JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Londrina
A Justiça do Paraná determinou a prisão de seis pessoas acusadas de envolvimento no conflito que terminou com a morte de um sem-terra e de um segurança particular em unidade da multinacional Syngenta Seeds, em Santa Tereza do Oeste (541 km de Curitiba).
No último dia 21 de outubro, o sem-terra Valmir Mota de Oliveira, o Keno, e o segurança Fábio Ferreira, da empresa NF Segurança, contratada pela Syngenta, morreram em confronto armado entre seguranças e militantes da Via Campesina e do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) durante tentativa de invasão da unidade.
Ao todo, 19 pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público do Estado por participação no caso --o dono da NF, nove seguranças da empresa, o presidente da Sociedade Rural do Oeste do Paraná e oito sem-terra. Tanto os sem-terra como os seguranças são acusados de crimes como formação de quadrilha, homicídio e lesões corporais graves e leves.
O dono da NF Segurança, três seguranças da empresa e dois líderes sem-terra tiveram as prisões decretadas, sob justificativa de manutenção da ordem pública e conveniência da instrução criminal. Dois seguranças e o dono da empresa foram presos hoje.
O segurança Rodrigo Ambrósio, apontado como o autor do disparo contra Keno, e os líderes sem-terra Celso Barbosa e Célia Lourenço eram considerados foragidos até o final da tarde de hoje.
Barbosa, que está na Indonésia, em congresso da Via Campesina, é apontado pela Promotoria como responsável pela morte do segurança Ferreira. Nenhum funcionário da Syngenta é acusado na denúncia do Ministério Público.
A Polícia Civil do Paraná havia pedido apenas as prisões do dono da NF e dos seguranças. O Ministério Público decidiu denunciar os sem-terra por entender que o confronto ocorreu por disputa ideológica, e não pela posse da área para reforma agrária.
O presidente da Sociedade Rural do Oeste do Paraná, Alessandro Meneghel, foi denunciado por formação de quadrilha e "exercício arbitrário das próprias razões".
Segundo a promotora Fernanda Garcez, as apurações indicaram conexão entre o confronto na Syngenta com a retirada, à força, de sem-terra da fazenda Gaspareto, em Lindoeste (oeste do PR), em abril. Meneghel teria contratado uma milícia armada para o despejo.
A NF Segurança sofre ainda uma investigação administrativa da Polícia Federal. As investigações que ensejaram a denúncia contra seu dono, Nerci de Freitas, apontaram que a empresa usava armas proibidas e contratava pessoas sem treinamento específico para a função, logo inabilitadas para o serviço de segurança privada.
Outro lado
A denúncia do Ministério Público sobre o episódio na Syngenta Seeds, acatada pela Justiça, provocou críticas hoje dos dois lados em disputa no oeste do Paraná.
Em nota, a Via Campesina acusou a Promotoria de "criminalizar trabalhadores vítimas de um ataque". Afirmou ainda que há inversão de papéis no caso, "onde camponeses atacados estão sendo levianamente processados e acusados de violentos".
O presidente da Sociedade Rural do Oeste do Paraná, Alessandro Meneghel, disse que a defesa contra invasões de terra não é crime. "É um absurdo que eu seja denunciado por defender os direitos dos proprietários. Eu não esperava ser denunciado pelo Ministério Público. Pela polícia eu sabia que seria [indiciado], pois o governo do Paraná dá cobertura a esses invasores", disse.
Meneghel disse que a NF Segurança foi contratada pela Sociedade Rural do Oeste do Paraná para fazer segurança de uma exposição agropecuária organizada por sua entidade. "Não temos nada a ver com o confronto que houve na unidade da Syngenta."
A reportagem não conseguiu localizar representantes da NF Segurança hoje.
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