa. A utopia que temos hoje é acreditar que soluções isoladas é que vão resolver os problemas mundiais", argumenta Zizek.

Para o filósofo, devemos pensar em uma forma de organização política que "esteja fora da lógica e das regras do mercado". A República Democrática do Congo, segundo o professor, é um sintoma do capitalismo global. "É um Estado que simplesmente não funciona como Estado. Trata-se de uma série de áreas controladas por generais locais que mantêm contratos com grandes empresas internacionais".



Ele afirma que, a todo momento, dizem que comunismo é algo impossível. "Cientistas discutem aperfeiçoamentos genéticos que podem nos dar a imortalidade. Outros falam do uso da telepatia para operar aparelhos. Não podemos deixar que nos digam que o queremos é impossível!", diz.

Zizek cita o exemplo da China onde, segundo ele, foram proibidos livros, filmes, gibis e qualquer outra produção artística e cultural que sugira ou faça referência a realidades alternativas. "No Ocidente, não é preciso que nenhum governo proíba isso, nós encaramos a realidade como se ela só pudesse ser dessa forma", analisa.

Capitalismo ético-social?

O capitalismo tem um enorme poder de absolver as críticas que recebe e de transformá-las em novas fontes de lucro, explica Zizek. "Hoje há uma espécie de capitalismo 'ético-social'. Para você ficar com a consciência mais tranqüila, as grandes marcas dizem que 1% do valor do produto vai para crianças que passam fome ou para plantar mudas de árvores", diz.

Ele esclarece que essa lógica é própria da filosofia norte-americana, que vende a ideia de que, assim, "estamos salvando o mundo". E nos sentimos bem com isso.  

Os problemas capitalistas estão sendo vistos como problemas morais, esclarece Zizek. Para ele, o problema disso é que, a partir desta visão, as pessoas comecem a acreditar que punições ou soluções morais são suficientes para resolver os problemas provocados pelo capitalismo.

"Vejam como o presidente (dos EUA, Barack) Obama tratou a questão do vazamento de petróleo no México. Um problema ambiental foi transformado em um problema legal. Discutiu-se o se a empresa teria de recompensar e de quanto seria essa multa. É ridículo tratar um caso desses como uma simples questão legal", exemplifica.

A crise ambiental

Quando a preocupação com a degradação ambiental ganhou força, a mídia dizia que isso era coisa de comunista que estava arrumando uma desculpa para criticar o capitalismo, conta o filósofo. "Agora há um discurso mais ambíguo, os canais de comunicação dizem, por exemplo, que quando as camadas de gelo derreterem, vai ficar mais barato comprar os produtos chineses", ironiza Zizek.

Para ele, há um "mecanismo de negação" em torno da questão ambiental. "Fala-se tanto da gravidade da natureza, de que o mundo pode acabar em um, dois anos, que isso amortiza a consciências das pessoas. Elas pensam: 'Se eu falar muito nisso, talvez nada aconteça!'" ilustra o professor.

De acordo com Zizek, a ideia de sustentabilidade é um mito e não há "equilíbrio ideal com a natureza para o qual podemos retornar". Uma das ideia mais difundidas é que devemos buscar pequenas soluções para o meio ambiente. "Vocês gostam de torcer no futebol, não? Quando vão ao estádio e ficam gritando e pulando, acham que isso faz o seu time vencer. A reciclagem é igual a essa torcida", brinca Zizek.

Oriente Médio e África

Zizek aponta que as recentes manifestações no Oriente Médio e na África mostram, ao contrário do que o Ocidente afirmava, que eles são capazes de se organizar por questões que vão além do fundamentalismo ou do anti-ceticismo.

Para os padrões ocidentais, a liberdade em um país é medida, principalmente, na existência ou não de mecanismos eleitorais e no respeito aos direitos humanos. "A liberdade, como já dizia Marx, deve ser vista em como se dão as relações sociais. É preciso ver se as pessoas possuem liberdade dentro dos mecanismos sociais".

Segundo o filósofo, o momento mais importante destas revoluções é o "dia seguinte". "Estamos muito animados com estes recentes acontecimentos. Mas a verdadeira revolução precisa acontecer agora".

Garantia Acme

Slavoj Zizek concluiu a palestra com a previsão de que, ainda que demore mais um tempo, o sistema global vai revelar como é frágil, apesar de aparentar ser invencível. "O capitalismo está na mesma situação do Coiote perseguindo o Papa-léguas. Ela já passou a linha do abismo, só falta ele olhar para baixo e ver que não está mais pisando no chão!". 



*colaborou Laís Bellini