terça-feira, 24 de agosto de 2010

Banco de dados mostra impactos causados por hidrelétricas na Amazônia


Banco de dados mostra impactos causados por hidrelétricas na Amazônia

Divulgado, na última semana, banco de dados online delineia o impacto causado por mais de 140 grandes barragens em vários estágios de planejamento na Bacia Amazônica. Objetivo é construir um espaço que una informações sobre as represas e torne os dados públicos e acessíveis.

Por Natasha Pitts
[24 de agosto de 2010 - 09h48]
A Bacia Amazônica, área que abrange metade de todas as florestas tropicais do mundo, está sendo invadida por centenas de grandes projetos que põem em risco a integridade biológica e a vida de parte da população mundial. Para conhecer a dimensão destes projetos e alertar governos, pesquisadores e organizações, foi divulgado, na última semana, um banco de dados online, que delineia o impacto causado por mais de 140 grandes barragens em vários estágios de planejamento na Bacia Amazônica.



A base de dados "Barragens na Amazônia" está disponível em inglês, espanhol e português e inclui informações técnicas e dados econômicos sobre alguns países amazônicos, entre eles Brasil, Equador, Bolívia, Colômbia e Peru, nações onde mais de 140 grandes barragens estão em funcionamento, em construção ou em fase de planejamento. As informações, colhidas de fontes oficiais, dão conta de que apenas na Amazônia brasileira estão previstas para os próximos anos mais de 60 grandes represas.

 

A iniciativa de construir um mapa informativo e interativo partiu da Fundação Proteger (Argentina) e da International Rivers (Estados Unidos), com o apoio da organização brasileira Ecoa. A intenção foi construir um espaço onde se pudesse unir um conjunto de informações sobre as represas e tornar os dados públicos e acessíveis para que as pessoas tivessem ciência sobre os empreendimentos que vêm sendo desenvolvidos na Bacia Amazônica.
 

"Também faz parte das intenções do projeto, lincar o mapa informativo ao site de campanhas de organizações da sociedade civil que estejam se mobilizando para combater empreendimentos problemáticos", acrescentou Brent Millikan, diretor do Programa da Amazônia da International Rivers.

De acordo com Millikan, o projeto, que durou cerca de três anos para ser finalizado, entrará em nova fase e será complementado. "O mapa deve ser expandido com informações sobre áreas indígenas, unidades de conservação ambiental e linhas de transmissão de energia para mostrar quais projetos irão impactar nessas áreas de proteção. Pretendemos fazer isto imediatamente, mas dependemos da obtenção de dados. Queremos que esta etapa seja feita em rede com outras organizações".

Impactos

Os prejuízos causados pela expansão das hidrelétricas não conseguem passar despercebidos. Além de afetarem o meio ambiente, os projetos lesam diretamente as populações que vivem no entorno dos territórios que receberão a obra. No caso da Amazônia, importante ecossistema regulador do clima mundial, berço de grande biodiversidade e local onde se encontra a mais importante bacia hidrográfica, os prejuízos são ainda mais evidentes.

"Os problemas são diversos. Entre eles estão os alagamentos que afetam indígenas e ribeirinhos; os problemas de saúde pública, como a malária; as emissões do gás metano, que causa o efeito estufa; a ausência de indenizações para as famílias que perderam suas terras, a redução da quantidade de peixes e o fim das atividades que sustentam diversas populações", pontua Millikan.

As migrações também se intensificam com a chegada de grandes projetos. "Muitas famílias se deslocam de sua região em busca de emprego, mas acabam não conseguindo e intensificando, nas cidades para onde vão, problemas de moradia, saúde, educação e prostituição. Estes projetos fazem muito pouco pela estrutura do Estado", revela o diretor do Programa da Amazônia.

Para Millikan, não há receita para solucionar a questão das hidrelétricas, nem seria possível ou desejável parar as construções, já que os interesses políticos vêm se sobrepondo aos interesses públicos. "É preciso partir da educação e gerar debates sobre a política energética. Precisamos questionar que tipo de desenvolvimento queremos para o século XXI, debater sobre novas fontes de energia e envolver toda a sociedade neste debate", encerra.
 
O mapa interativo, em espanhol, pode ser visualizado em www.dams-info.org/es

O mapa interativo, em português, pode ser visualizado em http://www.dams-info.org/pt



Nenhum comentário: