quarta-feira, 4 de março de 2009

Para ministro, violência do MST é ação irresponsável

04/03/2009

Ao contrário do colega Tarso Genro, o ministro Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, faz coro às críticas do presidente Lula e considera a ação do MST em Pernambuco "uma completa irresponsabilidade". Quatro seguranças foram assassinados durante a invasão de fazendas no estado.

CONFLITO AGRÁRIO
Cassel culpa MST

Ministro do Desenvolvimento Agrário diz que assassinatos de seguranças foram "completa irresponsabilidade" da coordenação do movimento. Ocupação de fazenda deve terminar hoje

Leonel Rocha
Da equipe do Correio

Hiram Vargas/Esp. CB/D.A Press
Ligado historicamente ao MST, Cassel considera mortes inaceitáveis

Teresa Maia/DP/D.A Press
Gercino Filho quer desarmamento na zona rural de Pernambuco

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, culpou ontem a coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Pernambuco pelas mortes de quatro seguranças das fazendas Jabuticaba e Consulta, localizadas no município de São Joaquim do Monte, no agreste pernambucano, no último dia 21. Assim como fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na terça-feira, Cassel considerou "inaceitável" o argumento de legítima defesa usado pelos líderes dos sem-terra para justificar as mortes. "Foi completa irresponsabilidade da coordenação do movimento. Acho que, agora, isso é um problema de polícia. Essas mortes não podem ser encaradas de forma natural", disse.

Com ligações políticas históricas com o MST, o petista Cassel não aceita a desculpa de que o agravamento do conflito em Pernambuco levou às mortes dos seguranças. E classificou de irracionalidade dos líderes dos sem-terra a elevação do nível de tensão na área. "O MST, tanto quanto os fazendeiros, tem que ter um mínimo de bom senso e de racionalidade para saber até onde vão levar o conflito. Quando se leva o conflito para uma situação limite, você é responsável por isso", criticou.

Cassel também lembrou que os líderes dos sem-terra poderiam ter chamado a ouvidoria do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para intermediar o conflito e evitar as mortes. "Os sem-terra poderiam muito bem ter chamado o Incra, nós colocaríamos a ouvidoria agrária lá", lamentou. Cassel também lembrou que os crimes poderiam ser evitados com a intervenção do governo de Pernambuco, que, segundo ele, é parceiro dos movimentos sociais.

Responsável pelo programa de reforma agrária do governo, o ministro fez questão de separar as situações de Pernambuco e a do Pará, onde os sem-terra invadiram três fazendas do grupo agropecuário Santa Bárbara, que tem como um dos sócios o banqueiro Daniel Dantas. Segundo Cassel, as invasões no Pará são políticas e foram decididas em resposta às declarações do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, que criticou o repasse de verbas do governo para entidades ligadas ao MST . "No Pará, a ação dos movimentos sociais é natureza política. É do jogo", justificou.

Desarmamento
Depois de uma longa reunião com a participação do ouvidor agrário nacional, Gercino Silva Filho, de representantes do MST, dos proprietários das fazendas, polícias Federal e Militar e promotoria agrária estadual, os sem-terra aceitaram desmontar o acampamento da fazenda Jabuticaba, onde ocorreram as mortes. O Incra deve acompanhar a saída dos agricultores hoje e fará vistoria na área.

Durante a reunião, realizada em Recife, a comissão nacional de combate à violência no campo decidiu exigir do governo de Pernambuco uma operação para desarmar todos os militantes dos movimentos pró-reforma agrária no estado. "A meta é que se tomem as providências para acabar com todo tipo de milícia que está atuando na zona rural de Pernambuco, principalmente quando armada e de forma ilegal", afirmou Silva Filho.

A decisão de desarmar o campo, inclusive as fazendas privadas não invadidas pelos sem-terra, foi tomada em conjunto. No entanto, o coordenador do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, vê dificuldade no desarmamento dos seguranças das usinas de álcool e açúcar do estado. "É um sonho", criticou. O delegado responsável pela apuração das mortes nas duas fazendas, Luciano Francisco Soares, ainda procura dois sem-terra foragidos, suspeitos de terem participado do crime.

O MST, tanto quanto os fazendeiros, tem que ter um mínimo de bom senso e de racionalidade para saber até onde vão levar o conflito

Guilherme Cassel, ministro do Desenvolvimento Agrário


Resposta a Lula

O coordenador do MST em Pernambuco, Jaime Amorim, contestou ontem a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva feita na terça-feira sobre as mortes de seguranças em duas fazendas no estado. Na mesma linha adotada depois pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, Lula disse que não aceitava o argumento de legítima defesa usado pelo movimento para justificar as mortes. Amorim afirmou que, desta vez, "os sem-terra souberam se defender".

"Certamente, não disseram a ele (Lula) as condições em que houve o confronto. Afinal, se explicassem que há oito anos o Incra não consegue desapropriar aquelas áreas (as fazendas Consulta e Jabuticaba), que os pistoleiros iam matar os trabalhadores e que eles se defenderam para continuar vivendo, certamente a avaliação dele seria outra", rebateu. Amorim insistiu na tese de legítima defesa: "Nesse momento, não há outra explicação para o que houve, a não ser o fato de que os trabalhadores, que sempre são vítimas de chacinas, dessa vez souberam se defender e continuam vivos para lutar".

Fernando Matos
"Crê nos que buscam a verdade. Duvida dos que a encontram." André Gide

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