Governo afirma que não sabia de ameaças a líderes mortos no Pará
Casal, que foi alvo de emboscada anteontem, aparecia em lista de ameaçados da Pastoral da Terra
FELIPE LUCHETE
ENVIADO ESPECIAL A MARABÁ (PA)
JEAN-PHILIP STRUCK
DE SÃO PAULO
Representantes de órgãos públicos disseram ontem que desconheciam ameaças de morte aos líderes extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, mortos anteontem em Nova Ipixuna (481 km de Belém).
A Secretaria Estadual de Segurança Pública, a Ouvidoria Agrária -ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário-, o Ibama e o Incra afirmaram não ter registros anteriores de denúncias.
Representantes desses órgãos estiveram no velório do casal, realizado ontem em Marabá, no sudeste paraense. De terno e gravata, acompanhados de agentes da Polícia Federal, chamaram a atenção das dezenas de pessoas que estavam no local.
O velório foi realizado na casa de um irmão de José Claudio, em um espaço que, em dias comuns, é um bar.
Antes da visita, familiares, amigos e membros de movimentos sociais haviam responsabilizado os mesmos órgãos por omissão e afirmaram que eles foram informados das ameaças de morte.
Eles planejavam uma manifestação para hoje. O casal aparece no último levantamento de ameaçados de morte elaborado pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), ligada à Igreja Católica.
Um dos advogados da comissão, José Batista Afonso, disse que órgãos dos governos federal e estadual receberam esse documento.
A sobrinha do casal assassinado, Clara Santos, 24, declarou que eles sofriam ameaças por denunciar madeireiros da região.
O casal morava no assentamento extrativista Praialta Piranheira, na zona rural de Nova Ipixuna, e a casa deles chegou a ser invadida várias vezes quando não estavam.
Para a sobrinha, essas invasões foram sinais de pressão para que cessassem com o ativismo ambiental. "Nós sabemos que o gato vai atrás do rato. Só falta saber qual gato foi o responsável dessa vez", diz a sobrinha.
Em um dos eventos de que participou na Amazônia, José Claudio disse que vivia "com uma bala na cabeça" e que madeireiros queriam fazer com ele o mesmo que fizeram com Chico Mendes, assassinado no Acre, e com a irmã Dorothy Stang, no Pará.
A Polícia Civil diz que ainda não tem pistas dos assassinos. A hipótese é que o crime tenha sido encomendado. Dois homens atiraram no casal enquanto atravessava uma estrada, de motocicleta, em direção ao centro da cidade, conforme a perícia.
A Polícia Federal também abriu investigação para o caso a pedido da presidente Dilma Rousseff. Os inquéritos devem ser paralelos.
Ontem, o velório exibia imagens do casal e faixas com dizeres como "A floresta chora". O acesso para a rua ficou fechado para veículos.
O ouvidor agrário nacional, Gercino José da Silva Filho, que está em Nova Ipixuna, afirmou que José Claudio não constava em nenhuma relação de ameaçados em conflitos agrários elaborada pela ouvidoria ou pela Comissão Nacional de Combate à Violência no Campo.
"Ele e seu advogado nos procuraram em novembro do ano passado, mas quando íamos nos reunir, eles cancelaram. Depois nunca procuraram marcar outra data. O assunto morreu", disse.
O ouvidor também diz que, sem detalhar o tipo de ameaça recebido, Silva não poderia receber apoio ou intermediação do ministério.
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