sexta-feira, 6 de maio de 2011

Governo quer agilizar instalação da Comissão da Verdade

Governo quer agilizar instalação da Comissão da Verdade

Lula Lopes
Audiência pública da CDHM
Audiência discutiu prioridades do Brasil nas relações com organismos multilaterais.

A Comissão da Verdade é uma prioridade da presidente Dilma Rousseff e o governo quer agilizar a sua instalação. Foi o que disse nesta quarta-feira o diretor da assessoria internacional da Secretaria de Direitos Humanos, Fábio Balestro, durante audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias para discutir a agenda de prioridades do Brasil nas relações com organismos multilaterais como a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o Mercosul.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ligada à OEA, está questionando o governo brasileiro pela impunidade dos responsáveis pelas torturas e outras violências praticadas durante a ditadura militar. Segundo Balestro, o Brasil já está adotando medidas para superar o problema. "Estamos empenhados em acertar contas com o passado, isso é essencial", ressaltou.

Como prova, ele informou que nesta quinta-feira (5) os ministros da Defesa, Nelson Jobim; da Justiça, José Eduardo Cardozo; e da Secretaria dos Direitos Humanos, Maria do Rosário; e o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, vão assinar portaria interministerial para reformular o Grupo de Trabalho Araguaia-Tocantins.

Segundo Balestro, a portaria atende ao pleito da Comissão dos Parentes de Mortos e Desaparecidos Políticos e constitui um passo importante para o esclarecimento dos crimes cometidos no Araguaia.

Belo Monte
Outra decisão adotada contra o Brasil pela CIDH é relativa à usina hidrelétrica de Belo Monte. A comissão aprovou medidas cautelares para suspender as obras da usina, a fim de proteger os direitos dos indígenas locais.

Segundo o diretor de Temas Sociais do Itamaraty, Sílvio José Albuquerque e Silva, a CIDH se precipitou, porque não respeitou os requisitos de verificação de danos. Fábio Balestro acrescentou que a CIDH adotou a decisão sem sequer solicitar informações ao governo brasileiro. O Brasil respondeu dizendo não compreender as medidas cautelares. "É a primeira vez que estamos sendo questionados, mas as medidas que nos pedem nós já adotamos", reagiu o governo brasileiro.

Notícias imprecisas
Albuquerque e Silva criticou as versões que a mídia brasileira vem divulgando sobre o imbróglio diplomático, acusando o Brasil de adotar medidas desproporcionais de retaliação contra a CIDH, como a convocação do nosso embaixador, a retirada de uma candidatura ao organismo e até a suspensão da contribuição financeira à OEA.

"É um caso típico de superficialidade da imprensa, são notícias repletas de imprecisões", disse o representante do Itamaraty. Ele explicou ser legítimo e usual, na prática diplomática, diante de uma insatisfação, convocar o embaixador para consultas. "Não significa de modo algum desprestígio ao sistema", afirmou.

O diplomata negou qualquer intenção do Brasil de interromper sua contribuição financeira à OEA, que se encontra em dia. Houve, segundo ele, apenas a suspensão de uma contribuição voluntária, em função das recentes limitações orçamentárias.

Fábio Balestro acrescentou que até hoje, em toda a história das relações com a CIDH, o Brasil fez uma única contribuição voluntária, o que demonstra o seu caráter extraordinário.

Balestro revelou também que a ministra Maria do Rosário reuniu-se com dirigentes do consórcio responsável pela hidrelétrica de Belo Monte e fechou acordo para convocar o Conselho de Defesa dos Direitos Humanos para monitorar de perto, em todos os sentidos, o respeito aos direitos humanos.

Rusga diplomática
Não houve também retirada de candidatura à CIDH. Balestro explicou que a representação no organismo não é feita por países, mas sim de forma individual. São apenas sete integrantes, e, como são muitos os países do sistema, é normal que representantes de várias nacionalidades se revezem. Havia um integrante brasileiro já há alguns anos, e é normal que agora ele seja substituído. "É uma rusga diplomática, produto da interpretação legítima do Brasil de que a CIDH se precipitou", disse Albuquerque Silva.

A requerimento do deputado Chico Alencar (Psol-RJ), o representante do Itamaraty ficou de encaminhar à Câmara a íntegra do texto da resposta brasileira à CIDH. "Até para que não prevaleça apenas a versão da imprensa", comentou a deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que também criticou o "papel negativo" da mídia. "Há um descompasso entre a preocupação da mídia com os direitos humanos no exterior e no plano nacional", disse.

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