sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Policiais do DF são formados para proteger defensores de direitos humanos



28/10/2010

Policiais do DF são formados para proteger defensores de direitos humanos

Gilberto Costa
Repórter da Agência Brasil

Brasília – Trinta homens da Polícia Militar do Distrito Federal (DF) foram treinados para proteger defensores de direitos humanos que estejam ameaçados de morte. A cerimônia de formatura foi hoje (28), na sede da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Os policias treinados, 15 do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e 15 das Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas (Rotam), farão parte da Força Nacional de Segurança e poderão atuar em todo o território nacional. Ainda não foi estabelecido quais pessoas serão protegidas.

O efetivo será mobilizado para os casos mais graves, quando a polícia estadual não estiver fazendo a proteção. O uso da Força Nacional para proteção dos defensores de direitos humanos está previsto no Projeto de Lei 4.574/2009, que institui o Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos.

Segudo o comandante da Academia de Polícia Militar de Brasília, coronel Suamir Santana da Silva, "não existe antagonismo entre o pensamento do uso da força e o pensamento de respeito aos direitos humanos". "O uso da força, dentro da proporcionalidade legal, é permitido. É assim que funciona a polícia no Estado democrático", disse o coronel Silva.

O coronel, que também é chefe do Estado Maior da Polícia Militar do DF, avalia que "os direitos humanos são o instrumento principal de atuação da polícia. A concepção de atuação da polícia em um Estado democrático exige necessariamente o respeito aos direitos humanos", insistiu.

Para o secretário nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Ricardo  Balestreri, a formação dos policiais para proteção de defensores terá "repercussão internacional" e vai "mudar a imagem do Brasil". Para ele, todo policial tem que ser um militante dos direitos humanos.

Na opinião do secretário de Direitos Humanos, ministro Paulo Vannuchi, "os policiais e os defensores de direitos humanos têm uma identidade em comum: são mal compreendidos". O ministro disse que "a segurança pública é um direito humano de primeira grandeza" e ressaltou que policiais não podem praticar tortura, nem participar de grupos de extermínio.

Paulo Vannuchi também participou, na manhã de hoje, da solenidade de posse de 28 pessoas no Conselho Nacional dos Direitos de Idosos.

Edição: Nádia Franco


    Folha: #Federalização do Caso Manoel Mattos

    quinta-feira, 28 de outubro de 2010

    Procuradoria-Geral analisa outros 20 casos de federalização


    Procuradoria analisa outros 20 casos

    Defensor já encaminhou pedido à PGR, em Brasília, para reabrir o processo estadual que investigou os ''Crimes de Maio'', em 2006

    28 de outubro de 2010 | 0h 00
    - O Estado de S.Paulo

    Pelo menos 20 casos de crimes de violação aos direitos humanos já estão em análise na Procuradoria-Geral da República (PGR) aguardando parecer a ser apresentado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) solicitando a federalização da investigação. Entre esses casos estão os chamados "Crimes de Maio", ocorridos em São Paulo entre os dias 12 e 21 de maio de 2006.

    "O caso Manoel Mattos vai definir quais os critérios em que haverá deslocamento ou não", disse o defensor público Antonio Maffesoli, que encaminhou o pedido sobre o caso dos crimes de maio à PGR. O secretário executivo da Secretaria de Direitos Humanos, Rogério Sotilli, observou, após o julgamento, que se tratou de "uma grande vitória". Para ele, isso permitirá ampliar investigações e o País ganhará reconhecimento internacional.

    Para Maffesoli, a decisão consolida o deslocamento como mais um mecanismo importante da Justiça. "O que nós conhecemos no presente é uma realidade de impunidade, principalmente quando envolve violência do Estado. A abertura para julgar pela Justiça Federal é positiva, porque a princípio fica mais distante das autoridades locais."

    O defensor diz acreditar que a Procuradoria estava aguardando o julgamento desse incidente para saber como os ministros do STJ iriam agir nos próximos casos. "Desde o primeiro pedido (no caso Dorothy Stang), há uma certa necessidade de definições de requisitos", diz Maffesoli.

    De acordo com a Emenda Constitucional que possibilitou o deslocamento de competência, o pedido só pode ser feito pela PGR.

    Em maio de 2006, oito pessoas foram mortas em seis ataques diferentes - houve um sobrevivente. Segundo o defensor, há indícios de participação de policiais militares nos crimes. Ninguém foi preso e dois anos depois todas as investigações estavam arquivadas. "Um dos problemas é que cada inquérito foi investigado separadamente." O caso deu origem a um grupo, chamado Mães de Maio, que pedem o desarquivamento e a federalização das investigações.

    A Defensoria encaminhou em maio deste ano o pedido de deslocamento de competência dos seis casos às autoridades federais. Além desse pedido, há ações cíveis de indenização e reparação moral. Maffesoli prefere não falar em otimismo, mas afirma que as conversas com a Procuradoria têm sido boas. "Ainda não dá para saber para saber se a decisão indica algo de positivo para nós. Mas acho que agora temos um bom mote para marcarmos uma nova reunião na Procuradoria."

    Peculiaridades. Existiram particularidades importantes que favoreceram a decisão favorável à federalização do caso Manoel Mattos. De acordo com a Constituição, cabe o pedido nos casos em que houve grave violação de direitos humanos e risco do descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais assinados pelo Brasil.

    Mattos foi assassinado sete anos depois de a Organização dos Estados Americanos (OEA) ter solicitado ao governo medidas que protegessem a integridade física do advogado. Outro ponto importante para a decisão do STJ foi o fato de que os governos de Paraíba e Pernambuco, além de Ministério Público e da Justiça desses Estados, terem endossado o pedido. No caso do pedido de federalização do assassinato de Doroty Stang, um dos entraves decorreu das posições das instituições paraenses que afirmaram serem capazes de dar prosseguimento ao processo e às investigações. / BRUNO PAES MANSO e PAULO SALDANA


    PARA LEMBRAR

    Na primeira solicitação para federalizar um caso envolvendo direitos humanos, o pedido foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça.

    Em uma decisão unânime, os ministros da 3.ª Turma do STJ reconheceram, em 8 de junho de 2005, que a polícia e a Justiça do Pará eram as responsáveis por investigar e julgar os acusados de participar do assassinato da freira Dorothy Stang, ocorrido em fevereiro daquele ano no município paraense de Anapu.

    Os ministros rejeitaram um pedido do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles. Ele argumentou que o caso envolvia grave violação de direitos humanos e ainda teria ocorrido omissão por parte das autoridades estaduais.


    MPF/PB Nota contra a Intolerância Religiosa



    "A raça negra foi a primogénita de todas as raças no percurso da civilização; é a ela que se deve o primeiro brilho do pensamento, o primeiro despertar da inteligência na espécie humana."
    Cheik Anta Diop

    Quarta, 27 de Outubro de 2010 - 19h34

    MPF divulga nota de repúdio contra intolerância religiosa e racismo na PB

    http://www.portalcorreio.com.br/noticias/matLer.asp?newsId=156622

    O Ministério Público Federal (MPF), através da Procuradoria Regional Eleitoral na Paraíba (PR/PB) e da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), divulgou, na tarde desta qurta-feira (27), nota de repúdio a manifestações de intolerância religiosa e racismo praticados em relação às religiões de matriz africana, durante o segundo turno das eleições 2010.

    A nota presta também solidariedade aos ativistas na luta antirracista e que compõem grupos, núcleos, articulações e organizações negras na Paraíba, bem como o respeito aos praticantes das religiões de matriz africana e foi elaborada a partir das manifestações das entidades Federação Cultural Paraibana de Umbanda, Camdomblé e Jurema (Fcpumcanju), Articulação da Juventude Negra – Paraíba, Organização de Mulheres Negras na Paraíba (Bamidelê), Federação Independente de Cultos Afrobrasileiros do Estado da Paraíba, (Ficab), Instituto de Referência Étnica (IRE), Movimento Negro Organizado da Paraíba (MNO-PB), Núcleo de Estudantes Negras e Negros da UFPB (NENN), Rede de Mulheres de Terreiros, Instituto Nacional de Tradição e Cultura Afro-Brasileira (Intecab), Casa de Cultura Ilê Axé Omi Dewá, Centro de Referência dos Direitos Humanos (CRDH) e Ilê Tatá do Axé e Casa de Cultura Ilê Ase D'osoguia (IAO).


    Conforme o procurador regional eleitoral Werton Magalhães Costa, essas manifestações indicam que há ainda muito a fazer contra a discriminação, de qualquer tipo, especialmente quando percebemos sua ocorrência em função do momento democrático que vivenciamos.

    O procurador regional dos direitos do cidadão Duciran Van Marsen Farena lamenta que recursos dessa natureza ainda sejam utilizados em campanhas eleitorais, de forma clandestina. "Em respeito à diversidade cultural e à tolerância, todas as candidaturas deveriam repudiar estes expedientes, e não só aquela vítima das identificações negativas. Essa campanha oculta reforça os estereótipos criados para inferiorizar minorias étnicas, afrontando a Constituição Federal, cujo propósito é a criação de uma sociedade justa, igualitária e sem discriminação".


    Confira a íntegra da nota abaixo:


    'Nota de Repúdio


    O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF), através da Procuradoria Regional Eleitoral na Paraíba (PR/PB) e da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC), vem a público repudiar manifestações de intolerância religiosa e racismo praticados no Estado, em relação às religiões de matriz africana, durante o segundo turno das eleições 2010.

    Recentemente, circularam na Paraíba diversos materiais anônimos (em veículos de comunicação e espaços comunitários) desqualificando e desrespeitando as religiões de matriz africana, com a divulgação de imagens de pessoas associando-as ao culto de entidades demoníacas.


    Expedientes dessa natureza distorcem a importância histórica e cultural das religiosidades negras, dos Babalorixás e Ialorixás, os quais são considerados guardiões e guardiãs da memória de povos africanos escravizados no Brasil. Cumpre ressaltar que 63% da população paraibana e mais de 50% do povo brasileiro é composto por negros e negras.

    Além disso, tais manifestações tentam impor uma visão errônea de que a religião dos orixás é falsa, satânica e com prática restrita à população negra, difundindo, portanto, uma postura intolerante, discriminatória e racista, o que é inadmissível.

    Investigações estão em curso para identificar os envolvidos na autoria e difusão desses materiais. O Ministério Público Federal solidariza-se com os ativistas na luta antirracista e que compõem grupos, núcleos, articulações e organizações negras na Paraíba, exigindo o respeito aos praticantes das religiões de matriz africana.


    João Pessoa, 27 de outubro de 2010

    MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
    Procuradoria Regional Eleitoral
    Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão
    '

    Do MPFPB
     


     





    Ações do documento 27/OUT/2010 - Direitos Humanos forma a 1ª turma de policiais da Força Nacional para atuar no Programa de Proteção aos Defensores, nesta 5ª feira (28)


     
     

    27/OUT/2010 - Direitos Humanos forma a 1ª turma de policiais da Força Nacional para atuar no Programa de Proteção aos Defensores, nesta 5ª feira (28)

    Data: 27/10/2010

    Com a presença do ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR), será realizada nesta quinta-feira (28), às 9 horas, em Brasília (DF), a cerimônia de encerramento do 1º Curso de Formação de Policiais Militares para apoio ao Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos. Liderado pela SDH/PR. O treinamento é resultado de parceria com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça, e com a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF).

    Além do ministro Vannuchi, a cerimônia terá a presença do secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Balestreri; do comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal, coronel Luiz Renato Fernando Rodrigues; do coordenador-geral do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Ivan Marques; e do diretor de Defesa dos Direitos Humanos da SDH, Fernando Matos, que fará a entrega dos certificados aos participantes. Matos representará a secretária nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos da SDH, Lena Peres.

    O objetivo do curso de Formação de Policiais Militares para apoio ao Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos é treinar policiais em técnicas de proteção a pessoas ameaçadas, com foco em direitos humanos. Eles integrarão a Força Nacional de Segurança e poderão atuar em todo o território nacional.

    Segundo o diretor de Defesa dos Direitos Humanos da SDH, Fernando Matos, "as aulas possibilitaram domínio completo da proteção necessária aos defensores de Direitos Humanos. Acredito que a SDH fechou um ciclo importante na formação desses policiais", afirma.

    "Ao longo do curso, os policiais mudaram a visão que tinham sobre Direitos Humanos", avalia o coordenador-geral do programa de proteção, Ivan Marques. "Antes considerados baderneiros, agora os defensores são vistos como pessoas comuns, como os policiais, que estão lutando por um direito fundamental, por justiça. Isso gera uma motivação muito importante para quem vai proteger essas pessoas", afirma.

    Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos – Criado em 2004, sob coordenação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Atualmente, encontra-se implantado em seis estados conveniados: Pará, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. O Brasil é o único país do mundo a ter um programa de proteção a defensores de Direitos Humanos institucionalizado. 

    Encerramento do 1º Curso de Formação de Policiais Militares para apoio ao Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos
    Data: 28 de outubro de 2010
    Horário: 9 horas
    Local: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, 10º andar. Setor Comercial Sul - B, Quadra 9, Lote C, Edificio Parque Cidade Corporate, Torre "A", Brasília (DF)

    quarta-feira, 27 de outubro de 2010

    Processo sobre assassinato de ativista de direitos humanos é federalizado


    Processo sobre assassinato de ativista de direitos humanos é federalizado

    Por Redação. - 18:31:00 - 26 Views






    Brasília (Agência Brasil) – O processo sobre o assassinato do advogado e defensor dos direitos humanos Manoel Mattos, assassinado em 2009 na Paraíba, foi o primeiro a ser federalizado no país. Por 5 votos a 2, os ministros da Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiram hoje (27) que a apuração do crime e do envolvimento dos cinco suspeitos deve ocorrer na Justiça Federal da Paraíba.

    Os ministros também concordaram que outros crimes correlatos ao assassinato de Manoel Mattos, ou seja, atribuídos a grupos de extermínio na divisa entre Pernambuco e a Paraíba, também serão investigados e julgados pela Justiça Federal. Além disso, um comunicado sobre a decisão da corte será enviado ao Ministério da Justiça e às corregedorias de Pernambuco e da Paraíba.

    Segundo o diretor da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Fernando Matos, após a federalização, o Ministério Público, a Procuradoria da República da Paraíba e o juiz federal responsável pelo caso vão decidir se haverá novas audiências e coleta de novas provas. "Como o voto dos ministros permite que, além do caso Manoel Mattos, outros casos conexos sejam levados à Justiça Federal, podemos ter uma ampliação de pessoas e fatos a serem investigados".

    O diretor afirmou que o processo de articulação entre entidades da sociedade civil, o governo e a Justiça durou um ano. "Envolveu a Secretaria de Direitos Humanos, o Ministério da Justiça, a sociedade civil, os governos de Pernambuco e da Paraíba, os Ministérios Públicos estaduais e a Secretaria de Segurança Pública".

    Para a diretora da organização não governamental Justiça Global, Andressa Caldas, a decisão do STJ é "uma conquista histórica do movimento dos direitos humanos". Segundo ela, a possibilidade de federalizar crimes de violação dos direitos humanos está prevista na Constituição desde 2004 e nunca foi colocada em prática.

    De acordo com Andressa, a decisão da corte abre um novo capítulo na história do país, pois vai punir os executores dos crimes e os mandantes que financiam os grupos de extermínio no país. " O julgamento de hoje vai mudar os rumos e dá uma esperança muito grande para quem milita no campo de defesa dos direitos humanos. Estamos muito confiantes que essa investigação vai levar à condenação não só de quem matou Manoel Mattos como quem mandou matar [o advogado]".

    A mãe de Manoel Mattos, Nair Ávila, passou mal durante o julgamento e foi atendida por uma equipe médica do STJ. Após a decisão, ela comemorou e se emocionou: "Foi um ano e nove meses de muito sofrimento, mas estou muito feliz por ter alcançado essa vitória. O meu filho entrou para a história. Ele era uma pessoa especial e só fazia o bem, por isso tem de receber o bem. Quero que as pessoas que fizeram isso com ele sejam punidas".

    Para o secretário executivo da Secretaria de Direitos Humanos, Rogério Sotilli, o julgamento de hoje representa uma grande vitória. Segundo ele, o Brasil vai enfrentar as violações de direitos humanos de outra forma e os crimes serão investigados até o fim. Além disso, o país também ganhará reconhecimento internacional.

    "É a primeira federalização da história e um compromisso do governo federal em adotar a federalização em casos gravíssimos de violação dos direitos humanos. Pela primeira vez, o STJ acata o pedido da Procuradoria-Geral da República justamente no ano em que os Direitos Humanos foram tão debatidos."


    Grave violação a direitos humanos leva STJ a federalizar caso Manoel Mattos


    DECISÃO
    Grave violação a direitos humanos leva STJ a federalizar caso Manoel Mattos
    Por maioria de votos, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) acolheu o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para que o crime contra o ex-vereador Manoel Mattos seja processado pela Justiça federal. O caso fica agora sob responsabilidade da Justiça federal da Paraíba. É a primeira vez que o instituto do deslocamento é aplicado.

    A ministra Laurita Vaz, relatora, acolheu algumas propostas de alteração do voto para melhor definição do alcance do deslocamento. Entre as principais propostas, está a alteração da Seção Judiciária a que seria atribuída a competência. Inicialmente, a relatora propôs que a competência se deslocasse para a Justiça federal de Pernambuco, mas prevaleceu o entendimento de que o caso deveria ser processado pela Justiça federal competente para o local do fato principal, isto é, o homicídio de Manoel Mattos.

    Outros casos conexos também ficarão a cargo da Justiça federal, mas a Seção não acolheu o pedido da PGR de que outras investigações, abstratamente vinculadas, também fossem deslocadas para as instituições federais.

    A relatora também acolheu proposta de modificação para que informações sobre condutas irregularidades de autoridades locais sejam comunicadas às corregedorias de cada órgão, em vez de serem repassadas para os conselhos nacionais do Ministério Público (CNMP) e de Justiça (CNJ).

    Com os ajustes, acompanharam a relatora os ministros Napoleão Maia Filho, Og Fernandes e o desembargador convocado Haroldo Rodrigues. Votaram contra o deslocamento o ministro Jorge Mussi e os desembargadores convocados Celso Limongi e Honildo de Mello Castro. A ministra Maria Thereza de Assis Moura presidiu o julgamento, e só votaria em caso de empate. O ministro Gilson Dipp ocupava o cargo de corregedor Nacional de Justiça à época e não participou do início do julgamento.

    Esta foi a segunda vez que o STJ analisou pedido de deslocamento de competência, possibilidade criada pela Emenda Constitucional nº 45/2004 (reforma do Judiciário), para hipóteses de grave violação de direitos humanos. O IDC nº 1 tratou do caso da missionária Dorothy Stang, assassinada no Pará, em 2005. Naquela ocasião, o pedido de deslocamento foi negado pelo STJ.

    http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=99620

    terça-feira, 26 de outubro de 2010

    Comitê escolhe prioridades do PNDH 3 para implantação


    Comitê escolhe prioridades do PNDH 3 para implantação
    Agência Brasil

    BRASÍLIA – Até o dia 10 de dezembro, o comitê de acompanhamento e monitoramento do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), formado por 21 ministérios, deverá fechar o plano de ação de direitos humanos para os próximos dois anos que deverá ser implantado pelo novo governo.

    A elaboração do plano de ação pelo comitê está prevista no Decreto 7.037 (de dezembro de 2009) que lançou a terceira edição do PNDH. Para 2011, as ações terão previsão no Orçamento da União.

    Segundo a secretária de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, Lena Peres, o plano deverá prever a criação de um sistema de informações ligando todas as unidades da Federação sobre crimes de direitos humanos (contra homossexuais e moradores de rua, por exemplo). "As pessoas precisam ver os dados de direitos humanos aferidos de uma forma completamente adequada, e isso deve entrar no sistema de informações dos estados e municípios."

    O plano ainda envolverá ações de atenção, como a criação de escritórios para articulação da rede de serviços em direitos humanos, o atendimento à saúde, acesso à educação e moradia e a promoção do trabalho. Já há um projeto piloto de escritório em funcionamento no estado do Rio de Janeiro.

    Além disso, o comitê pretende priorizar a criação do Conselho Nacional de Direitos Humanos em substituição ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) que surgiu no governo João Goulart, em março de 1964, e foi implementado durante a ditadura militar (1964-1985).

    Para Lena Peres, o CDDPH tem uma forma de representação muita antiga o que "faz com que a sociedade civil não se veja dentro do conselho". Um projeto de lei sobre o novo conselho já tramita no Congresso Nacional há cerca de 16 anos.

    De acordo com a secretária, o aborto não está na versão preliminar do plano bienal em discussão no comitê. De acordo com Lena Peres, o tema não entrou "porque tem ações muito mais macro, que precisam ser estruturadas em relação à mulher e a mortalidade materna", salientou.

    A menção à descriminalização do aborto, descrita na versão original do PNDH 3, foi alvo de críticas da Igreja Católica. O assunto tem sido explorado durante a campanha eleitoral. O aborto é a quinta causa de mortalidade materna no Brasil. E a diminuição desse tipo de morte é a única meta do milênio que o Brasil não conseguirá cumprir. As Metas do Milênio são compromissos firmados por 180 países nas Nações Unidas.

    De acordo com os cálculos de Lena Peres, das 519 ações do PNDH 3, 31 já estão executadas (cerca de 6%). A maioria das ações do programa (399) competem ao Poder Executivo federal. O PNDH foi estabelecido para uma década.


    Após dez anos e 200 execuções…


    Após dez anos e 200 execuções…

    STJ decidirá se federaliza as investigações contra grupo de extermínio

    O superior Tribunal de Justiça (STJ) deverá retomar, na quarta-feira 27, o julgamento do pedido de federalização dos processos que investigam a atuação de um grupo de extermínio na divisa entre Paraíba e Pernambuco. De acordo com organizações civis que acompanham a situação na chamada "fronteira do medo", este esquadrão, integrado por policiais, seria responsável por ao menos 200 mortes nos últimos dez anos, incluindo a do advogado e vereador do município de Itambé (PE) Manuel Mattos, executado no litoral da Paraíba em janeiro do ano passado.

    Reconhecido defensor dos direitos humanos, Mattos denunciava os crimes na região e passou a sofrer ameaças. Chegou a ter proteção de agentes da Polícia Federal, graças a uma recomendação feita pela Organização dos Estados Americanos (OEA) em 2002, mas passou os últimos dois anos de sua vida sem a escolta, interrompida pelo governo. Em 8 de setembro, o STJ iniciou o julgamento do pedido de federalização com o voto favorável da ministra relatora Laurita Vaz. A audiência acabou suspensa graças ao pedido de vistas de Celso Limongi.

    Com a federalização, a competência dos processos de investigação e de julgamento é deslocada da esfera local para a federal. O instrumento, conhecido pela sigla IDC (Incidente de Deslocamento de Competência), foi criado em 2004, durante a reforma do Judiciário. É previsto apenas nos casos de grave violação aos direitos humanos e na qual se comprova a omissão dos órgãos estaduais na punição aos responsáveis. Há cinco anos, o mesmo tipo de recurso foi avaliado pelo STJ no caso do assassinato da irmã Dorothy Stang, mas foi julgado improcedente. A morte de Mattos constitui o segundo pedido de IDC avaliado no País.

    No pedido formulado pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, e apresentado à Corte em junho de 2009, é requisitada a efetiva investigação dos agentes de segurança pública estaduais suspeitos de participar ou de serem complacentes com o grupo de extermínio. Também solicita a apuração da possível omissão de promotores e juízes na apuração.

    Na avaliação da advogada Andressa Caldas, diretora da ONG Justiça Global, que propôs à Procuradoria-Geral da República a federalização desses casos, há muita resistência no Judiciário em autorizar o deslocamento de competência. "Muitos juízes entendem que isso seria um reconhecimento da incompetência da Justiça estadual e, assim, poderiam expor os colegas, mas não é caso. Muitos promotores cumprem o seu papel de fiscalização e esbarram nas deficiências do aparato policial local ou passam a sofrer ameaças. O IDC serve, inclusive, para proteger eses agentes estaduais de eventuais pressões."

    Como exemplo ela cita o caso da promotora Rosemary Souto Mayor, da comarca de Itambé (PE), que passou a ser ameaçada após investigar a atuação do grupo de extermínio. A OEA recomendou que ela passasse a contar com escolta policial. "O problema é que essa proteção é feita, hoje, por policiais militares, o que consideramos inadequado, tendo em vista que o grupo de extermínio é integrado por colegas de farda. O ideal seria uma proteção da Polícia Federal, que não tem envolvimento no caso."

    Em entrevista ao Correio Brasiliense, em setembro deste ano, a promotora confirmou que, em grande medida, a omissão estatal se deve à intimidação. "As pessoas têm medo de sofrer represálias e até mesmo de serem mortas ao investigar."

    Mais do que garantir a investigação da morte de Mattos e de outros 200 na fronteira do medo, boa parte delas sem a instauração de um inquérito policial para investigar a autoria, diversas entidades civis torcem para que a federalização seja referendada pelo STJ e possa ser aplicada em outros assassinatos. Objetivo: impedir a vitória da impunidade. Como afirmou o procurador da República Ubiratan Cazetta, em artigo publicado no site de CartaCapital recentemente, a União deve "assumir o papel de promoção dos direitos humanos e acabar com as desculpas na demora, na ineficiência, na falta de estrutura".

    segunda-feira, 25 de outubro de 2010

    Questão agrária: “O que está em jogo é a disputa de concepção de mundo”



    22/10/2010

    Questão agrária: "O que está em jogo é a disputa de concepção de mundo"


    Entrevista

    A região Nordeste chega a concentrar cerca de 50% do campesinato do país. É sob esta região que o professor da Universidade do Ceará e colaborador da CPT no estado, José Levi Sampaio, analisa os desafios da luta pela terra, em entrevista à Comissão Pastoral da Terra – Regional NE II, durante o II Seminário Nacional do Laboratório de Estudos sobre Espaço e Cultura, realizado entre os dias 27 e 30 de setembro, na UFPE. O professor ressalta que "para resolver a questão agrária, nós precisamos, além da Reforma Agrária, fortalecer os processos culturais, dentre eles, os saberes locais, entendendo como se constroem o conhecimento da realidade das comunidades".

    Neste contexto, o professor afirma a importância de que as organizações e movimentos sociais aprodunfem a discussão sobre outros elementos, como a questão da água e da luta pelos "direito ao trabalho, à cidadania, direito de participar, interferir, de agir politicamente para que os cidadãos envolvidos em todas essas lutas de que estamos falando sejam cada vez mais fortes". E finaliza: "Temos dois mundos em disputa constante e ininterrupta e nós precisamos fortalecer aqueles que estão buscando, não os recursos como forma de enriquecimento, de ampliação da riqueza, mas a melhoria da qualidade de vida, da saúde, da educação, da cultura."


    Confira abaixo a entrevista:

    CPT NE II - O Nordeste é a região do pais que concentra cerca de 50% do campesinato do país. Como o senhor vê a questão da luta pela terra, pela Reforma Agrária nesta região, considerando também os outros tantos elementos que não apenas a conquista pela terra, como a educação do campo, a cultura camponesa etc.?

    José Levi - 
    Quando falamos da questão agrária vem de imediato em nossa cabeça a Reforma Agrária. A Reforma Agrária é um dos pontos centrais da questão agrária nacional. Mas para resolver essa problemática, nós precisamos, além da Reforma Agrária, fortalecer os processos culturais, dentre eles, os saberes locais, entendendo como se constroem o conhecimento da realidade das comunidades. Ao mesmo tempo, também precisamos fortalecer os processos de educação formal, que ela venha com outro caráter, na perspectiva de educação do campo. Precisamos valorizar o que existe e criar novos valores, porque não somos estáticos no tempo, a sociedade muda, a comunidade muda, as tecnologias mudam e precisamos acompanhar esses novos processos, com nova mentalidade. Temos que interferir nos processos técnicos, porque as técnicas têm o poder de interferir nos processos produtivos e geram hoje uma produtividade voltada para o mercado.

    Os que fortalecem a luta pela terra defendem que a técnica seja voltada para atender as necessidades básicas da Soberania Alimentar da população, não só para comunidade em si, mas para o mundo. É nesta perspectiva que a Reforma Agrária deve vir. Além da Terra, precisamos também aprofundar a discussão sobre outros elementos, como a água. Sem a água não podemos produzir nada, não teremos vida. A biodiversidade sem água não existe, precisamos discutir o direito ao acesso à água e garanti-la para todas as comunidades. Outra luta que precisamos enfrentar é a luta pelos Direitos. Direito ao trabalho, à cidadania, direito de participar, interferir, de agir politicamente para que os cidadãos envolvidos em todas essas lutas de que estamos falando sejam cada vez mais fortes. Se nós não tivermos esse conjunto de forças atuando não teremos a Reforma Agrária.


    Feito essas colocações, verificamos que no Nordeste, a luta tem sido continua, tanto na CPT, quanto em outras organizações que contribuem com os movimentos sociais que atuam na região. Sendo que estes, por vezes, ocorrem e atuam de forma fragmentada, dando a impressão de fragilidade, no entanto, as redes sociais na atualidade conseguem fazer boa interação entre as diversas manifestações na região. Cabe salientar que a unidade das lutas regionais necessita de maior costura política. Vejo, portanto que a Reforma Agrária no Nordeste e outras regiões do país não se dará apenas distribuído a terra concentrada, como afirmamos acima.

    CPT NE II - O senhor não acha que isso está muito mais claro agora do que há certo tempo atrás? Em muitos momentos a luta pela terra, a questão do direito à terra foi vista apenas pelo fator econômico, da produção. Os trabalhadores e trabalhadoras, sobretudo no Nordeste, ensinaram a ver a terra com outro olhar, não é o olhar apenas econômico...

    José Levi - 
    A realidade é muito rica e o convívio, o relacionamento que vamos estabelecendo com as comunidades, na troca de saberes, nos faz perceber o quanto temos que fortalecer a perspectiva de que as frentes de luta nascem é no seio dos trabalhadores e das trabalhadoras. Nascem, sobretudo, dos que se encontram no campo, porque são aqueles que não têm, que lutam e necessitam da Terra, Água, de Direitos. São também novos elementos, conceitos, lutas que estão aparecendo e temos que dar conta deles, como  o meio ambiente, que está constantemente em pauta na atualidade, a questão da transgenia, o próprio conceito da agroecologia, que surge recentemente no seio da questão agrária e que aparece agora politicamente definido como uma frente de luta, principalmente pela questão da Soberania Alimentar.

    CPT NE II - Então é esta disputa de lógica de conceber o campo que se situa a questão agrária. De um lado o território do capital que expropria tudo, tanto as pessoas quanto a terra e os recursos naturais. De outro lado, tem um outra forma de vida que é oposto a lógica do capital...

    José Levi - 
    É a disputa de concepção de mundo, de como viver no mundo, de como utilizar seus recursos. Temos esses dois mundos em disputa constante e ininterrupta e nós precisamos fortalecer aqueles que estão buscando, não os recursos como forma de enriquecimento, de ampliação da riqueza, mas a melhoria da qualidade de vida, da saúde, da educação, da cultura. Valorizando e fortalecendo aquelas permanências culturais que estão na ativa no campo, para que venham com mais força, se contrapondo ao modelo dominante que é   o do agronegócio.

     

    Entrevista realizada pela Comissão Pastoral da Terra - Regional Nordeste II

    * José Levi Furtado Sampaio é doutor e professor de Geografia da Universidade Federal do Ceará e colaborador da CPT.



    sábado, 23 de outubro de 2010

    Colômbia oferece proteção a grupos de direitos humanos ameaçados


    Colômbia oferece proteção a grupos de direitos humanos ameaçados

    Plantão | Publicada em 23/10/2010 às 09h05m

    Reuters/Brasil Online
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    BOGOTÁ (Reuters) - A Colômbia se comprometeu a garantir as atividades das organizações defensoras dos direitos humanos e ofereceu fortalecer a proteção de seus integrantes depois das ameaças de supostos paramilitares de ultradireita.

    Entre as organizações que receberam ameaças por e-mail de supostos paramilitares está o Escritório em Washington para Assuntos Latino-Americanos (Wola, na sigla em inglês).

    "A Presidência da República pediu às autoridades que esses acontecimentos sejam investigados com profundidade e ratifica seu compromisso de garantir o livre exercício das atividades destas organizações", disse um comunicado do governo.

    "Assim mesmo, o governo nacional pede à comunidade, às vítimas e aos defensores dos direitos humanos que denunciem esse tipo de ameaça", acrescentou.

    Um grupo autodenominado "Águias Negras" declarou como alvo militar vários grupos humanitários que trabalham no país, abalado por um conflito interno de mais de 45 anos que já matou milhares de pessoas.

    Estão envolvidos no conflito nacional as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), paramilitares de ultradireita e as Forças Armadas. De acordo com o governo, as Farc e antigos paramilitares se financiam com o narcotráfico.

    Além do Wola, a lista de ameaçados inclui a Consultoria para Direitos Humanos e o Deslocamento (Codhes), o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) e a Associação Nacional de Afro-Colombianos Deslocados (Afrodes).

    No ano passado, 32 ativistas e defensores dos direitos humanos foram assassinados na Colômbia, de acordo com o programa governamental "Somos Defensores".

    (Reportagem de Luis Jaime Acosta)

    NOTA PÚBLICA PNDH-3

    NOTA PÚBLICA PNDH-3

    Data20/10/2010



                                                NOTA PÚBLICA
    Em razão de declarações distorcidas sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos – PNDH-3, algumas vezes envolvendo má-fé e utilização eleitoreira de suas propostas, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República sente-se no dever de corrigir as afirmações do candidato José Serra que, no Jornal Nacional de ontem à noite (19), declarou que o PNDH-3 "tornava transgressor, criminoso aquele que fosse contra o aborto".

    Para que se restabeleça a verdade sobre o PNDH-3, cabe esclarecer:
     
    •    o PNDH-3 não torna transgressor ou criminoso quem quer que seja. O Programa trata o aborto como tema de saúde pública. Na redação inicial (21/12/2009) constava "Apoiar a aprovação do projeto de lei que descriminaliza o aborto, considerando a autonomia das mulheres para decidir sobre seus corpos". Na versão definitiva, publicada em 13/05/2010, consta "Considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços de saúde" (Diretriz 9, Objetivo Estratégico III, ação g);

    •    o PNDH-3 não foi feito pelo PT ou por um partido. É um decreto presidencial resultado de amplo processo democrático, com propostas debatidas e aprovadas na 11ª Conferência Nacional dos Direitos Humanos (2008) e em dezenas de outras conferências com a participação da sociedade civil e governos estaduais.  A Conferência Estadual de São Paulo, por exemplo, foi convocada pelo Decreto 53.005 de 16 de maio de 2008 pelo então governador José Serra. Esta etapa elegeu delegados para a Conferência Nacional, cujas resoluções aprovadas deram origem ao PNDH-3;

    •    o PNDH-3 traz diretrizes para orientar o poder público na promoção e defesa dos Direitos Humanos, em total consonância com a Constituição Federal, com as recomendações da Conferência de Viena da ONU (1993) e com os diversos instrumentos internacionais (ONU e OEA) assinados pelo Brasil;

    •    o PNDH-3 atualiza os programas de Direitos Humanos lançados em 1996 e 2002. No caso do aborto, por exemplo, o PNDH-2 – da administração Fernando Henrique Cardoso – defendia explicitamente o aborto como tema de saúde pública e propunha a ampliação dos casos em que seu uso seria permitido pela lei. Eis o texto: "Apoiar a alteração dos dispositivos do Código Penal referentes ao estupro, atentado violento ao pudor, posse sexual mediante fraude, atentado ao pudor mediante fraude e o alargamento dos permissivos para a prática do aborto legal, em conformidade com os compromissos assumidos pelo Estado brasileiro no marco da Plataforma de Ação de Pequim" (ação 179). Determinava ainda a necessidade de "Considerar o aborto como tema de saúde pública, com a garantia do acesso aos serviços de saúde para os casos previstos em lei" (ação 334), sendo esta última redação quase idêntica à usada no PNDH-3. 

    A desinformação não colabora com o processo democrático, desrespeitando a cidadania e os Direitos Humanos.

                                                            Brasília, 20 de outubro de 2010

    sexta-feira, 22 de outubro de 2010

    Julgamento da federalização do assassinato do advogado Manoel Mattos


    JULGAMENTO DO IDC02

    A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), sob a presidência da Ministra Laurita Vaz, prevê para o dia 27 de outubro a retomada do julgamento da federalização do assassinato do advogado Manoel Mattos e dos crimes atribuídos a grupos de extermínio na fronteira entre Pernambuco e Paraíba. Manoel Bezerra de Mattos Neto era advogado, foi ex-vereador e defensor de Direitos Humanos, membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados de Pernambuco, dirigente do Movimento Nacional de Direitos Humanos e do Partido dos Trabalhadores. Desde o ano de 2000, em diversas as oportunidades, o Estado Brasileiro tem notícias da existência e atuação de grupos de extermínio, que seriam compostos por particulares e agentes estatais (policiais militares, policiais civis, agentes penitenciários), e que atuam na divisa entre os Estados da Paraíba e de Pernambuco. Manoel Mattos era um dos que denunciavam amplamente os crimes destes grupos às autoridades estaduais, federais e CPIs, pelo que passou a ser perseguido e ameaçado de morte. Em 24 de janeiro de 2009, Manoel Bezerra de Mattos Neto foi assassinado no litoral paraibano.

    No dia 23 de junho de 2009, o Procurador-Geral da República requereu ao Superior Tribunal de Justiça a instauração do Incidente de Deslocamento de Competência - IDC, para transferir para a Justiça Federal a investigação, o processo e julgamento do homicídio de Manoel Mattos, bem como da apuração e repressão aos grupos de extermínio atuantes na divisa dos estados da Paraíba e de Pernambuco em toda sua dimensão, inclusive dos feitos instaurados e arquivados, e dos fatos ainda não objeto de qualquer investigação ou ação penal.

    O Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana - CDDPH, em sessão de 13 de agosto de 2009, por unanimidade, deliberou absoluto e pleno apoio ao Incidente de Deslocamento de Competência n°. 2. E, por meio da Resolução nº. 04/2009, o Conselho constituiu Comissão Especial com objetivo de "realizar gestões junto à Sociedade Civil e aos Poderes constituídos dos estados da Paraíba e de Pernambuco e autoridades federais, com intuito de agilizar a apuração e a punição do assassinato do defensor dos direitos humanos, Manoel Mattos, bem com seu processo de federalização", viajando para as localidades no mesmo mês de agosto.

    É sabido que o pedido de IDC - 02 satisfaz cabalmente os requisitos constitucionais previstos no artigo 109, parágrafo 5º da Constituição Federal: a existência de grave violação de Direitos Humanos e o risco de responsabilização internacional decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas em tratados internacionais.

    O julgamento está previsto para o dia 27 de outubro de 2010, na Terceira Seção do Supremo Tribunal Federal, a partir das 13h. Vamos participar desse dia histórico!

     

    Serviços

    Julgamento do IDC – 02, 27 de outubro, a partir das 13h.

    Endereço do STJ: SAFS - Quadra 06 - Lote 01 - Trecho III - CEP: 70095-900 - Brasília - DF
    Telefone: 
    (61) 3319-8000 | Informações Processuais: (61) 3319-8410.

     

    quinta-feira, 21 de outubro de 2010

    Em SP, 95% dos crimes ficam impunes



    http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,em-sp-95-dos-crimes-ficam-impunes,581914,0.htm

    Em SP, 95% dos crimes ficam impunes

    Só 1 em cada 20 casos vira processo judicial na capital paulista e qas chances de impunidade dobram se o criminoso não for pego em flagrante

    16 de julho de 2010 | 6h 32

    Bruno Paes Manso e Rodrigo Brancatelli, de O Estado de S. Paulo

    SÃO PAULO - Uma pessoa que cometa um crime na capital paulista tem 1 chance em 20 de ter de responder na Justiça (5,2%). E mais da metade dos processos só é aberta porque o autor do crime foi pego em flagrante. Se isso não ocorrer, a chance de a investigação policial descobrir o criminoso é de apenas 1 em 40 (2,5%).
    Veja também
    linkMétodo para investigar roubos será aprimorado
    Esse mapa da impunidade resulta do cruzamento feito pelo Estado dos dados da produção do Ministério Público Estadual entre 2002 e 2009 com os crimes registrados pela Secretaria da Segurança Pública. Os furtos registrados nas delegacias são o tipo de crime com menor número de denúncias no Judiciário: só 3,1% viram processos. No caso dos roubos, esse número sobe para 4,8%. Entre os crimes com maior índice de resolução estão os homicídios: 32% viram ação penal. Já o alto índice de resolução de estupros (41%) se deve ao fato de que os poucos casos denunciados pelas vítimas geralmente têm autoria conhecida.
    Cifras negras. A ineficiência no esclarecimento de crimes pode ser ainda maior. É que os dados levam em consideração só os casos registrados nas delegacias. Cerca de 70% dos crimes não são comunicados à polícia, segundo as três principais pesquisas de vitimização feitas entre 2001 e 2008 no Brasil.
    "Existe uma enorme cifra negra nos dados de segurança pública, que ocorre em São Paulo, no Brasil e em outros lugares no mundo. Isso existe porque muitos são vítimas de crime e não registram boletins de ocorrência. Eu mesmo fui vítima de crime, roubaram minha carteira e eu não percebi. Acabei não registrando na delegacia", explica Sérgio Mazina, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim).

    Para Mazina, os índices revelam a baixa capacidade de investigação das polícias estaduais, reflexo da ideia de que o combate ostensivo ao crime deve ser priorizado. Isso tem consequências importantes, segundo o presidente do Ibccrim. Os flagrantes, por exemplo, são priorizados, atingindo os pequenos criminosos que atuam nas ruas. As estruturas criminais, contudo, de receptação e encomenda, que fazem novos crimes acontecerem, permanecem intactas.
    A diretora de pesquisa do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas Judiciais, Maria Tereza Sadek, aponta outras consequências no cotidiano da população. "Basta andar na rua. São seguranças privados e carros blindados, soluções privadas, que deveriam ser incumbência do poder público. Não é só no morro que falta Estado. Também falta em Higienópolis, onde moro."
    Para Maria Tereza, que também é professora de Ciências Políticas da Universidade de São Paulo, a solução do gargalo do sistema passa pelo envolvimento de todas as partes na questão: polícia, Ministério Público e Poder Judiciário. Cita o exemplo da iniciativa do Conselho Nacional de Justiça, que passou a visitar as penitenciárias para entender o problema e buscar soluções. "O problema só pode ser resolvido se todas as partes assumirem compromisso com mudanças."
    O promotor da Vara do Júri, Arual Martins, diz que se antes a "lei do silêncio" atrapalhava as investigações, o desafio atual é a "lei da indiferença". "As investigações são com base em testemunhos e a sociedade hoje prefere não se envolver. Acham que ir à delegacia, ao plenário ou ao júri é perda de tempo."
    Como funciona
    DO CRIME À DEFINIÇÃO DO CASO PELA JUSTIÇA
    1. Registro
    Um crime ou um delito ocorre e há a comunicação do caso à polícia (BO).
    2. Inquérito
    Em homicídios, sempre há. Nos crimes contra o patrimônio, só se houver indício de autoria.
    3. Prazos
    A polícia tem 30 dias para concluir o inquérito. O prazo pode ser ampliado, com aval do MP.
    4. Ministério Público
    Concluída a investigação, a polícia manda o inquérito para análise do MP.
    5. Processo e julgamento
    Cabe ao MP denunciar um acusado à Justiça, que decide se instaura

     

    http://www.estadao.com.br/noticias/geral,na-capital-paulista-95-dos-crimes-ficam-impunes,582088,0.htm

    Na capital paulista, 95% dos crimes ficam impunes

    16 de julho de 2010 | 11h 43

    AE - Agência Estado

    Uma pessoa que cometa um crime na capital paulista tem 1 chance em 20 de ter de responder na Justiça (5,2%). E mais da metade dos processos só é aberta porque o autor do crime foi pego em flagrante. Se isso não ocorrer, a chance de a investigação policial descobrir o criminoso é de apenas 1 em 40 (2,5%). Esse mapa da impunidade resulta do cruzamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo dos dados da produção do Ministério Público Estadual entre 2002 e 2009 com os crimes registrados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).
    Os furtos registrados nas delegacias são o tipo de crime com menor número de denúncias no Judiciário: só 3,1% viram processos. No caso dos roubos, esse número sobe para 4,8%. Entre os crimes com maior índice de resolução estão os homicídios: 32% viram ação penal. Já o alto índice de resolução de estupros (41%) se deve ao fato de que os poucos casos denunciados pelas vítimas geralmente têm autoria conhecida.
    A ineficiência no esclarecimento de crimes pode ser ainda maior. É que os dados levam em consideração só os casos registrados nas delegacias. Cerca de 70% dos crimes não são comunicados à polícia, segundo as três principais pesquisas de vitimização feitas entre 2001 e 2008 no Brasil.
    Novas medidas
    Levar o modelo da investigação dos homicídios para os delitos contra o patrimônio, como roubo e furtos, é a saída da Polícia Civil de São Paulo para tentar aumentar o índice de esclarecimento desses crimes. A Delegacia Geral prepara portaria para estabelecer um modelo de procedimentos que deverão ser adotados em casos de roubos a condomínios, por exemplo.
    Com o novo esquema, a polícia vai mandar uma equipe para o local dos roubos. Os policiais terão a companhia de um perito que vai recolher possíveis pistas. Os investigadores vão ouvir as testemunhas e até o retrato falado deve ser feito na hora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
     



    ministro Paulo Vannuchi participa da entrega Prêmio João Canuto – 2010


    Vannuchi entrega prêmio de direitos humanos no Rio

    Da Agência Brasil

    Rio de Janeiro - O ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, participa hoje (21), às 18h, da cerimônia de entrega do Prêmio João Canuto – 2010. A premiação é oferecida pelo grupo de pesquisa Trabalho Escravo, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pelo Movimento Humanos Direitos (MhuD). 

    O objetivo é dar visibilidade a empreendedores sociais e organizações que se dedicam à defesa dos direitos humanos. No evento,  o cantor Geraldo Azevedo e a atriz Letícia Sabatella cantam músicas que homenageiam o Rio São Francisco. 

    A premiação será no prédio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFRJ, na Urca.

    Edição: Graça Adjuto


    Nota Oficial: suspensão do julgamento pelo Superior Tribunal Militar sobre candidata à presidência da República

    Nota Oficial: suspensão do julgamento pelo Superior Tribunal Militar sobre candidata à presidência da República

    A Associação Nacional dos Advogados da União – ANAUNI, entidade de classe de âmbito nacional, que tem por fim a defesa e promoção da carreira de Advogado da União,  vem a público prestar esclarecimentos, com o intuito de informar a sociedade brasileira, sobre a decisão de suspensão do julgamento, pelo Superior Tribunal Militar (STM), do pedido do jornal Folha de São Paulo, para acessar o conteúdo do processo que envolve a candidata à Presidência da República, Dilma Roussef.

    É atribuição da Advocacia-Geral da União (AGU), consoante o disposto na Constituição Federal de 1988 (art. 131) a defesa judicial dos Poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário), inclusive de suas autoridades.

    Nos termos do art. 7º, II, da Lei nº 12016/2009, o magistrado, ao despachar a petição de mandado de segurança, deve intimar o órgão de representação judicial da União, no caso a AGU, para manifestar interesse em ingressar no feito.

    No caso do mandado de segurança impetrado pelo aludido veículo de comunicação, não houve a intimação da Advocacia-Geral da União, consoante determina o dispositivo legal citado. A falta dessa comunicação processual macula o processo de vício insanável, pois atinge frontalmente o princípio do devido processo legal, um dos pilares do Estado Democrático de Direito.

    Por essa razão, não se vislumbra qualquer atuação político-partidária da Advocacia-Geral da União no presente caso, uma vez que o mandado de segurança foi impetrado contra autoridade pública federal, qual seja, o Presidente do Eg. Superior Tribunal Militar. Por fim, é de se destacar que a decisão proferida pelo Eg. Superior Tribunal Militar acolheu, por ampla maioria de votos (8 x 2), os argumentos lançados, de maneira técnica e escorreita, pelo Advogado da União, que exerceu suas atribuições constitucionais de defesa do Estado brasileiro e de seus agentes.



    domingo, 17 de outubro de 2010

    Secretário Ricardo Henriques fala sobre UPP social


    ENTREVISTA

    Após pacificação, UPP social é a aposta do Secretário estadual de Assistência Social para levar cidadania às favelas

    Carla Rocha

    RIO - "Vamos combinar?". A pergunta parece boba, mas não para o doutor em economia Ricardo Henriques. Ele a tem levado, como convite, às favelas pacificadas no Rio. Um dos idealizadores do Bolsa Família, Henriques é secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos e assume, aos 50 anos, o desafio de fazer o Estado dialogar com esses territórios, antes dominados pelo crime. Ele propõe uma "escuta forte" - "sem o democratismo banal, em que todo mundo fala" - e quer o paternalismo longe do projeto, que chama de UPP social e já chegou à Cidade de Deus e à Providência. Em dez dias, começa a fazer um mapa falante nas comunidades, para que os moradores digam quem são e do que precisam.

    O que é UPP social e qual o grande o desafio do projeto?

    RICARDO HENRIQUES: O primeiro passo é entender que a pacificação antecede a UPP social. Ela é pré-condição para uma política de cidadania, ou desenvolvimento social, nesses territórios. UPP social é um processo de coodenação e facilitação entre as necessidades dos territórios pacificados e as possibilidades de ação de governo, da sociedade civil e do setor privado. Há uma enorme fragilidade social nesses territórios. A gente precisa viabilizar o encontro dessas agendas.

    Quando se fala em cidadania, as pessoas tendem a entender a palavra de forma abstrata. O que vocês querem levar para as comunidades pacificadas?

    HENRIQUES: Não tenho nenhuma noção. Não quero idealizar que vamos transformar o território da UPP numa panaceia, no melhor dos mundos. Depois de 20, 30 anos de guerra, há uma dívida enorme. Precisamos fazer esses lugares chegarem a um padrão minimamente regular da cidade. Há gerações, jovens de 20, 25 anos, que não conhecem outra realidade. A missão é, a partir da UPP social, quebrar a ideia de apartação, de cidade partida do (jornalista) Zuenir (Ventura) e, até 2016 (a gente fixou uma data simbólica), ter uma cidade integrada. Mas isso não significa resolver todos os problemas. O marco de seis anos tem a ver com dois processos: o mapa da pacificação, até 2014, mais dois anos de intervalo e as Olimpíadas.

    Depois de anos sem serviços essenciais, as reivindicações se restringem a temas emergenciais ou as pessoas têm clareza sobre outras necessidades?

    HENRIQUES: Precisamos de uma escuta forte. Não é aquela coisa de democratismo banal, com todo mundo falando. É uma visão muito atenta, mas produtora de engajamento. Na primeira reunião do fórum na Cidade de Deus, com 120 pessoas, as principais demandas eram nas áreas de saúde e educação. Lá existem 12, 13 escolas, mas nenhuma de ensino médio. Os meninos e as meninas têm que ir para a Barra ou Jacarepaguá para estudar. Já na Providência, o mesmo exercício teve resultado totalmente diferente: a preocupação era sinalização para a entrada de veículos no morro. Quando fizemos os dez mapas etnográficos das comunidades ocupadas, vimos que há fragilidades comuns, mas percepções e demandas singulares.

    Qual é o déficit de serviços?

    HENRIQUES: Tem um padrão grande que é de déficit de serviços sociais básicos, água luz, lixo e esgoto. A questão da luz foi uma experiência interessante no Santa Marta. Estamos trabalhando junto com a Light, agora, na Providência. Está em discussão a forma de fazer a provisão de luz, a uma tarifa subsidiada, em que todo mundo passe a ser adimplente. Como havia o gato, a percepção é que os valores, mesmo subsidiados, são altos.

    Como é administrar esta mudança cultural no padrão de consumo?

    HENRIQUES: É tudo uma agenda de direitos e deveres. Uma das dimensões que mais explicam o processo de favelização e precarização é a informalidade. No PAC do Alemão, constatou-se que há mais ou menos sete mil estabelecimentos comerciais, 90% deles informais. Formalizar é fundamental, mas necessita de uma regra de transição. Caso contrário, eu quebro esta economia. No caso da luz, eu tenho que ter consciência de que a tarifa vai ser menor do que em outras áreas da cidade, mas será preciso aprender a consumir. Parte da classe média do Rio de Janeiro, durante o apagão, teve que mudar seu padrão de consumo. Qual o sentido de todo mundo ficar com o ar condicionado a mil, 24 horas por dia, com janela aberta? Mas esse aprendizado não vai acontecer em seis meses ou um ano. É precipitado para uma história de 20 anos.

    E o gatonet?

    HENRIQUES: Fizemos grandes inovações. Uma operadora passou a cobrar R$ 44,90 num pacote com 90, cem canais. É um programa focado exclusivamente nas UPPs. Não se trata de responsabilidade social, é negócio. O empresário quer entrar nos segmentos E, D e C. Já estamos com 600 assinaturas.

    Não quero idealizar que vamos transformar o território da UPP numa panaceia, no melhor dos mundos. Depois de 20, 30 anos de guerra, há uma dívida enorme

    No campo dos direitos, qual é a principal meta?

    HENRIQUES: Uma questão fundamental é a formalização. Formalizar negócios. Estamos atuando com o Sebrae e a prefeitura, com o projeto Empresa Bacana. No primeiro dia na Cidade de Deus foram formalizados quase 200 negócios. Hoje já são 330 com alvará e CNPJ. Há uma estimativa, não oficial, de que lá existam 800 negócios. É só abrir o espaço para a formalização que as pessoas voluntariamente vão ao encontro disso. Além disso, quando a gente sai da guerra, depara-se com déficits civis, além dos econômicos e sociais. Não há um sistema de regras. Esses lugares estavam sem República. Oscilavam entre um Estado totalmente autoritário ou a anarquia. Era a anarquia do "dane-se, vire-se" ou autoritarismo que, como um juiz, decidia as punições. Há casos de brigas de casal em que as mulheres eram obrigadas a raspar a cabeça por ordem do tráfico ou da milícia.

    A questão dos direitos e deveres se aplica não se aplica à questão do baile funk?

    HENRIQUES: A República tem que levar um sistema de regras e leis que vão desde a oferta de serviços básicos até questões sobre o limite do som, e o ícone disso são os bailes funks. Quem decide? Quem arbitra as regras? Só o jovem ou os avós e as crianças também? O policial da UPP tem voz nisso ou não? No Tabajaras, depois de intensa discussão, já foram realizados três bailes. Entendemos que se criminalizou o baile funk de forma arbitrária. O tráfico se apropriou desta linguagem, mas não faz nenhum sentido a proibição. Esta posição está consensuada entre a área social e da segurança. A gente usa uma expressão chave, que é "vamos combinar". Vamos combinar qual é a responsabilidade do governo, do morador e do setor privado? Estamos acordados, combinados? Então, vamos fazer.

    Como se criam as condições para se estabelecer estas regras?

    HENRIQUES: As regras têm que ter uma enorme capacidade de bom senso. Se, além do alvará e do CNPJ, por exemplo, eu entrar nas empresas com avaliação de vigilância sanitária, que não passa nem no Leblon, eu não vou estar formalizando, mas quebrando os negócios. É uma transição. Ao mesmo tempo, só formalizando teremos uma integração real com a cidade. No Chapéu Mangueira e na Babilônia, os próprios moradores propuseram a criação do "Alto Leme". Se você formaliza negócios e estimula o turismo ecológico e gastronômico no Chapéu Mangueira, que tem uma das vistas mais interessantes do mundo, de onde você vê a Praia do Leme, o Morro da Urca todo e o bondinho, por que a juventude do Rio de Janeiro não iria até lá?

    Os jovens são um problema ainda mais delicado, devido à herança do tráfico. Qual será a abordagem?

    HENRIQUES: Os donos do morro foram embora, mas ficou o jovem que estava na endolação, que ia para a escola e tirava uma grana enrolando baseado. Precisamos ter um projeto sedutor para ele, que vivia numa rede de poder perverso. Era quem carregava o fuzil que ficava com a menina mais bonita do morro. A juventude desses locais tem um perfil curioso. O jovem tem grandes fragilidades, como baixíssima escolaridade, mas uma grande capacidade de iniciativa, de trabalhar em equipe e de fazer que os outros trabalhem, tudo o que o mercado de trabalho valoriza hoje. E aprenderam tudo isso no mundo do tráfico, da ilegalidade. Além da mediação de conflitos, a Casa da Justiça, que também vai começar em breve, vai focar no potencial desses jovens.

    Tem gente que acha que a UPP social demorou a acontecer, que poderia ter sido criada simultaneamente ao projeto de pacificação.

    HENRIQUES: Eu penso que era um processo de aprendizado. O secretário (de Segurança, José Mariano) Beltrame foi percebendo que os jovens capitães, que estão à frente das UPPs, começaram a ficar sobrecarregados com demandas que nada tinham a ver com a segurança.

    Como são constituídas as equipes da UPP social?

    HENRIQUES: Cada favela tem um coordenador, três assistentes e dez jovens universitários. A nossa verba é mais para pessoal. Ser leve é fundamental. Se eu produzir uma burocracia, se precisar de um prédio, equipamentos e de um guichê, o negócio se torna inviável.

    Quando a UPP social estará em todas as favelas pacificadas?

    HENRIQUES: Meu sistema de gestão está se expandindo. A meta é estar plenamente em dez comunidades com UPPs até o final do ano. Hoje estamos com a equipe completa na Cidade de Deus, na Providência e, em breve, estaremos no Borel.

    O secretário de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos, Ricardo Henriques, dá entrevista em seu gabinete sobre as UPPs Sociais - Foto de André Teixeira / Agência O Globo

    Como medir a eficácia do projeto?

    HENRIQUES: Criamos recentemente a Câmara de Gestão Municipal da UPP Social, porque há uma forte agenda pública da prefeitura. Também estamos formatando um conjunto de indicadores que vai dizer qual é o salto que estamos dando e em que estágio a gente está na provisão de serviços. A UPP social é transitória. Ela tende a acabar quando a gente sair da condição extraordinária de guerra para uma situação regular de integração com a cidade.

    Quais são as novidades que vêm pela frente?

    HENRIQUES: Dentro de dez dias, vamos começar a fazer o mapa falante, em parceria com uma ONG. Vamos para cada comunidade levantar a estrutura disponível e a oferta de serviços públicos. A ideia é saber coisas como os trajetos das pessoas, os equipamentos disponíveis, quais são as áreas de socialização e até por onde os jovens andam, a taxa de incidência de doenças. Chamamos de mapa falante porque você capta as informações a partir da própria narrativa dos moradores, que vão construir a cartografia do local.

    Já imaginou quanto tempo levará até reverter o quadro social das favelas do Rio que eram dominadas pelo tráfico?

    HENRIQUES: Seria muito leviano dar um chute. É muito interessante, depois de dois meses, ver como as coisas estão andando muito mais rápido do que o esperado. O domínio da guerra submeteu as pessoas, inclusive seus horizontes temporais. Os jovens, com a possibilidade concreta de morte, tinham as expectativas muito reduzidas, presentificadas. O que cria um grande otimismo é ver que o represamento todo da guerra criou uma enorme dor e fragilidade, mas o oxigênio reposicionou o cenário. A vontade de viver uma vida de qualidade é maior. E, na medida que a UPP começou, o discurso da classe média do Rio também mudou. Se havia ceticismo e fatalismo, hoje todos querem cooperar. A responsabilidade do Estado é ainda maior. A ausência era decorrência da guerra e, com o fim dela, esta ausência fica nua. Não dá para ficar na pauta antiga do século 20, precisamos ir rapidamente para o século 21. Precisamos ser eficientes e coordenados. Chega da antiga amarra patrimonialista, politiqueira e cheia de bolor.