O jornal alemão Sueddeutsche Zeitung afirma, em sua edição desta terça-feira, que "o Brasil negro ensaia um levante no carnaval de Salvador".
Em um artigo intitulado "A luta contra o racismo cordial", dedicado ao carnaval da cidade - descrito como "uma demonstração de beleza e auto-confiança negras" - o jornal diz que "atrás dos sons eufóricos do samba está um claro posicionamento político; o da exigência do fim do racismo".
O jornal diz que o carnaval, na forma como é celebrado por blocos como Olodum, Araketu e Ilê Ayê, e a tradição da capoeira, uma "filosofia em movimento" que é tema do carnaval de 2008 na cidade, hoje estão "a serviço da luta cultural contra o 'racismo cordial'".
"Não são as leis que discriminam as pessoas, como foi o caso na África do Sul, ou as instituições, como foi o caso nos Estados Unidos. O que põe por terra o mito da elogiada democracia racial no Brasil são as inúmeras proibições sutis, que excluem uma grande parte das pessoas da vida social", relata a reportagem.
"O racismo é uma realidade brasileira, que cai no esquecimento em meio às notícias sobre guerra de traficantes nas favelas e o crime organizado nas grandes metrópoles".
O jornal alemão acrescenta que existem "tendências racistas evidentes" no Brasil: "quem for jovem, do sexo masculino e negro morre cedo nas ruas brasileiras ou muitas vezes não sobrevive a uma estadia na prisão".
No carnaval de Salvador, a maior cidade africana fora da África e onde "ainda nos anos 70 os brancos tiravam as crianças das ruas quando os 'blocos afros' passavam", os "marginalizados são reis e os tambores negros assumem por seis dias o poder na cidade", diz o diário.
O jornal elogia o trabalho de conscientização e resgate da história feito pelos blocos, em uma cidade onde "cerca de 80% dos moradores são afro-brasileiros", mas "faltam os heróis negros nas salas de aula".
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