terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Holocausto e escravidão

Antigamente se diria que rendeu muita tinta a discussão sobre a proibição judicial do desfile de um carro alegórico da Viradouro que representaria os horrores do Holocausto. O carnavalesco Paulo Barros apresentou uma espécie de recurso a Liga da Escolas de Samba nele argumenta que:
A "execução da liberdade" é a quinta alegoria da Escola e percorre a avenida para lembrar que o extermínio pode ser a conseqüência do preconceito, da intolerância, do desrespeito à diversidade. Inicialmente concebida para representar um dos maiores genocídios da humanidade, o holocausto, o carro foi impedido de desfilar por mandato judicial da Federação Israelita do Rio de Janeiro no dia 31 de janeiro de 2008. Algumas reações de organismos nacionais e internacionais deixam clara a incompreensão de que o desfile das escolas de samba é um poderoso instrumento de divulgação de idéias, de sensibilização de corações e mentes de todo o planeta.
O carnaval foi apontado como "espaço inapropriado, em seu ambiente festivo", "desfile com música, mulheres e homens semi desnudos dançando alegremente face a recordação das vítimas do Holocausto", "um espetáculo abominável para os sobreviventes e suas famílias". É claro que houve a compreensão das intenções da escola, ou seja, alertar contra o genocídio de milhares de seres humanos. A alegoria enquanto escultura, se exposta em uma bienal de arte seria aceita. Na avenida, se torna inadequada. Outras formas de arte retratam o holocausto, como o cinema, o teatro e as artes plásticas. (grifo meu)
As salas de cinema e os salões dos museus são os espaços mais adequados para que o povo reflita sobre as barbaridades do homem? Considerar "escárnio" desfilar como tema tão contundente na Marquês de Sapucaí é descredenciar uma das mais importantes manifestações culturais brasileiras.
Esse é um dos pontos da discussão: o Carnaval pode ser considerado uma forma legítima de arte ao lado do teatro e das artes plásticas? Ou seja, mais do que o direito humano à liberdade de expressão o questionamento envolvia a legitimidade dos desfiles carnavalescos serem alçados a categoria de arte séria. Ou só nos museus, teatros, cinemas, academias de letras, universidades , galerias se pode debater o Holocausto?
A Vida é bela pode fazer comédia dentro de um Campo de concentação, mas a Viradouro não pode denunciar a intolerância?
Se é frívolo ou um "escárnio" tratar de assuntos trágicos no Carnaval porque nunca se impediram Escolas de Samba de desfilarem com carros alegóricos sobre a escravidão africana no Brasil?

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