sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Delegada é afastada

CORREIO BRAZILIENSE


Corregedora da Polícia Civil disse que menina de 16 anos violentada em uma delegacia de Abaetetuba, no Pará, "provocou" os presos


Acusada de proteger os policiais que atuavam na delegacia em que uma menor de 16 anos foi violentada por presos, a corregedora da Polícia Civil do Pará, Liane Paulino, foi afastada ontem do comando do inquérito que apura a responsabilidade de nove delegados que fizeram revezamento de plantões onde a jovem esteve presa por 27 dias. O afastamento foi determinado pela governadora do Pará, Ana Júlia Carepa (PT), que ficou indignada com um relatório parcial, assinado por Liane, afirmando que a menina foi estuprada porque "provocava" os detentos. Essa não é a primeira vez que a polícia paraense tenta responsabilizar a jovem pela barbárie sofrida na delegacia. Na semana passada, o chefe da Polícia Civil, Raimundo Benassuly, teve que se afastar do cargo porque disse no Senado que ela teria algum tipo de debilidade mental por omitir a informação de que tem menos de 18 anos.



Ontem, no primeiro dia em que atuou em Belém, a CPI do Sistema Carcerário ouviu presos, policiais, agentes carcerários e promotores de Justiça. A principal conclusão do deputado Neucimar Fraga (PR-ES), presidente da CPI, é de que a polícia paraense está dificultando as investigações. Na segunda-feira, os parlamentares pediram uma lista com o nome de todos os presos que passaram pela cadeia no período em que a jovem esteve presa. A relação foi entregue na terça-feira e ontem os deputados descobriram que o principal acusado de ter estuprado a garota, Beto Junior da Conceição de Castro, 29 anos, não estava na lista. Ele foi preso em flagrante por roubo em agosto e ganhou liberdade em setembro. Em outubro, foi preso novamente pelo mesmo motivo. Durante a segunda prisão, ele estuprou a garota e ainda foi solto no dia 12 de novembro num indulto coletivo concedido pela Secretaria de Justiça do Pará. Dois presos confirmaram os abusos e disseram que era "comum" que até 15 mulheres dividissem celas com os presos.



Para Neucimar, a postura da corregedora é a maior prova de que a polícia paraense é corporativista. "Ela também insinuou que a vítima teria problemas psiquiátricos por não ter dito que era menor de idade", ressaltou o deputado. Segundo ele, todos os depoimentos prestados até agora por policiais foram "vazios e corporativistas". "Já os agentes penitenciários ouvidos ontem, Benedito Amaral e Marcos Serrão, disseram que não sabiam que a garota estava sendo violentada. Na minha opinião, isso é uma tentativa de maquiar o caso", concluiu Neucimar.



Juíza


Hoje, a CPI vai ouvir, no Tribunal de Justiça do Pará, a juíza Clarice Maria de Andrade, que teria recebido no dia 5 de novembro um pedido para que a jovem fosse transferida da cadeia masculina para uma penitenciária feminina. A solicitação foi assinada pelo superintendente da Polícia Civil no Baixo Tocantins, Antônio Botelho da Cunha, que está afastado do cargo. Acusada de rasurar documentos para não assumir a responsabilidade de que sabia que a garota estava entre presos, Maria Clarice está sendo investigada pela Corregedoria Nacional de Justiça. Na quarta-feira, o corregedor de Justiça das Comarcas do Interior no Pará, desembargador Constantino Guerreiro, recomendou ao Conselho Superior de Magistratura do Tribunal de Justiça do estado o afastamento de Clarice Maria e de dois funcionários do Fórum de Abaetetuba.


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