Não há na história recente alguma operação policial que tenha sido mais vasculhada para encontrar falhas do que a prisão do "brilhante" banqueiro Daniel Dantas, envolvido em picaretagens de toda ordem. O Delegado Protógenes Queiroz e o juiz Fausto de Sanctis sofrem todo tipo de perseguição possível.
Mas nada como o tempo para entendermos como funciona o Brasil, esse país maravilhoso.
As últimas três semanas tem sido exemplar para compararmos o tratamento da mídia e das instituições em casos diferentes, mas com contornos semelhantes. O Goleiro Bruno, seu "amigo" Macarrão e o assassinato de Eliza Samudio se transformou no espetáculo da bizarrice em horário nobre.
Entre o Goleiro Bruno e Daniel Dantas existe muito mais do que uma diferença de crimes. Lógico que o choque com o assassinato de uma pessoa, de uma forma cruel, é muito menos aceito do que um crime de colarinho branco, mas se considerarmos apenas o rito da investigação e o que vem acontecendo, percebemos que há muito mais diferença do que parece.
Daniel Dantas acusa o juiz de Sanctis e Protógenes de abuso de poder, ao prendê-lo por duas vezes seguidas, por utilizarem agentes da Abin e outras coisas, como se isso o inocentasse dos crimes praticados por ele. Com dois velozes habeas corpus conseguidos no STF junto ao Ministro Gilmar Mendes, o "brilhante" Dantas rapidamente se livrou da prisão, e desde então, com a ajuda de alguns, tem tentado se tornar vítima de uma "armação". Já foi condenado, mas vai esperar até 2099 para ser preso.
Já no Caso do Goleiro Bruno, a violação dos direitos é flagrante a ponto de tornar o caso, que já é bizarro, em um futuro caso de estudo em faculdades de direito. Como disse antes, lembrando da gravidade do caso.
Primeiro foram cópias das declarações de um menor indo parar nas páginas de Veja e na Globo. Depois o fato do advogado não ter cópia do inquérito por onze dias, impedindo o pedido de Habeas Corpus das pessoas, e por fim uma gravação secreta não autorizada, feita pelos policiais, que foi parar no Fantástico. Nesta gravação Bruno diz que não sabia, mas que suspeitava que Macarrão realmente teria feito isso.
As investigações conduzem para a culpa do Goleiro no assassinato, mas vamos dizer que, por algum motivo, chegue-se à conclusão de que realmente Macarrão é o assassino, e que Bruno não seja o mandante do crime. Vamos supor algo ainda mais improvável, que Eliza aparecesse por aí. Claro que tudo isso torna-se cada vez mais improvável, mas imaginemos que esse fosse o desfecho. Aliás, tudo o que se mostra porque se mostra tudo. Não há o menor rigor investigatório e de sigilo no caso.
Na hipótese de Bruno falar a verdade na entrevista, e Macarrão ter assassinado Eliza e ter dito ao Goleiro que deu algum dinheiro e ela ter sumido, qual a chance dele ser absolvido em um júri popular? Depois de um espetáculo midiático como esse, não há como acreditar em nada do que Bruno fala. Ele já está condenado previamente. Para falar a verdade, ele nem falou ainda, apenas nesta gravação secreta feita pela polícia.
Claro que tudo são suposições, e que os fatos levam à condenação do Goleiro, mas isso serve para analisarmos as diferenças de tratamento neste país. Ao bandido bem nascido e letrado é dado todos os benefícios, ao marginal emergente e analfabeto, não basta apenas o rigor da lei.
Já se vê que o negócio mesmo é ser banqueiro, e nunca goleiro, pois como dizia Don Rossé Cavaca, "desgraçado é o goleiro, pois onde ele pisa nem grama nasce".
Nenhum comentário:
Postar um comentário