quarta-feira, 2 de março de 2011

Índios da Amazônia buscam apoio em Londres para luta contra Belo Monte


Índios da Amazônia buscam apoio em Londres para luta contra Belo Monte
(A partir da esquerda) Ruth Mestoquiari, Sheyla Juruna e Almir Surui

LONDRES — Três líderes indígenas denunciaram nesta terça-feira, em Londres, o grave impacto para suas comunidades e o meio ambiente das gigantescas hidrelétricas projetadas na bacia do Amazonas que, segundo eles, provocarão destruição, inundações e o deslocamento de milhares de pessoas.
"Estamos aqui para mostrar à comunidade internacional que não somos ouvidos e que o governo brasileiro está violando seriamente nossos direitos", declarou Sheyla Yakarepi Juruna, representante da tribo Juruna no rio Xingu, no coração do estado do Pará.
Nesta região está prevista a construção da usina de Belo Monte, que será a terceira maior do mundo, mas que teve sua licença de construção suspensa na última semana pela justiça.
Sheyla Yakarepi Juruna, Almir Narayamoga Surui - líder da tribo Surui na região do rio Madeira, no estado de Rondônia -, e Ruth Buendía Mestoquiari, presidente da organização Central Ashaninka do rio Ene, no Peru, concluem na capital britânica uma viagem de 10 dias pela Europa que passou por Oslo, Genebra e Paris.
O giro dos líderes indígenas busca sensibilizar os governos europeus sobre a situação de suas comunidades e a necessidade de deter estes projetos hidrelétricos, com um custo estimado em bilhões de dólares.
Para acompanhar seu crescimento e aumentar sua segurança energética, o Brasil projeta uma série de hidrelétricas na bacia amazônica, como as de Santo Antônio e Jirau, que já estão em contrução em Rondônia; e assinou um acordo com o Peru para levantar ao menos outras seis represas em território peruano, entre elas a de Paquitzapango nas terras dos Ashaninka.
Apesar das promessas do governo sobre o baixo impacto social e ecológico em seus projetos, financiados principalmente pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e dos quais também participam empresas europeias, os indígenas insistem que eles "não são sustentáveis" e que, além disso, violam seus direitos coletivos e a autonomia.
Os projetos, sobre os quais os indígenas afirmam não ter sido consultados, inundarão regiões inteiras, secarão outras, o que privará estas comunidades de seus recursos básicos e as obrigará a abandonar suas terras ancestrais. Além disso, trarão outros problemas como pobreza, violência e prostituição.
"A maioria dos governos latino-americanos que assinaram o convênio 169 da OIT sobre os povos indígenas (que estabelece a obrigação de consultar as comunidades toda vez que são previstas medidas que podem afetá-las diretamente) não o respeitam", explicou Buendía.
"Eles preferem as companhias de petróleo, mineradoras e hidrelétricas. Querem tirar os últimos recursos que os povos indígenas têm, sem respeitar nossos direitos", acrescentou.
A viagem dos indígenas, promovida por uma coalizão de organizações encabeçada pela Rainforest Foundation UK, receberam o apoio de figuras de renome internacional, como o cantor Sting e a ativista Bianca Jagger, ex-modelo e atriz que foi casada com o vocalista dos Rolling Stones.
Jagger, nascida na Nicarágua, lembrou nesta terça-feira que as consequências destes "velhos modelos de desenvolvimento que violam direitos humanos e cujo único objetivo é ecônomico" na Amazônia serão "irreversíveis" e "não afetarão apenas os indígenas, mas sim o mundo todo", quando se teme os efeitos catastróficos das mudanças climáticas.
Para o líder Almir Surui, o mundo atual "tem a inteligência e os instrumentos para criar uma consciência de desenvolvimento justo (...) para encontrar melhores alternativas de energia para todos".
Na quarta-feira, a delegação fará um protesto em Londres, com ativistas britânicos em frente aos escritórios do BNDES, a quem acusam de estar "diretamente envolvido na destruição das populações indígenas da Amazônia".

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