quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Sumiço de advogado defensor de direitos humanos gera temor na China

PEQUIM - Há um ano, agentes de segurança chineses fizeram uma visita à casa de Gao Zhisheng, um dos mais proeminentes advogados de direitos humanos na China, e levaram-no para um "breve interrogatório". Nos meses seguintes, seu paradeiro se tornou um mistério e uma fonte de preocupação para parentes, amigos e advogados, temerosos de que Zhisheng tenha sido duramente torturado - ou mesmo algo pior.
"Se estivesse vivo, teriam deixado visitá-lo"
Em setembro, um agente que o prendera disse a um de seus irmãos que Zhisheng desaparecera numa caminhada. O irmão, Gao Zhiyi, suspeita do pior: "Se estivesse vivo, teriam deixado visitá-lo. Ou morreu, ou está tão mal que seria horrível vê-lo."
Apelos de diplomatas estrangeiros - além da ONU e de congressistas dos EUA - ao governo chinês foram ignorados. Ma Zhaoxu, porta-voz do chanceler, reforçou o mistério há duas semanas ao dizer que Zhisheng "está onde deveria estar". Indagado de novo sobre o tema na semana passada, sorriu e disse: "Sinceramente, a China tem 1,3 bilhão de habitantes; não posso saber o paradeiro de todos."
Há pouco espaço na sociedade chinesa para dissidentes como Zhisheng. Após uma prisão anterior em 2006, ele voltara para casa ao admitir publicamente vários crimes. Uma vez libertado, porém, voltou atrás na confissão e descreveu abusos sofridos na detenção - como choques e espancamento. E disse que os torturadores ameaçaram matá-lo caso os denunciasse.
Para defensores de direitos humanos, o sumiço de Zhisheng, de 46 anos, pode ser decorrente de suas críticas ao Partido Comunista. Ele foi nomeado um dos dez principais advogados do país pelo Ministério da Justiça em 2001 por seu trabalho na defesa, por exemplo, de vítimas de erros médicos. E virou desafeto das autoridades ao representar membros de uma igreja cristã não oficial e de fiéis do Falun Gong, movimento espiritual proibido.
Um mês antes de seu desaparecimento, a mulher e os filhos de Zhisheng deixaram o país. Dez dias depois, conseguiram asilo nos EUA. Segundo Renee Xia, diretor da ONG Defensores dos Direitos Humanos da China, a fuga da família, aliada às revelações da tortura, teria deixado seus perseguidores furiosos.

Fernando Matos
"Crê nos que buscam a verdade. Duvida dos que a encontram." André Gide

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