quarta-feira, 30 de junho de 2010

Tortura: Critican leyes de amnistía

Tortura: Critican leyes de amnistía

Navi Pillay

25 de junio, 2010  La Alta Comisionada de la ONU para los Derechos Humanos criticó las leyes de amnistía que evitan que los torturadores sean llevados ante la justicia.

En un mensaje por el Día de Apoyo a las Víctimas de la Tortura, que se conmemora este 26 de junio, Navi Pillay destacó que eso ocurre hasta en países de arraigados sistemas democráticos.

"Los torturadores y sus superiores necesitan escuchar este mensaje dondequiera que estén: no importa cuán poderosos sean, existe una elevada probabilidad de que tarde o temprano rendirán cuentas por su inhumanidad", advirtió.

Por su parte, el Secretario General de la ONU se solidarizó con las víctimas de la tortura y reiteró que ese crimen no se justifica bajo ninguna circunstancia, sea un estado de guerra, en respuesta al terrorismo, la instabilidad política o cualquier estado de emergencia pública.

Asimismo, apeló a los Estados a que inviten al Relator Especial de la ONU contra la Tortura a que visite sus prisiones y centros de detención y que le permitan pleno acceso a las personas que se encuentran allí.




MPF cobra na justiça a atualização dos Índices de Produtividade



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Qua, 30 de Junho de 2010 19:51

O MPF ajuizou Ação Civil Pública para obrigar o Ministério da Agricultura a atualizar os índices de produtividade. Atualmente os índices que medem a produtividade das fazendas têm referência em dados de 1975, portanto, não consideram todos os investimentos, pesquisas e desenvolvimento tecnológico, inviabilizando as desapropriações de áreas que produzem muito pouco.


O Ministério Público Federal ajuizou Ação Civil Pública para obrigar o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) a atualizar os índices de produtividade, a base para investigação de um dos elementos da função social da propriedade. Atualmente os índices que medem a produtividade das fazendas têm referência em dados da produção de 1975, portanto, não consideram todos os investimentos, pesquisas e desenvolvimento tecnológico, inviabilizando as desapropriações de áreas que produzem muito pouco.

Os índices de produtividade são as principais referências utilizadas pelo INCRA em processos de investigação para avaliar se as propriedades cumprem a função social e, em não cumprindo estariam passíveis de desapropriação. Como esse parâmetro está desatualizado em mais de 30 anos, muitas terras que não cumprem a função social deixam de ser desapropriadas. Esse é um dos grandes obstáculos da reforma agrária, que segundo o Ministério Público "Quer se queira quer não, a reforma agrária é um claro objetivo da Carta Política de 1988", afirma o documento.

O MPF tinha um procedimento administrativo instaurado desde outubro de 2007 para investigar os motivos da falta de atualização dos índices. Em 2009 o Ministério do Desenvolvimento Agrário realizou estudos e, através de portaria, recomendou a atualização dos índices. Falta apenas o MAPA aprovar esses estudos para que a atualização seja feita.

Na tentativa de realizar a atualização dos índices, sem ter que acionar o Poder Judiciário, o MPF obteve respostas insatisfatórias do MAPA, de que seriam necessários novos estudos para a atualização. Isso levou ao MPF a entender que "poderemos chegar ao absurdo de jamais implementar as atualizações disponíveis, uma vez que, sendo sempre baseadas em dados passados (de um, dois, três ou quatro anos atrás), em verdade, nenhuma atualização poderá se mostrar plenamente consentânea com a realidade do dia em que for publicada. Mas isto não pode, ao contrário do que imagina o Ministério da Agricultura, servir de lastro ao não cumprimento de uma obrigação legal."

Na petição, o MPF alega que foram "esgotadas, assim, todas as tentativas de solução administrativa do problema, e caracterizada a necessidade de atualização dos índices de produtividade, para melhor implementar o objetivo constitucional da reforma agrária, não resta outra alternativa ao MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL senão buscar a garantia da efetivação do comando constitucional perante o Poder Judiciário".

Na ação civil pública o MPF faz referência à representação da Terra de Direitos para a Procuradoria, ao ter destacado que a "ausência de atualização dos índices de produtividade dificulta a realização da política pública da reforma agrária, gerando o agravamento da violência e de conflitos no campo". (Acesse aqui a integra da petição do MPF)

Função Social da Propriedade
A propriedade da terra deve atender a uma função social. Isso significa que o proprietário não pode explorá-la como bem entender, pois tem o dever de respeitar os quatro requisitos constitucionais que determinam o seu direito de proprietário: produzir de modo racional e adequado; respeitar ao meio ambiente e garantir a renovação dos recursos naturais; cumprir a legislação que regulamenta as relações de trabalho, e, finalmente, garantir o bem estar social daqueles que trabalham na terra.

Quando o proprietário não dá destinação social à terra, causa um dano à sociedade. Por isso, nossa constituição pune com desapropriação quem não atenda a tais preceitos. Com a desapropriação, a terra passa a atender a função social quando destinada a agricultores, através da política pública de reforma agrária.

Para o Relator do Direito à Terra, Território e Alimentação, da Plataforma Dhesca Brasil, Sérgio Sauer, "apesar de que o Executivo deveria utilizar os demais critérios para avaliar a função social das propriedades, a atualização do GUT (grau de utilização da terra)e do GEE(grau de eficiência econômica) está de acordo com o espírito constitucional e com os avanços tecnológicos. É inconcebível que o MAPA se recuse a cumprir um preceito constitucional e, contraditoriamente, ainda faça propaganda da eficiência produtiva do grande agronegócio. Junto com esta atualização, é fundamental que o Parlamento aprove a PEC do trabalho escravo, pois isto daria materialidade jurídica a mais um critério constitucional da função social da propriedade.


Câmara aprova efeito imediato de decisões internacionais sobre direitos humanos


Câmara aprova efeito imediato de decisões internacionais sobre direitos humanos

Arquivo - Diógenes Santos
Luiz Couto: estados e municípios podem ser responsabilizados pelas reparações financeiras.

As decisões dos organismos internacionais de proteção aos direitos humanos, cuja competência seja reconhecida pelo Brasil, poderão ter efeitos jurídicos imediatos no País. A medida foi aprovada nesta quarta-feira, de forma conclusiva, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, e consta do Projeto de Lei  4667/04, do deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP). A proposta seguirá para análise do Senado, caso não haja recurso aprovado para que seja votada pelo Plenário.

A comissão aprovou substitutivo do relator, deputado Luiz Couto (PT-PB), que retoma a proposta original de Cardoso, incorporando algumas sugestões feitas ao texto quando ele foiaprovado pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias em 2006.

Couto explica que o texto aprovado naquela comissão não condiciona a produção de efeitos jurídicos das decisões dos órgãos internacionais ao reconhecimento prévio do poder jurisdicional desses órgãos pelo Estado brasileiro.

Legislação ordinária
Segundo Cardoso, embora o Brasil participe de organismos internacionais e seja signatário de vários tratados sobre direitos humanos, as decisões dessas instâncias não estão sendo respeitadas pelo País. "O Poder Executivo manifesta interesse no cumprimento das decisões dos organismos de proteção, seja no âmbito regional ou global, porém alega a inexistência de legislação ordinária nacional destinada a disciplinar a matéria", argumenta.

De acordo com a proposta, quando a decisão do órgão internacional de direitos humanos implicar o pagamento de indenizações, a União poderá efetuar o pagamento, mas deve entrar com ação regressiva contra as pessoas físicas ou jurídicas, privadas ou públicas, responsáveis pelos atos ilícitos que motivaram a cobrança.

Couto adotou nesta parte a sugestão da Comissão de Direitos Humanos, de que estados e municípios brasileiros também possam ser responsabilizados pelas reparações, mesmo que os órgãos internacionais acionem o País por uma violação.

A proposta havia sido aprovada anteriormente pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.

Íntegra da proposta:

Reportagem - Marcello Larcher 
Edição - Newton Araújo

Rio paga reparação simbólica a 150 ex-presos políticos

Rio paga reparação simbólica a 150 ex-presos políticos
30 de junho de 2010  13h03  atualizado às 13h11



O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, Ricardo Henriques, concedem, nesta quarta-feira, reparação simbólica a 150 ex-presos políticos do regime militar. Assim, chegará a 283 o número de beneficiados pela reparação da lei 3744/2001, que prevê R$ 20 mil em pagamento único, na atual administração.

De acordo com a assessoria de imprensa da secretaria, cerca de 550 ex-presos políticos ainda receberão a reparação, incluindo a candidata à presidência da República pelo PT, Dilma Rousseff.

Aguardam julgamento outros 120 processos, que devem ser definidos até setembro. A cerimônia acontecia, por volta das 12h30, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no centro do Rio.

O governador aproveitará a ocasião para sancionar o decreto de criação do Comitê Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo, a lei que cria o Comitê Estadual para a Prevenção e Combate à Tortura e a lei que estabelece o Conselho Estadual dos Direitos Humanos, a ser formado por representantes do Estado e da sociedade civil.

No mesmo evento, entre outros projetos, haverá ainda o lançamento, no Rio, do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, iniciativa que visa a proteger ativistas ameaçados por sua atuação na área.




segunda-feira, 28 de junho de 2010

CNMP aprova resolução sobre inspeção em prisões


Os presídios de todo o país deverão passar por inspeção. Na terça-feira (22/6), o Plenário do Conselho Nacional do Ministério Público aprovou Resolução que cria regras para padronizar a fiscalização dos sistemas prisionais por membros do Ministério Público. O objetivo é criar um banco de dados nacional sobre o tema.
Segundo o texto, os procuradores e promotores incumbidos do controle do sistema carcerário deverão fazer visitas mensais às prisões sob sua responsabilidade. A regra também exige a elaboração de relatórios das visitas, a serem encaminhados aos respectivos corregedores-gerais até o dia cinco do mês subsequente.
Feitos com base em formulário aprovado pela Comissão de Controle do Sistema Carcerário do CNMP, os relatórios deverão ter informações sobre as instalações físicas, recursos humanos e ocupação das prisões, perfil da população carcerária, entre outros dados. Os corregedores-gerais ficam responsáveis por inserir os dados dos relatórios em sistema informatizado a ser criado pelo CNMP.
Apresentado ao Plenário pelo conselheiro Maurício de Albuquerque e aprovado por unanimidade, o texto da resolução é resultado das discussões feitas no I Encontro Nacional de Aprimoramento da Atuação do MP junto ao Sistema Carcerário. Com informações da Assessoria de Imprensa do CNMP.

domingo, 27 de junho de 2010

Ministro de Lula diz ao JC que militares devem pedir desculpas pela ditadura

POSTADO ÀS 11:40 EM 27 DE Junho DE 2010
Por Paulo Sérgio Scarpa
O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, revelou que um de seus desejos é ver o pedido formal de desculpas das Forças Armadas pelos 21 anos de ditadura (1964-1985) no País. "O que nós queremos é que não haja nenhuma confusão sobre a deposição do presidente João Goulart, dia 1º de abril de 1964, que foi ato inconstitucional e inaceitável e que algum dia as Forças Armadas – e eu quero que seja o mais rápido possível, ainda no governo do presidente Lula e vou me esforçar junto a ele para isso – façam pedido formal de desculpas, como os países vizinhos já fizeram", afirma nesta entrevista ao JC, concedida na semana passada. Vannuchi veio ao Recife para o lançamento do livro Luta, substantivo feminino (Cepe) sobre o desaparecimento, tortura e mortes de mulheres na resistência contra a ditadura militar.
Jornal do Commercio - Como a criação da Comissão Nacional da Verdade contribuirá para o fortalecimento da democracia brasileira?
Paulo Vannuchi - Em 13 de maio, o presidente Lula enviou, enfim, ao Congresso, o projeto de lei instituindo a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Se aprovado pelo Legislativo, irá finalizar o País com seus vizinhos que têm trabalhado melhor que o Brasil o aprendizado do período terrível de ditaduras: no Uruguai, na Argentina, no Chile, mesmo o Paraguai. É muito importante essa primeira ação do Programa Nacional dos Direitos Humanos 3. O presidente Lula lançou o PNDH-3 dia 21 de dezembro de 2009, no meio de uma enorme controvérsia nacional.
JC - O senhor se refere à revisão da Lei da Anistia?
Vannuchi - Entre 521 propostas do PNDH-3, provavelmente, uma enorme parte das reações decorre dessa proposta que foi a primeira a ser concretizada. Por que? Porque não nos peçam para esquecer que houve uma ditadura, tempos difíceis, duros. O governador Miguel Arraes foi arrancado de seu posto que o povo tinha lhe conferido por voto, por Constituição democrática, foi preso um ano e exilado durante 14 anos. E, quando retornou, o povo pernambucano, para não deixar dúvida, o elegeu por mais duas vezes e, agora, elegeu o seu neto. Nesse sentido é importante ter claro que não se trata de fazer escavação arqueológica do passado. O passado importa porque constrói o presente e o futuro. Se nós decidirmos soterrar esse assunto, corremos o enorme risco de repetí-lo mais tarde. E se transformarmos o que ocorreu em aprendizado, através da mídia, nas escolas, nós certamente construiremos o Brasil com mais chances de não repetição da ditadura.
JC- Em que medida a criação da CNV entra em conflito com a decisão do STF de não mexer na Lei da Anistia, de 1979?
Vannuchi - Avalio que não há conflito. Pelo contrário, há um efeito até da decisão do STF de facilitar a aprovação no Legislativo. Como no Brasil o tema não está resolvido, há segmentos que eram lideranças políticas naquele período que sobrevivem, estão aí participando da vida política e não têm interesse em abrir discussão sobre esse passado porque essa lembrança lhes é negativa. Haveria mais resistência de aprovação no Legislativo se pairasse o risco de punição. Como o STF decidiu, no nosso ponto de vista, por um equívoco, mas decisão do Supremo se respeita sempre, nós discordamos porque temos o direito de discordar, mas acatamos o que o STF decidiu por equívoca que a Lei de Anistia protege torturadores na contramão de todo o direito internacional dos Direitos Humanos.
JC - O que se pode tirar da decisão do Supremo?
Vannuchi - Nesse sentido, até jornais que se opuseram ao PNDH-3, quando houve a decisão do STF, em editoriais disseram que a decisão era correta, mas que nada tinha a ver com a necessidade de abrir todos os arquivos, conhecer como tudo aconteceu, o que funciona como uma sinalização positiva. E o argumento do Legislativo vai ficar mais fácil. O STF tomou uma decisão da qual é impossível processar penalmente, paira ainda dúvida se é possível um processo civil, mas o civil não dá cadeia, dá declaração de que as pessoas torturaram, de que elas foram responsáveis por essas violências.
JC - O processo civil seria contra os mandantes e os torturadores, ou só contra os torturadores?
Vannuchi - Aí depende. A sociedade brasileira provocou pouco o Judiciário. No Chile, na Argentina, no Uruguai são centenas de ações. No Brasil, são meia dúzia e, entre eles, duas ou três ações civis declaratórias, no caso duas famílias de vítima processaram os comandantes do DOI-Codi de São Paulo. E eu indago porque isso não acontece também em Pernambuco, na Bahia, no Rio Grande do Sul, para que as pessoas demonstrem, primeiro, acreditar no Judiciário, que certamente não é um poder que não vai decidir contra a demanda dos familiares das vítimas. O Judiciário tem juízes com todas as mentalidades. Portanto, quando mais ações desse tipo, melhor. Agora, nesse momento, evidentemente, um ação penal seria sentida como provocação ao STF. Isso não se faz.
JC - O que se deve fazer, então?
Vannuchi - Por outro lado, até dezembro, o País deverá conhecer o resultado final no longo processo na Comissão Interamericana de Direitos Humanos, na Corte dos Direitos Humanos da Costa Rica, que fez a sua audiência final e, na luz do que já decidiu, no caso do Pero, Chile e outros países, é provável que ela oriente o Brasil a rever a sua Lei de Anistia porque as lei de anistia não podem ser auto-anistia. A lei de 1979 é uma leia que evidentemente teve aspectos positivos, abriu as portas do País para a volta de Arraes, Brizola, Prestes, Amazonas, Apolônio de Carvalho, Betinho, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, pessoas que ajudaram o País a caminho da democracia. A polêmica em torno da anistia é só um aspecto: a interpretação que se formou fora do Judiciário, na imprensa, no jeitinho brasileiro de se fazer traduções, na linha de que a expressão crimes conexos também protege torturadores, só que numa análise jurídica fria ela não se sustenta, e eu lamento que, à exceção dos ministros Ricardo Lewandowski e Ayres Britto, os demais acabaram se apoiando na decisão de uma leitura equivocada do que foi a Lei da Anistia.
JC - Dê um exemplo, por favor.
Vannuchi - Por exemplo, longas argumentações de que a anistia aprovada em agosto de 1979 era aquela que o povo e as universidades queriam, e não é. Basta ler os jornais da época para corrigir esse equívoco. Aquele projeto da oposição, do MDB e da OAB foi derrotado e prevaleceu aquele escrito por Petrônio Portela para João Baptista Figueiredo. Deixou os presos da resistência armada na cadeia, só saíram 14 meses depois. E, mais tarde, foram abrandando as interpretações para soltar os presos. Eu até respeitaria mais a decisão do STF se ela ficasse na linha de que não podem ser punidos torturadores porque naquele momento a Constituição era a de 1946, e não a Constituição dos militares, de 1967, porque quem faz a Constituição é o poder popular soberano constituinte, não são os quartéis. Então, a Constituição que vale é a de 1946 e, por essa Constituição, Arraes jamais poderia ter sido arrancado de sua cadeira de governador de Pernambuco, e aquele Constituição não estabelecia que o crime de tortura é imprescritível, como a Constituição de 1988 estabelece. Só que os fatos são dos anos sessenta e setenta e, evidentemente, o argumento de que a lei não pode ser feita para trás. Sem muito rigor, eu poderia discordar desses argumentos, mas lamento muito o equívoco de interpretação dizendo ter confundido a Anistia de 1979 com aquela com o clamor estudantil e democrático.
JC - As Forças Armadas devem temer a CNV ou, pelo contrário, deve se beneficiar dela porque os militares de hoje não sãos os da ditadura?
Vannuchi - Como mantra, por onde eu passo, digo que os beneficiados da CNV serão os familiares que terão uma satisfação muito precária porque a dor não é reconstruída, as pessoas não vão renascer mas pelo menos passam a ter uma informação sobre o que aconteceu. Mas, entre os grandes beneficiados estão as Forças Armadas porque é injusto se estabelecer um manto corporativo protetor pelas Forças Armadas de hoje. Exército, Marinha e Aeronáutica, que estão interagindo em sintonia em sintonia com os preceitos da Constituição, os quartéis não elegem mais o presidente, os governadores, os senadores biônicos. Hoje, as Forças Armadas são disciplinadas e estruturadas, e mais do que isso vivem situações em localidades distintas e inóspitas, com sacrifícios pessoais e dos familiares, baixos salários, e então é muito importante para uma democracia que cada cidadão perca qualquer preconceito contra as Forças Armadas devido à outra época e passe a ter orgulho e respeito por elas, como nas democracias os cidadãos as respeitam. E é um equívoco, então, estendendo um manto corporativo, que o Exército é o mesmo daquele tempo. Eu também sou a mesma pessoa que nasceu em 1950, mas somos diferentes, nós crescemos, amadurecemos, e isso vale para o Exército, Marinha e Aeronáutica. Naquele momento, regia a Lei da Segurança Nacional, que via inimigos internos em qualquer estudante, teatrólogo, cineasta, músico, compositor. Qualquer dom Helder Camara que criticasse o regime era classificado como inimigo do Estado e da Nação. E havia, então, todo o processo que ia da censura à cassação de mandato até a morte sob tortura ou desaparecimento. E temos muitos casos, como o de Capistrano da Costa, deputado constituinte mais votado em 1947, que em alguns livros consta que ele foi esquartejado, retomando àquelas práticas truculentas da Inconfidência Mineira. Então, é difícil saber o que as Forças Armadas pensam porque pela natureza delas, não se pode fazer uma pesquisa de opinião, mas é preciso apostar na linha de que seja uma minoria que mantém essa mentalidade da guerra fria. Até porque a guerra fria acabou entre comunismo e capitalismo.
JC - Como o senhor explica esse silêncio por parte da sociedade brasileira sobre esse tema? O País não tem memória?
Vannuchi - Essa luta é muito importante, sagrada, porque não é apenas a memória do regime militar entre 1964 e 1985, é mais do que isso, é confrontar a nossa história de País em relação a essa ideia de que um povo sem memória é um povo sem alma. É um problema muito grande: a história do Brasil é como o País lida com a sua memória. Por exemplo, aprendemos que a escravidão foi um fenômeno muito cruel durante três séculos, com o trabalho feito por pessoas concentradas em pessoas capturadas e sequestradas na África através dos navios negreiros e mantidos sob tortura nos pelourinhos. Se o brasileiro aprende isso, terá mais facilidade para entender o porquê de tanta violência em São Paulo, Rio, Salvador e Recife. Não foi a princesa Isabel que libertou os escravos, ela foi o coroamento final de um longo processo que tem em Joaquim Nabuco um de seus personagens mais importantes. Assim, hoje, o argumento acerca de que o debate sobre a tortura na ditadura militar precisa ser encerrado porque aquele pessoal foi morto sob tortura e fizeram muito bem em matar sob tortura. Ninguém diz assim, argumentam que não é o tema do momento, etc., Vamos pensar para frente. Então, vamos pensar que a História é um tesouro de lições para um país se aperfeiçoar. Então, estamos no meio de um debate confrontando um debate no qual tem de ser feito na linha de que, primeiro, nós queremos repetir aquele período? Não. Segundo, nós entendemos que o mal estava de um lado e o bem de outro? Não. Isso é maniqueísmo, a vida política nunca é assim. O que nós queremos é que não haja nenhuma confusão sobre a deposição do presidente João Goulart, dia 1º de abril de 1964, que foi um ato flagrantemente inconstitucional, inaceitável e que em algum dia as Forças Armadas - e eu quero que seja o mais rápido possível, ainda no governo do presidente Lula e vou me esforçar junto a ele para isso - façam pedido formal de desculpas, como os países vizinhos já fizeram. E, no ensino militar, explicar que não existe mais o perigo do comunismo que os historiadores já derrubaram. Nesse sentido é preciso ter claro que cada um vai continuar achando o que quer do regime militar ou da resistência ao governo porque, nisso, a democracia não tem como interferir, assim como na liberdade religiosa, times de futebol, opiniões políticas. Ninguém tem problemas com o eleitor da Arena, nós queremos aquele torturador que estuprou, aqueles que seviciaram, que promoveram o aborto. É bom para as Forças Armadas deixarem esse assunto sumido, espalhado. As mulheres estão vidas e continuarão a depor dizendo que foi no quartel da PM, do Exército, na polícia federal. É muito importante, então, que cada uma das instituições militares se apresente dizendo: lamentamos aquele período e, hoje, no ensino militar e policial é diferente completamente e pautado na lei e nos direitos humanos. Se conseguirmos isso, teremos cumprido o objetivo mais central.
JC - Durante os debates sobre o PNDH-3, o JC recebeu muitas cartas questionando se o governo Lula iria cuidar apenas de um lado, esquecendo-se dos mortos pelos militantes da resistência.
Vannuchi - Isso é uma controvérsia que apareceu muito distorcida porque o Brasil tinha perdido quase inteiramente a memória do que ocorreu. Então, anos depois, aparece o debate e as pessoas dizem, peraí, só teve violência apenas de um lado? Nessa questão, as Comissões da Verdade são instrumentos que a ONU e OEA promovem no mundo inteiro. Regimes ditatoriais em trânsito democrático não podem inaugurar a democracia esquecendo-se que tem de fazer quatro processos básicos: 1) reconhecer a responsabilidade do Estado, e o Brasil já fez isso na Constituição de 1988, na Lei 9140/85 e na Lei 10.559/2002; 2) a ideia de reparação que a ONU e OEA promovem e a reparação simbólica através do lançamento de livros; 3) investigar criteriosamente os crimes, dando consequência jurídico-penal; 4) e promover políticas públicas para a não repetição (da ditadura), com formação policial contra a tortura, que é preciso obter a confissão do criminoso sem torturá-lo, respeitando seus direitos humanos. Isso tem de ser passado com políticas públicas. E se conhece 30 Comissões da Verdade que têm como regra geral não examinar os dois lados porque só se faz isso quando há condições, como na Colômbia, onde houve territorialidade diferente. Há regiões onde a guerrilha da Farc dominou, ali elas sequestraram, mataram, violaram os direitos humanos. No caso do Brasil, a violência dos insurgentes (militantes políticos) tinha o fundamento histórico, jurídico e bíblico do direito de rebelião contra a tirania e a opressão. Se fosse um estudo democrático, não tem direito que se subordine contra o Estado, se subordina contra a Constituição, mas numa ditadura, não. Foi imposto pela força. Está em São Tomás de Aquino, em John Locke, no preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos. 2) Foram os presos políticos punidos, "punidissimos", com dez anos de cadeia, mortes sob tortura. Então, toda a ideia de se investigar os dois lados carece de sentido. Evidentemente, como no Brasil as opiniões sob esse período são confusas, a Comissão Nacional da Verdade terá mais respeito quando lançar seu relatório final se ela for capaz de mostrar o que aconteceu. No Aeroporto dos
Guararapes, por exemplo, em 1966, houve insurgentes que colocaram uma bomba que matou pessoas ou que Carlos Lamarca, no Vale do Ribeira (SP), prendeu o tenente Alberto Mendes Júnior e que nas condições que os documentos dizem, ele foi executado a coronhadas. Evidentemente não há alegação de práticas de torturas a menos que se tente qualificar como tortura, por exemplo, a captura (sequestro) do embaixador norte-americano. Afinal, ele não sabia se continuaria vivo ou se seria morto.
JC – Até quando ficaremos sem saber ao certo o que aconteceu na Guerrilha do Araguaia?
Vannuchi - O Ministério da Defesa cumpre decisão judicial da juíza federal Solange Salgado, de Brasília, que condenou o Estado a apresentar os corpos dos guerrilheiros, abra todos os documentos e arquivos e informe quem foram as pessoas que mataram, quando e onde. Claro que a sentença pode esbarrar na questão da impossibilidade factual de cumprimento. Se você não souber onde estão os corpos, não tem como apresentar os corpos às famílias. Essa busca tem mais de trinta anos, as famílias fizeram pedidos informalmente e no governo Lula fizemos essa busca por orientação do presidente. Ele define seu governo assim: punição é assunto do Judiciário, não do Executivo, que a Justiça decida sobre isso e o Executivo deve reconhecer o direito dos familiares das vítimas saberem tudo e obterem os corpos. O presidente Lula me convenceu a assumir o cargo com esse argumento no sentido de que era preciso fazer desse jeito. Nesse sentido, o ministro Nelson Jobim entendeu que era preciso e se criou o grupo de supervisão, com familiares da Guerrilha. Amanhã recomeça a busca lá. Há um ano se faz a busca e ela é a primeira busca séria com procedimentos, com radares de solo, com todos os peritos e a presença de jornalistas. Então não pode haver dúvida da boa vontade, mas boa vontade não basta. Continua padecendo de um pecado original: os militares que estão vivos, que têm informação para dar, não dão porque permanece esse ponto de vista equivocado de que é melhor soterrar. Não soterra. Esse assunto ficará daqui a cinco, dez anos.
JC - O próprio PCdoB não tem interesse em desvendar o que aconteceu porque alguns guerrilheiros teriam sido mortos pelos próprios companheiros.
Vannuchi - Existe essa controvérsia, mas a direção do PCdoB na pessoa de Aldo Arantes, que foi presidente da UNE e preso político, ele foi à região, participou das atividades e tem revelado, assim como o presidente do partido, Renato Rabelo, tem revelado um empenho muito aberto de contar o que aconteceu. Sobre essa controvérsia, o PCdoB negou as versões que falam da execução feita pelo partido. Nesse sentido, claro, a Comissão da Verdade terá muita autoridade. O bispo Desmond Tutu foi o presidente da Comissão da Verdade na África do Sul e ela foi importante para unificar aqueles país. Eu gostaria que até o final desse ano houvesse tempo para aprovar a Comissão da Verdade, para que o próximo presidente ou presidenta possa instalar a comissão no primeiro dia de seu mandato. A Argentina contabiliza 30 mil mortos, no Brasil falamos em 400 mortos, o mesmo número de vítimas da ditadura no Uruguai, que tem população 60 vezes menor que a brasileira. Na Guatemala são 250 mil e, em El Salvador, 60 mil. Nesse sentido, a violência no Brasil é muito mais viável você fazer o processamento disso e dizer que ações da resistência também promoveram a morte de pessoas. Agora, evidentemente, sem essa de levantar a discussão de que vai punir. Como se irá punir o Rubens Paiva, o Stuart Edgar Angel Jones, o David Capistrano da Costa, o padre Henrique Pereira Neto? Eu, pessoalmente, penso que se a ONU/OEA tomar uma decisão que leve o STF a reexaminar a questão, acho que será muito importante que haja punição. Agora, a punição não precisa ser jogar na cadeia cada um, nem, sei se estão vivos ainda (os torturadores). Não se trata de enfiar pessoas na cadeia, o importante é dizer que aquele torturador teve uma decisão judicial que o considerou responsável pelo estupro, pelo aborto e pelo desaparecimento de fulana.
JC - Por que a ex-ministra e candidata do PT Dilma Rousseff não está no livro...?
Vannuchi - Não está por razões óbvias. Pegamos a alternativa de 28 depoimentos de mulheres, mas teríamos alternativas de ter muito mais do que 280 depoimentos de mulheres na resistência. E quando foi feito o livro, a Dilma já era uma pré-candidata à Presidência a República. Se incluísse a Dilma, você suscitaria toda uma suspeita de interesse eleitoral, de querer promove-la. Então, a decisão foi não tocar na história dela.
JC - O senhor espera que a sociedade um dia terá acesso a todos os documentos da ditadura militar?
Vannuchi - O objetivo é esse, mas se vai ter ou não...porque a história é sempre um jogo em aberto, mas vai depender de quem trabalhar melhor. O nosso trabalho é sem revanchismo, não é contra, é a favor, embora haja pessoas que participaram da mesma luta que não pensam da mesma forma. Quando falo que aceitamos a ideia de concórdia e de reconciliação nacional, há familiares de vítimas que não concordam, e eles têm todo o direito. Mas quem trabalha com direitos humanos projetam muita paz e na paz é preciso conciliar. Não é possível garantir que as Forças Armadas um dia irão fazer, mas se o País continuar nessa rota de crescimento, fortalecimento democrático e alternância de partido no poder, distribuição de renda, a chance de chegar a essa etapa será cada vez maior.



quinta-feira, 24 de junho de 2010

Adiado julgamento da federalização do caso Manoel Mattos


 

Da Agência Brasil

Brasília – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) adiou o julgamento do pedido de federalização do caso Manoel Mattos, advogado morto no interior da Paraíba em janeiro de 2009. O assassinato é atribuído a supostos envolvidos com o esquadrão da morte que nos últimos dez anos matou 200 pessoas na divisa de Pernambuco com a Paraíba.

Na prática, o adiamento deixa para o segundo semestre (após as férias do Poder Judiciário) o julgamento do caso previsto para hoje (23), mas foi adiado a pedido da relatora, ministra Laurita Vaz. Ela precisou de mais prazo para estudar os documentos enviados recentemente pela Procuradoria-Geral da República (PGR), autora do pedido de federalização em junho do ano passado.

O adiamento provocou a reunião da comissão especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) com os defensores dos direitos humanos e outras pessoas que acompanham a federalização do caso. Segundo nota da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), a mãe do advogado assassinado, Nair Ávila dos Anjos participou da reunião e defendeu a federalização. "Só assim a justiça será feita", disse ela.
 
 
Edição: Aécio Amado

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Viciados são parte da crise penitenciária Opinião d'O Globo


Levantamento do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) com os números da população carcerária do país revela que, para cada dez vagas disponíveis no complexo prisional, existem em média 16 presos. Esta relação, com dados referentes a de-zembro de 2009, dá a medida de um problema que se avoluma a cada ano.

À entrada de novos presidiários no sistema, que se juntam à massa de quase 474 mil detentos recolhidos às celas em todos os estados, não cor-responde uma contrapartida de cons-trução de novos presídios para aten-der à demanda. Por outro lado, esti-ma-se que, por diversas razões, 200 mil mandados de prisão não estão sendo cumpridos.

Prende-se pouco e mal no Brasil. Reduzir os índices de criminalidade, mostra a experiência de cidades como Nova York, pressupõe prender mais. O desnível na relação entre o total de detentos e a quantidade de vagas nas prisões brasileiras é evidência indiscu-tível de que o país precisa de mais presídios.

Esta, no entanto, é a face mais pragmática do problema da superlotação das cadeias, e de solução a longo prazo. A situação explosiva dos presídios não requer apenas planos estratégicos, até porque há espaço para reduzir a atual população carcerária e abrir vagas no sistema. O país precisa parar de prender mal.

Assim como há gente solta que merece estar atrás das grades, há, no universo de detentos, aqueles que não deveriam, ou não precisariam mais ali estar.

Falhas na execução penal (fonte de injustiças na aplicação de penas), interpretações equivocadas da legisla-ção e deficiências do Judiciário (o que dificulta, por exemplo, a aplicação de penas alternativas) contribuem para potencializar distorções que contrariam o princípio correcional do sistema penitenciário.

As prisões brasileiras recuperam pouco, ou ao menos em níveis aquém do ideal.

Por outro lado, acabam se tornan-do uma espécie de centros de aperfeiçoamento da criminalidade, em razão da inaceitável promiscuidade de detentos recuperáveis com bandidos de alta periculosidade, cujo lugar, de fato, é a cadeia.

Esta realidade se estende, e de forma particularmente mais dramática, aos usuários de drogas que, mesmo não tendo sido condenados por tráfico, ainda assim acabam amargando a prisão. O Judiciário tem dificuldades que impedem a aplicação de penas alternativas aos dependentes. Os Juizados Especiais não estão aparelhados para julgar os viciados, e disso decorre que nem sempre é possível enviá-los para tratamento em instituições especializadas - quando elas existem.

Preserva-se, então, pela lei da inércia, o desumano prisma que leva a enxergar o problema do dependente como um caso de polícia, e não de saúde pública.

Segundo o Conselho Nacional de Justiça, apenas alguns juizados do Rio, do Distrito Federal e de São Paulo avançaram na interpretação da Lei Antidrogas de 2006, que determinou a adoção de penas alternativas para os usuários. A gravidade do caso levou o CNJ a obrigar os Tribunais de Justiça a criar equipes para captar redes de atendimento a dependentes.

É medida positiva, mas de alcance limitado.

O problema exige soluções estruturais, que passam por mudanças profundas em todo o sistema correcional do país.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Polícia Federal rebate denúncias de maus-tratos a índios na Bahia

10/06/2010

Luciana Lima
Repórter da Agência Brasil
 
Brasília - O coordenador-geral de Defesa Institucional da Polícia Federal, delegado Marcos Aurélio Pereira de Moura, disse que são distorcidos os fatos relatados na denúncia de abuso por parte de agentes da Polícia Federal contra índios da etnia Tupinambá, no sul da Bahia. A denuncia foi enviada ontem (9) à Organização das Nações Unidas (ONU) pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e pela ONG Justiça Global.
 
"Os fatos estão distorcidos. A situação no sul da Bahia é muito mais complexa. Um estudo antropológico concluiu que há muitos anos havia a presença de índios da etnia Tupinambá na área. No entanto, há fazendeiros com títulos de terras também muito antigos", disse o delegado. Ele afirmou que a Polícia Federal vem agindo em cumprimento de ordens judiciais. "Os índios alegam que estão agindo em retomada, mas estão fazendo invasões de forma muito violenta. Nós, da Polícia Federal, estamos no meio disso tudo.".
 
A denúncia está contida em dois informes. Um deles trata da prisão, considerada ilegal pelas organizações, da líder indígena Glicéria de Jesus da Silva, conhecida como Glicéria Tupinambá, integrante da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), órgão consultivo do governo vinculado ao Ministério da Justiça.
 
Outra parte de denúncia se refere a torturas que teriam sido sofridas por cinco indígenas Tupinambá em junho de 2009. O informe também cita outra prisão considerada ilegal: a de Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como cacique Babau, irmão de Glicéria, em 10 de março deste ano.
 
Segundo o delegado, dois procedimentos já foram realizados pela Polícia Federal para identificar se os agentes cometeram abusos contra os indígenas nas operações de reintegração de posse. Foram instaurados uma sindicância interna e um inquérito policial que, de acordo com ele, concluíram que os agentes federais agiram de forma correta. "Esse inquérito foi acompanhado pela Procuradoria da República em Ilhéus.".
 
"Houve uso da força, mas não houve abuso no uso da força", ressaltou o delegado. Segundo ele, as marcas encontradas em índios, durante exame de corpo de delito feito após uma das operações, foram provocadas por armamento não letal, conhecido como taser, que emite choques elétricos ."Houve danos físicos aos índios e houve também danos físicos aos policiais, as não houve abuso."
 
De acordo com Moura, caso a Polícia Federal seja convocada a prestar esclarecimentos sobre as denúncias apresentará essas investigações como resposta à ONU. "Tudo que estou falando aqui fará parte de um documento a ser encaminhado. O que a Polícia Federal tem feito até agora é cumprir as decisões do Poder Judiciário."
 
Edição: João Carlos Rodrigues

Agentes da PF são denunciados à ONU por perseguição a índios

 

Agência Brasil

Publicação: 09/06/2010 18:30

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a ONG Justiça Global, organizações que atuam na defesa dos direitos humanos no Brasil, enviaram nesta quarta-feira (9) à Organização das Nações Unidas (ONU) denúncia de que agentes da Polícia Federal têm perseguido índios da etnia Tupinambá, no sul da Bahia.

A denúncia está contida em dois informes. Um deles trata da prisão, considerada ilegal pelas organizações, da líder indígena Glicéria de Jesus da Silva, conhecida como Glicéria Tupinambá, integrante da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), órgão consultivo do governo vinculado ao Ministério da Justiça.

Outra parte de denúncia se refere a torturas que teriam sido sofridas por cinco indígenas Tupinambás em junho de 2009. O informe também cita outra prisão considerada ilegal: a de Rosivaldo Ferreira da Silva, conhecido como cacique Babau, irmão de Glicéria, em 10 de março deste ano.

Entre as vítimas da tortura, o Cimi e a Justiça Global citam, na denúncia, os nomes de Ailza Silva Barbosa, Alzenir Oliveira da Silva, Calmerindo Batista da Silva, Mário Oliveira Barbosa e José Otávio de Freitas.

De acordo com o documento, no último dia 2, Glicéria participou da reunião da CNPI com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No encontro, ela teria relatado perseguições da PF a lideranças Tupinambás na Bahia.

No dia seguinte, de acordo com a denúncia, quando tentava retornar para sua aldeia, Glicéria foi detida logo ao descer do avião, ainda na pista de pouso do aeroporto da cidade de Ilhéus. Segundo a denúncia a líder indígena estava com Erúthawã, seu filho de dois meses, no colo, quando foi detida.

De acordo com a denúncia, após ser interrogada durante toda a tarde na sede PF, em Ilhéus, sempre com o bebê no colo, Glicéria recebeu voz de prisão.

A denúncia informa ainda que a prisão foi decretada pelo juiz Antônio Hygino, da Comarca de Buerarema. O magistrado alegou que Glicéria teria participado do roubo de um veículo da empresa que presta serviço de energia na região.

"A prisão se deu em pleno feriado de Corpus Christi, decorrendo daí dificuldades de acesso aos autos mencionados e à divulgação da prisão. Mãe e filho foram transferidos no dia seguinte para um presídio na cidade de Jequié, distante cerca de 200 quilômetros da aldeia", diz o documento.

As organizações de defesa dos direitos humanos informaram ainda que ontem (8) foi apresentado pedido de habeas corpus para Glicéria pela Fundação Nacional do Índio (Funai), no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ/BA). "Entretanto, o recurso sequer foi distribuído para análise do desembargador competente", destaca o documento.

Já a prisão do cacique Babau, conforme o relato feito pelo Cimi e pela Justiça Global , ocorreu na madrugada de 10 de março último. De acordo com o documento, cinco policiais federais, fortemente armados, arrombaram e invadiram a casa do cacique, na Serra do Padeiro. "O mandado de prisão não foi apresentado pelos policiais. Segundo seus familiares, no momento da prisão, Babau foi violentamente agredido e ameaçado de morte. Os policiais usaram de extrema força física para imobilizar o cacique, que acreditava estar diante de pistoleiros, pois os agentes estavam camuflados, com os rostos pintados de preto, não se identificaram e não apresentaram mandado de prisão, além de proferir ameaças e xingamentos", relata o documento.

Ainda segunda a denúncia, vários móveis da casa foram quebrados. "Para a comunidade, a impressão que ficou, pela conduta dos policiais, foi a de que eles pretendiam levar Babau sem ninguém perceber,. Tanto que agiram durante a madrugada e, após entrarem na casa, fecharam a porta", diz o documento.

"A ação da Polícia Federal ocorreu por volta das 2h40 da manhã. No entanto os agentes só chegaram com Babau à delegacia do município de Ilhéus entre 6h30 e 7h da manhã", diz a denúncia.

Outro motivo de preocupação do relatado na denúncia é que em 11 de março, um dia após a prisão, uma antropóloga do Ministério Público Federal teria visitado o cacique na prisão e informou que a liderança estava mancando, com olho direito inchado, sentindo dores no quadril e que não teria sido medicado.

Procurada pela Agência Brasil para falar sobre o assunto, a Polícia Federal ainda não se manifestou.



quarta-feira, 9 de junho de 2010

Vannuchi: ONU aponta verdades sobre Brasil

Vannuchi: ONU aponta verdades sobre Brasil

Relatório da entidade mostra continuidade do alto número de execuções sumárias no país

O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria  de Direitos Humanos, comentou ontem o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado semana retrasada, que mostra a continuidade do alto número de execuções sumárias no Brasil. Para o ministro, o documento, de autoria do relator especial da ONU sobre execuções sumárias, Philip Alston, traz verdades sobre a situação no país.

Ao falar sobre as mortes de inocentes em operações policiais, Vannuchi admitiu que o relatório tem razão ao apontar esta falha na política de segurança do país.

- A polícia só deve matar naqueles casos gravíssimos, de resistência dos criminosos, e jamais, como infelizmente ainda acontece no Brasil, como uma espécie de autodefesa preventiva, chegar atirando antes de verificar bem - afirmou ele à Rádio ONU, lembrando casos de erro de policiais, como a morte do menino João Roberto Soares, em 2008.

- O relatório lamentavelmente ainda aponta verdades em relação ao Brasil


segunda-feira, 7 de junho de 2010

Punição a tortura na ditadura divide opiniões no país

Punição a tortura na ditadura divide opiniões no país

 

Datafolha mostra leve maioria para grupo que é contra julgar crimes, tese que prevaleceu em decisão do STF

45% são contra punir torturado-res, e 40% se dizem favoráveis; em abril, tribunal rejeitou revisão da Lei da Anistia

BERNARDO MELLO FRANCO

DE SÃO PAULO

Vinte e cinco anos após o fim da ditadura militar (1964-1985), os brasileiros se dividem sobre o perdão aos agentes do regime que torturaram presos políticos.  Pesquisa feita pelo Datafolha reve-la que 40% defendem a punição, en-quanto 45% se declaram contrários. Outros 4% são indiferentes, e 11% não sabem opinar.

"Há uma diferença pequena, mas o resultado aponta mais para equilí-brio do que para apoio a um dos lados", afirma Mauro Paulino, diretor-geral do instituto.

Em 29 de abril, o STF (Supremo Tribunal Federal) rejeitou, por 7 votos a 2, ação da OAB (Ordem dos Advoga-dos do Brasil) que pedia a revisão da Lei da Anistia, de 1979, para permitir a punição de crimes de agentes públicos.

O Datafolha também ouviu os brasileiros sobre o tratamento a pessoas que praticaram atos terroristas contra o governo no período. Neste caso, o apoio ao perdão é maior: 49% se dizem contra qualquer tipo de punição, e 37%, a favor. Outros 3% são indiferentes, e 11% não sabem opinar.

O levantamento revela equilíbrio também entre os que pretendem votar em Dilma Rousseff (PT) e os partidários de José Serra (PSDB).

Dos eleitores da petista, 48% se declaram contra a punição aos torturadores, e 41%, a favor. No eleitorado tucano, o resultado é quase idêntico: 47% a 40%.

Para Mauro Paulino, isso indica que a opinião sobre o assunto não deve influenciar a corrida presidencial. "Não me parece que isso será um tema da campanha", avalia.

Dilma foi presa e torturada na ditadura. Serra, que presidia a UNE, também foi perseguido e se exilou no exterior depois do golpe de 1964.

O levantamento foi feito em 20 e 21 de maio, com 2.660 eleitores e margem de erro de dois pontos per-centuais para mais ou para menos.


Justiça confirma liberdade a condenado pela morte de Dorothy Stang


Gilberto Costa
Da Agência Brasil
Em Brasília
Por seis votos a um, os desembargadores do Tribunal de Justiça do Pará confirmaram o habeas corpus concedido a Regivaldo Pereira Galvão, condenado a 30 anos de prisão em júri popular pelo assassinato da missionária Dorothy Stang, em fevereiro de 2005. Apontado como mandante do crime, ele aguardará em liberdade o julgamento da apelação, ainda sem data prevista.
O diretor de Defesa dos Direitos Humanos da Secretaria de Direitos Humanos, Fernando Matos, lamentou a decisão da Justiça e disse que a tensão na região de Anapu (centro do estado do Pará) pode aumentar. "Algumas pessoas podem ficar mais afoitas", afirmou à Agência Brasil. Uma das testemunhas de acusação sofreu um atentado em novembro de 2009.
Matos espera que o Ministério Público entre com recurso contra a liberdade de Regivaldo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele também vê a possibilidade de que o réu volte à prisão no processo que responde por grilagem de terra.

Movimentos lançam campanha pela integralidade e implementação do PNDH-3

Movimentos lançam campanha pela integralidade e implementação do PNDH-3
Entidades da sociedade civil e movimentos populares divulgam manifesto de lançamento de campanha nacional para mobilizar a sociedade na defesa e implementação do Programa Nacional de Direitos Humanos 3.

Eles exigem a revogação do decreto presidencial que altera o PNDH-3.

Organizações da sociedade civil e movimentos populares lançam nesta quinta-feira (20/05) uma campanha nacional em defesa da integralidade e pela implementação do Programa Nacional de Direitos Humanos 3, conforme publicado no decreto 7037, de 21 de dezembro de 2009. Para os integrantes da campanha, o PNDH-3 é resultado de um amplo processo participativo, que articula múltiplas agendas e ações programáticas que expressam o conjunto dos direitos humanos, e traduz os preceitos consagrados na Constituição Federal de 1988, comprometendo os agentes públicos e as instituições do Estado com a efetivação de ações para garantir esses direitos.

Por isso, pedem a revogação imediata do Decreto nº 7.177, de 13/05/2010, em respeito ao processo democrático e participativo de construção do PNDH-3. E também a instalação do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3, com ampla participação da sociedade civil.

Desde que foi lançado, em dezembro de 2009, o PNDH-3 vem sofrendo duros ataques de setores conservadores da sociedade – sobretudo a igreja, os proprietários dos grandes meios de comunicação, setores antidemocráticos do Exército e latifundiários. Esses segmentos não reconhecem o processo de construção participativa que resultou no Programa Nacional de Direitos Humanos e pressionaram o governo federal por mudanças em sua redação. Na última semana, o governo cedeu às pressões e recuou em algumas ações e diretrizes do PNDH-3.

A campanha se soma a uma série de iniciativa estaduais já em curso propõe a criação de comitês municipais e estaduais comprometidos com a defesa do PNDH-3 e de sua implementação. As organizações envolvidas também pretendem capacitar lideranças sociais e públicas para a compreensão do PNDH-3 e para a defesa de sua implementação, além de propor debates em instituições educacionais e públicas.

Como forma de fazer frente aos ataques conservadores, a campanha também produzirá e veiculará informações sobre o PNDH-3. Outra recomendação é para que Estados e Municípios que já tem um Programa de Direitos Humanos expressem publicamente sua adesão ao PNDH-3 e se comprometam com atualização e/ou instituição de programas equivalente nas respectivas esferas administrativas.

Leia abaixo a íntegra do manifesto de lançamento da Campanha Nacional. Adesões podem ser feitas via site da iniciativa: www.pndh3.com.br
MANIFESTO NACIONAL
CAMPANHA PELA INTEGRALIDADE E IMPLEMENTAÇÃO DO PNDH-3

Nós, organizações sociais, movimentos sociais, sindicatos, redes e outras da sociedade civil brasileira, historicamente comprometidas com a promoção dos direitos humanos, manifestamos publicamente nossa posição sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3). Entendemos que:
1. O PNDH-3 é resultado de amplo processo participativo. Resultou das diretrizes aprovadas na 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos, realizada em dezembro de 2008, e na sistematização de resoluções de mais de 50 conferências nacionais sobre diversos temas. A participação direta da população, das organizações sociais e populares, dos gestores públicos das três esferas de governo, dos legislativos e de setores do judiciário na construção de propostas de políticas públicas é um grande avanço consagrado na Constituição Federal de 1988. Múltiplos agentes e agendas estão articulados no PNDH-3, cuja marca é, acima de tudo, a convergência e expressa a participação efetiva da pluralidade e da diversidade.
2. O PNDH-3 traduz de consistente a transversalidade, a indivisibilidade e a interdependência dos direitos humanos. Articula diretrizes, objetivos estratégicos e ações programáticas em seis eixos estratégicos que expressam o conjunto dos direitos humanos, atendendo ao recomendado pela II Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena, 1993). Neste sentido, constitui-se num avanço de formulação em relação às duas primeiras versões do PNDH (de 1996 e de 2002).
3. O PNDH-3 dá visibilidade aos diversos sujeitos de direitos humanos. Reconhece que os sujeitos de direitos, em sua diversidade e multidimensionalidade são os verdadeiros agentes da formulação e também os destinatários prioritários das ações de direitos humanos. O reconhecimento da diversidade e da pluralidade dos sujeitos se traduz em propostas de ação que têm no fortalecimento desses mesmos sujeitos o caminho central para a efetivação dos direitos humanos.
4. O PNDH-3 traduz os preceitos consagrados na Constituição Federal de 1988 e assume os compromissos internacionais com a realização dos direitos humanos. O PNDH-3 compromete os agentes públicos e as instituições do Estado, respeitando a independência republicana dos poderes, com a efetivação de ações para efetivar os direitos humanos, dando um passo à frente para que os direitos humanos tenham força programática e possam se traduzir em ações efetivas dos órgãos públicos que possam ser amplamente monitoradas pela sociedade.
5. O PNDH-3 carrega uma concepção contemporânea de direitos humanos que se opõe aos conservadorismos e às compreensões restritas e restritivas de direitos humanos. Estas concepções ainda estão fortemente presentes na sociedade brasileira e se manifestaram de forma contundente na reação de setores conservadores que tem publicamente se dito contrários ao PNDH-3. Por isso, a defesa do PNDH-3 é também a defesa de uma compreensão ampla e que abre espaço para os sujeitos populares e sua cada vez mais inclusão nos processos de luta e de reconhecimento dos direitos humanos.
6. O PNDH-3 é instrumento de política pública Apresenta várias propostas de ações programáticas que incidem sobre os diversos temas da política pública, propõe-se a ser de Estado, mais do que de governo. Por isso, induz processos que deverão se traduzir em previsões orçamentárias, em indicadores de monitoramento e, acima de tudo, em dinâmicas permanentes de participação e de controle social público com ampla participação da sociedade civil. Neste sentido, o PNDH-3 abre caminho para que sejam implementados avanços na perspectiva de um Sistema Nacional de Direitos Humanos, na linha do que aprovou a IX Conferência Nacional de Direitos Humanos (2004).
7. O PNDH-3 é processo em construção. Boa parte das proposições nele contidas demandam debate, processos legislativos, iniciativas judiciais e implementação de políticas públicas. Como se pretende decenal, está aberto à definição de prioridades que haverão de se traduzir em Plano Bienais a serem incorporados aos diversos instrumentos de planejamento da ação e do financiamento do Estado. Também convoca as unidades federadas a participar do processo aderindo ao PNDH-3 e, sobretudo, atualizando e/ou instituindo Programas Estaduais e Municipais de Direitos Humanos.
Desta forma, manifestamos nossa oposição frontal às seguintes medidas, concretizadas após a publicação do PNDH-3 em dezembro de 2009:
1. O Decreto nº 7.177, assinado pelo Presidente Lula e pelo Ministro Paulo Vannuchi, e publicado em 13/05/2010 que altera vários pontos do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) originalmente publicado em dezembro de 2009, por ter sido feito sem o devido respeito ao processo democrático e participativo.
2. O Projeto de Decreto Legislativo nº 16, de 10/02/2010, apresentado pelo Líder do PSDB no Senado Federal, Senador Arthur Virgílio, que susta os efeitos do Decreto que instituiu o PNDH-3, rejeitando o argumento de que o PNDH-3 é eleitoreiro e lembrando que, se o PNDH-3 foi publicado há oito meses da eleição presidencial, o PNDH-2, obra do governo FHC, foi publicado há cinco meses da eleição e nem por isso foi compreendido como eleitoreiro.
3. Os Projetos de Decreto Legislativo que tramitam na Câmara dos Deputados: nº 2386, 2397, 2398 e 2399/2010, do deputado Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP), nº 2550/2010, do deputado Moreira Mendes (PPS-RO) e nº 2552/2010, do deputado Luiz Carlos Heinze (PP-RS), por não respeitarem o processo democrático participativo de construção do PNDH-3 e a autonomia do Poder Executivo para legislar sobre temas programáticos.
Pelos motivos acima expressos, lançaremos uma CAMPANHA NACIONAL que visa mobilizar a sociedade brasileira na defesa e implementação do PNDH-3. Por isso, cobramos do governo federal :
1. A revogação do Decreto nº 7.177, de 13/05/2010, em respeito ao processo democrático e participativo de construção do PNDH-3.
2. Imediata instalação do Comitê de Acompanhamento e Monitoramento do PNDH-3 com ampla participação da sociedade civil para viabilizar o previsto no artigo 4º do Decreto que instituiu o PNDH-3.
3. Abertura de processo público e participativo para a elaboração do primeiro Plano Bienal previsto no artigo 3º do Decreto que instituiu o PNDH-3.
4. Aprovação do Projeto de Lei que cria o novo Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) em tramitação no Congresso Nacional, e sua instalação a fim de que seja efetivado o espaço público de participação e controle social da política nacional de direitos humanos.
A fim de ampliar a base de apoio e a dinâmica de organização da Campanha, propomos que as organizações que a apóiam promovam atividades no sentido de:
1. Proposição para que Estados e Municípios que já tem Programa de Direitos Humanos expressem publicamente sua adesão ao PNDH-3 e se comprometam com atualização e/ou instituição de Programas nas respectivas esferas administrativas.
2. Criação de Comitês que reúnam diversos agentes sociais e públicos comprometidos com a defesa do PNDH-3 e de sua implementação a fim de se constituir em espaços de mobilização da sociedade brasileira e de ampliação e capilarização dos propósitos da Campanha Nacional.
3. Promoção da informação sobre o PNDH-3 através de diversos meios a fim de alertar a sociedade sobre a importância do PNDH-3 e da defesa de sua integralidade e da exigência de sua implementação, como forma de fazer frente aos ataques conservadores.
4. Realização de ações de capacitação de lideranças sociais e públicas para a compreensão do PNDH-3 e para a defesa de sua implementação através de processos de educação social e de educação popular, além de propor debates em instituições educacionais e em diversos espaços e instituições públicas.
Para realizar o que aqui expressam, as organizações promotoras da CAMPANHA NACIONAL se comprometem a mobilizar esforços e a construir um amplo processo de convergência de agendas e de ações de tal maneira a efetivar os objetivos e as ações aqui propostas. Para aderir à campanha, visite www.pndh3.com.br
Brasília, 20 de maio de 2010.
CAMPANHA NACIONAL PELA INTEGRALIDADE E IMPLEMENTAÇÃO DO PNDH-3
ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais); ABONG (Associação Brasileira de ONGs); AMB (Articulação de Mulheres Brasileiras); CEN (Coletivo de Entidades Negras), CFEMEA – Centro Feminista de Estudos e Assessoria, Comunidade Bahá'í do Brasil; Fala Preta – Organização de Mulheres Negras; FENDH (Fórum de Entidades Nacionais de Direitos Humanos); INESC; Intervozes; Justiça Global; MNDH (Movimento Nacional de Direitos Humanos); Processo de Articulação e Diálogo entre Agências Ecumênicas Européias e Parceiros Brasileiros; Plataforma DHESCA Brasil; Relatoria Nacional para o Direito Humano à Terra, Território e Alimentação; Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; Terra de Direitos.

domingo, 6 de junho de 2010

Relatório mostra que América Latina é a região mais violenta do mundo entre jovens

Relatório mostra que América Latina é a região mais violenta do mundo entre jovens

Redação SRZD | Internacional | 05/06/2010 10h32

O "Relatório sobre Segurança Cidadã e Direitos Humanos", da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), apresentado neste fim de semana, aponta que a América Latina e o Caribe são as regiões do mundo com maior índice de criminalidade entre os jovens. E o mais alarmante: os índices, ao invés de diminuírem, estão aumentado.

A média sul-americana de homicídios em comparação com o resto do mundo é muito maior. Na Europa, a cada 100 mil habitantes, há uma média de 8,9 homicídios. Em regiões do Pacífico Ocidental e Oriental esse número cai para 3,4 e 5,8, respectivamente. Já na América Latina o média salta para incríveis 25,6.

Entre os jovens, esse número quase triplica. Na faixa etária entre 15 e 29 anos, a média de homicídios por cada 100 mil habitantes latino-americanos é de 68,9. O número varia consideravelmente quase esses jovens são divididos por classes sociais. Entre as pessoas de alta renda a média cai para 21,4, enquanto nas classes média e baixa a média é de 89,7.


Missionárias divulgam carta a desembargadores sobre liberdade de Regivaldo Pereira Galvão

Missionárias divulgam carta a desembargadores sobre liberdade de Regivaldo Pereira Galvão

 

 
Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – As irmãs Notre Dame Rebeca Spires e Jane Dwyer divulgaram hoje (5) em Belém uma carta aberta dirigida aos 11 desembargadores do Tribunal de Justiça (TJ) do Pará. Elas fazem um "apelo" para que Regivaldo Pereira Galvão, conhecido como Taradão, volte para a prisão por causa do assassinato da missionária norte-americana Dorothy Stang, ocorrido em fevereiro de 2005 em Anapu (PA).

Taradão foi condenado a 30 anos de prisão como mandante do homicídio, em júri popular encerrado em 1º de maio. Dezenove dias depois do julgamento, o réu conseguiu, por decisão liminar, um habeas corpus e saiu da prisão. A decisão definitiva deverá ser tomada nesta segunda-feira (7) pelo colegiado dos desembargadores do TJ.

Na carta, as irmãs afirmam que Taradão não preenche os requisitos legais - tais como ser réu primário, ter bons antecedentes e ocupação lícita - para aguardar em liberdade novo julgamento conforme apelação da decisão do júri popular.

Segundo as missionárias, o réu não é "fazendeiro" e não tem ocupação lícita. Para as irmãs, Taradão "é grileiro de terras públicas em fazendas com papelada fraudada em nome de laranjas, produtos de invasões praticadas no fim dos anos 90".

Conforme a carta, Taradão "não é inocente" e nem réu primário, pois "é um especialista em fabricar falsos documentos, em montar fraudes para interferir na ação da Justiça, aliciar e intimidar testemunhas".

A ameaça a testemunhas também é lembrada pelo diretor de Defesa dos Direitos Humanos, Fernando Matos, da Secretaria de Direitos Humanos. "Estamos muito preocupados. Há uma testemunha que levou cinco tiros e está sob proteção", disse o diretor, acrescentando que "não faz sentido" o Ministério Público pedir proteção da testemunha e a Justiça conceder liberdade ao réu.

A reportagem da Agência Brasil tentou hoje ouvir o advogado de defesa de Taradão, Jânio Siqueira, mas não obteve retorno das ligações.

Na decisão do habeas corpus, os desembargadores ouvirão as sustentações orais da defesa e da Procuradoria ou da Promotoria de Justiça. Os advogados das missionárias, considerados assistência de acusação, não poderão se manifestar. Há 15 dias, a acusação enviou ao TJ um memorial  sobre os supostos crimes cometidos por Taradão.

Edição: Graça Adjuto



sábado, 5 de junho de 2010

Depois de encontrar Lula, líder indígena é presa na Bahia

Depois de encontrar Lula, líder indígena é presa na Bahia

De O Globo:

Acusada de extorsão e formação de quadrilha, a índia Glicéria de Jesus da Silva, da aldeia tupinambá Serra do Padeiro, em Buerarema, foi presa nesta quinta-feira, por agentes da Polícia Federal e encaminhada ao presídio de Jequié.

O juiz de Buerarema, Antônio Carlos de Souza Hygino, entendeu que Glicéria participou, em 15 de fevereiro, da ação em que índios tupinambás, liderados pelo cacique Rosilvaldo Ferreira da Silva, o Babau, irmão de Glicéria, apreenderam um caminhão e teriam feito reféns funcionários de uma empresa que prestava serviços para a Companhia de Eletricidade da Bahia (Coelba).

Glicéria foi presa quando chegava no aeroporto de Ilhéus, vinda de Brasília, onde participou de 13ª reunião da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI). Glicéria esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a carregar seu filho de dois meses no colo.

Para o representante do Conselho Indigenista Missionário, de Itabuna, Haroldo Heleno, a prisão de Glicéria é mais um ato de intimidação e perseguição contra as lideranças tupinambás.