OSCAR PILAGALLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A situação das famílias assentadas em áreas rurais do Pará, expostas à
violência, tem origem na atuação de governos consecutivos, que
estimularam a expansão da fronteira agrícola para áreas onde o Estado
é ausente.
Até os anos 60, a Amazônia vivia basicamente do extrativismo. Houve o
ciclo da borracha, no fim do século 19 e início do 20, e, mais tarde,
de 1920 a 1970, a castanha se destacou na economia local.
Foi só nos anos 70, quando os militares decidiram colonizar a
Amazônia, que um fluxo migratório levou ao Pará e a outros Estados
agricultores cujos descendentes agora enfrentam a violência.
O governo Médici pretendeu atingir objetivos sociais e geopolíticos.
Tratava-se de redirecionar a imigração de nordestinos, anteriormente
voltada para os já saturados Sul e Sudeste, e ocupar uma região
supostamente cobiçada por estrangeiros.
Os trabalhadores nordestinos foram seduzidos por incentivos e por um
discurso otimista. Ganharam terras cuja qualidade, assegurava-se, era
equivalente à das terras férteis de São Paulo.
A propaganda dizia: "Homens sem terra para terra sem homens". A ideia
central era substituir grande parte da floresta por pastos e campos de
agricultura.
A realidade que os nordestinos lá encontraram, no entanto, foi
diferente. O solo era inadequado e os novos colonos pouco receberam
além de pequenas glebas.
Sem tecnologia e recursos, não conseguiram viabilizar a agricultura.
Deixaram terrenos, mas muitos ficaram, sem condições de voltar.
São os filhos e netos dessa geração que hoje, isolados em precários
assentamentos, assistem a conflitos de interesses econômicos que estão
por trás dos assassinatos.
Os militares deixaram o poder em 1985, sem resolver os problemas. Os
governos subsequentes também pouco fizeram de concreto, a ponto de
hoje o Estado reconhecer ser incapaz de oferecer proteção à lista dos
trabalhadores rurais que são ameaçados de morte.
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OSCAR PILAGALLO, jornalista, é autor de "A História do Brasil no
Século 20" (Publifolha).
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