quinta-feira, 16 de junho de 2011

PA: Secretário de Segurança culpa governo federal, mas admite dificuldades


PA: Secretário culpa governo federal, mas admite dificuldades

Dayanne Sousa

Em menos de um mês, o Pará registrou cinco homicídios de trabalhadores rurais e, na última terça (14), um assalto a barco com mais de 140 passageiros. O Secretário de Segurança do Estado, Luiz Fernandes Rocha, porém, nega um problema crônico de violência e acusa o governo federal de ser ausente.

"A incompetência é do governo federal", ataca. O governador do Pará, Simão Jatene, é do PSDB. Ainda assim, ele reconhece que não há policiais e infraestrutura suficientes no Estado para lidar com casos como o assassinato dos líderes extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo.

- Hoje temos 25 pessoas apurando exclusivamente os casos de Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo. Mas você já pensou, com essa quantidade de homicídios, se sempre colocarmos tanta gente pra apurar? Não temos gente pra tudo isso. Já pensou se acontecessem dez casos como esse? A gente estava... Mas temos policiais dedicados, temos gente boa.

No sábado (11), foi encontrado o corpo de mais uma vítima de homicídio: o trabalhador Obede Loyla Souza, de Pacajá. Na terça (14), a Polícia Civil se pronunciou atribuindo a morte a "desavenças entre assentados", mas a Comissão Pastoral da Terra (CPT) afirma que Souza tinha embates com madeireiros.

Rocha volta atrás sobre o caso e afirma que ele "ainda está sendo averiguado". Ele questiona, porém, que todos os assassinatos no campo sejam relacionados ao conflito de terras. 
- A CPT vai botando tudo na mesma conta. Cada caso é um caso. Eu não contesto o caso de Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo. Mas os outros a gente tem que mostrar nos autos.

Leia a entrevista.

Terra Magazine - Mais uma vez o Pará está no centro das atenções por conta da violência. Além dos casos de homicídio, na tarde de terça-feira (14), oito homens armados assaltaram um barco com 140 passageiros e 10 tripulantes, no trajeto entre a Ilha do Marajó e Belém. Como é que o governo está atuando nesse momento?
Luiz Fernandes Rocha - Esse tipo de coisa que acontece aqui acontece em todos os lugares. Na verdade, nós temos até diminuído o número de homicídios. O que chamou a atenção foi a morte daqueles dois sindicalistas. A partir daí, ficam somando uma coisa com a outra. No caso do barco, estamos com uma operação com a Marinha numa ilha aqui próxima a Belém. E lá está tudo tranquilo. Essa área onde aconteceu esse roubo do barco é uma área onde isso nunca acontece. Não é uma área de risco. Não é uma área onde a gente tem que colocar pessoas porque não acontece. Mas não é esse o quadro aqui.

Um levantamento feito pelo Estado de S.Paulo apontou que, se fosse um país, essa região que abrange o sudeste do Pará seria a nação mais violenta do mundo. O equipamento de segurança do Estado é suficiente pra isso?
Eu diria que não é a segurança a grande responsável por fazer isso. São políticas públicas. É o inverso. A incompetência é do governo federal. Muitas coisas aqui - como conflitos agrários e a exploração dos recursos naturais - isso se dá muito por conta da ausência do Estado com políticas públicas. Não adianta triplicar o número de policiais, colocar infraestrutura e tudo se não houver políticas públicas que deem condições de sobrevivência a essas pessoas. Em 2005, quando houve o caso da irmã Dorothy Stang, foi a mesma coisa. Houve ajuda federal e depois isso acabou. Só voltou agora com o caso do Zé Cláudio e da Maria do Espírito Santo. Mas dessa vez não, nós vamos intensificar.

Essa ajuda só acontece nos momentos de pressão?
Claro. Porque chama atenção, tem essa cobrança internacional. Mas o Estado do Pará não é isso. Quantos não morrem por mês no Rio? Em São Paulo? Porque só dois chamam tanto a atenção pra isso? A gente tem trabalhado aqui como um todo pra reduzir os homicídios.

Além do número de homicídios, o que chama atenção também é o fato de que pouquíssimos casos tem solução. Por que isso acontece?
O número é baixo em todo o Brasil. Isso é uma das causas que incentiva a morte. A impunidade, sem dúvida, incentiva o aumento de qualquer crime. Mas tem casos difíceis. Hoje temos 25 pessoas apurando exclusivamente os casos de Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo e o caso de Pacajá. Mas esses são casos dificílimos pra apurar, não tem testemunhas, nada. Mas estamos em cima, com certeza vamos chegar a autoria. Mas você já pensou, com essa quantidade de homicídios, se sempre colocarmos tanta gente pra apurar? Não temos pernas pra isso. Muitas vezes não são elucidados pelas dificuldades, com um Estado desse tamanho e com a infraestrutura que tem.

O senhor quer dizer que não dá pra enfrentar essas dificuldades naturais e ter uma equipe grande o suficiente como a do caso do casal em todos os lugares?
Não temos gente pra tudo isso. Já pensou se acontecessem dez casos como esse? A gente estava... Mas temos policiais dedicados, temos gente boa.

Especificamente sobre o caso de Pacajá, o trabalhador Obede Souza foi assassinado na quinta-feira (16). O corpo dele foi encontrado no sábado, mas só na terça-feira (14) é que o governo do Pará deu resposta sobre o caso. O que aconteceu?
A equipe está e começou a investigar. A resposta foi dada desde o primeiro momento. A divulgação é que demorou. Se a gente fosse informar todos os homicídios que estão acontecendo... Aí começam logo a somar mais um pra lista. Mas não é assim, tem que apurar. Tem muitas coisas que são brigas entre eles. Aquele que foi morto em Nova Ipixuna depois do casal de extrativistas, tem depoimentos de que ele estaca envolvido em brigas no assentamento por retirada de maconha, queima de maconha.

Isso que o senhor fala, secretário, é uma coisa que tem irritado muito os trabalhadores e a CPT. Eles não concordam com essas versões de que se trata de brigas entre assentados. Esse caso de Pacajá, por exemplo, era uma pessoa que estava envolvida em brigas com madeireiros.
Esse último, eu não sei. Está sendo averiguado. Mas a CPT vai botando tudo na mesma conta. Cada caso é um caso. Eu não contesto o caso de Zé Cláudio e Maria do Espírito Santo. Mas os outros a gente tem que mostrar nos autos. O Estado não tem interesse nenhum em fabricar nada. Não tem conivência.

O senhor não acha que em alguns momentos a polícia se antecipou e, antes mesmo de ter alguma investigação, descarta a relação com os conflitos no campo? Não, quando a polícia fala é porque já tem evidências.


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